quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A velha e a Nova Cruz

Sem fazer-se anunciar e quase despercebida uma nova cruz introduziu-se nos círculos evangélicos dos tempos modernos. Ela se parece com a velha cruz, mas é diferente; as semelhanças são superficiais; as diferenças, fundamentais.

Uma nova filosofia brotou desta nova cruz com respeito à vida cristã, e desta nova filosofia surgiu uma nova técnica evangélica – um novo tipo de reunião e uma nova espécie de pregação. Este novo evangelismo emprega a mesma linguagem que o velho, mas o seu conteúdo não é o mesmo e sua ênfase difere da anterior.

A velha cruz não fazia aliança com o mundo. Para a carne orgulhosa de Adão ela significava o fim da jornada, executando a sentença imposta pela lei do Sinai. A nova cruz não se opõe à raça humana; pelo contrário, é sua amiga íntima e, se compreendermos bem, considera-a uma fonte de divertimento e gozo inocente. Ela deixa Adão viver sem qualquer interferência. Sua motivação na vida não se modifica; ela continua vivendo para seu próprio prazer, só que agora se deleita em entoar coros e a assistir filmes religiosos em lugar de cantar canções obcenas e tomar bebidas fortes. A ênfase continua sendo o prazer, embora a diversão se situe agora num plano moral mais elevado, caso não o seja intelectualmente.

A nova cruz encoraja uma abordagem evangelística nova e por completo diferente. O evangelista não exige a renúncia da velha vida antes que a nova possa ser recebida. Ele não prega contrastes mas semelhanças. Busca a chave para o interesse do público, mostranto que o cristianismo não faz exigências desagradáveis; mas, pelo contário, oferece a mesma coisa que o mundo, somente num plano superior. O que quer que o mundo pecador esteja idolizando no momento é mostrado como sendo exatamente aquilo que o evangelho oferece, sendo que o produto religioso é melhor.

A nova cruz não mata o pecador, mas dá-lhe nova direção. Ela o faz engrenar em um modo de vida mais limpo e agradável, resguardando o seu respeito próprio. Para o arrogante ela diz: "Venha e mostre-se arrogante a favor de Cristo"; e declara ao egoísta: "Venha e vanglorie-se no Senhor". Para o que busca emoções, chama: "Venha e goze da emoção da fraternidade cristã". A mensagem de Cristo é manipulada na direção da moda corrente a fim de torná-la aceitável ao público.

A filosofia por trás disso pode ser sincera, mas na sua sinceridade não impede que seja falsa. É falsa por ser cega, interpretando erradamente todo o significado da cruz.

A velha cruz é um símbolo da morte. Ela representa o fim repentino e violento de um ser humano. O homem, na época romana, que tomou a sua cruz e seguiu pela estrada já se despedira de seus amigos. Ele não mais voltaria. Estava indo para seu fim. A cruz não fazia acordos, não modificava nem poupava nada; ela acabava completamente com o homem, de uma vez por todas. Não tentava manter bons termos com sua vítima. Golpeava-a cruel e duramente e quando terminava seu trabalho o homem já não existia.

A raça de Adão está sob sentença de morte. Não existe comutação de pena nem fuga. Deus não pode aprovar qualquer dos frutos do pecado, por mais inocentes ou belos que pareçam aos olhos humanos. Deus resgata o indivíduo, liquidando-o e depois ressucitando-o em novidade de vida.

O evangelismo que traça paralelos amigáveis entre os caminhos de Deus e os do homem é falso em relação à bíblia e cruel para a alma de seus ouvintes. A fé manifestada por Cristo não tem paralelo humano, ela divide o mundo. Ao nos aproximarmos de Cristo não elevamos nossa vida a um plano mais alto; mas a deixamos na cruz. A semente de trigo deve cair no solo e morrer.

Nós, os que pregamos o evangelho, não devemos julgar-nos agentes ou relações públicas enviados para estabelecer boa vontade entre Cristo e o mundo. Não devemos imaginar que fomos comissionados para tornar Cristo aceitável aos homens de negócio, à imprensa, ao mundo dos esportes ou à educação moderna. Não somos diplomatas, mas profetas, e nossa mensagem não é um acordo, mas um ultimato.

Deus oferece vida, embora não se trate de um aperfeiçoamento da velha vida. A vida por Ele oferecida é um resultado da morte. Ela permanece sempre do outro lado da cruz. Quem quiser possuí-la deve passar pelo castigo. É preciso que repudie a si mesmo e concorde com a justa sentença de Deus contra ele.

O que isto significa para o indivíduo, o homem condenado quer encontrar vida em Cristo Jesus? Como esta teologia pode ser traduzida em termos de vida? É muito simples, ele deve arrepender-se e crer. Deve esquecer-se de seus pecados e depois esquecer-se de si mesmo. Ele não deve encobrir nada, defender nada, nem perdoar nada. Não deve procurar fazer acordos com Deus, mas inclinar a cabeça diante do golpe do desagrado severo de Deus e reconhecer que merece a morte.

Feito isto, ele deve contemplar com sincera confiança o salvador ressurreto e receber dEle vida, novo nascimento, purificação e poder. A cruz que terminou a vida terrena de Jesus põe agora um fim no pecador; e o poder que levantou Cristo dentre os mortos agora o levanta para uma nova vida com Cristo.

Para quem quer que deseje fazer objeções a este conceito ou considerá-lo apenas como um aspecto estreito e particular da verdade, quero afirmar que Deus colocou o seu selo de aprovação sobre esta mensagem desde os dias de Paulo até hoje. Quer declarado ou não nessas exatas palavras, este foi o conteúdo de toda pregação que trouxe vida e poder ao mundo através dos séculos. Os místicos, os reformadores, os revivalistas, colocaram aí a sua ênfase, e sinais, prodígios e poderosas operações do Espírito Santo deram testemunho da operação divina.

Ousaremos nós, os herdeiros de tal legado de poder, manipular a verdade? Ousaremos nós com nossos lápis grossos apagar as linhas do desenho ou alterar o padrão que nos foi mostrado no Monte? Que Deus não permita! Vamos pregar a velha cruz e conhecermos o velho poder.

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Fonte: O Melhor de A. W. Tozer, Editora Mundo Cristão, pg 151 a 153.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O Devocional Diário

Pr. Luciano Subirá

Cresci num lar cristão e aprendi sobre a importância de se manter um período devocional diário com Deus. Tanto por preceitos, como pelo exemplo de meus pais, soube desde criança que devemos cultivar este tempo à parte com o Senhor. Há algo poderoso por trás desta prática, como estaremos analisando. Mas preciso admitir que mesmo aprendendo que todo cristão deva ter seu período devocional com Deus, falhei centenas e centenas de vezes no que diz respeito a isto.

Falhei em períodos em que não estive tão intensamente envolvido com Deus e seu reino, mas falhei também depois de estar bem comprometido com o Senhor e ministerialmente amadurecido. Portanto, quero iniciar nossa reflexão declarando que nem sempre erramos por falta de conhecer determinados princípios bíblicos, mas muitas vezes por mera falta de disciplina.

Sei que a maioria dos crentes de hoje não costuma investir diariamente num período de devoção com Deus. Muitos cometem este erro por falta de ensino e esclarecimento, outros por falta de cobrança e estímulo e, claro, há ainda aqueles que erram por pura negligência. Não quero me dirigir a um ou outro grupo em separado, mas aos três.

Aos que conhecem a base bíblica deste princípio, convido-os a reverem aquilo que um dia aprenderam e dedicar-se à prática. Aos que estão recebendo este ensino pela primeira vez, apelo para que absorvam estes princípios e passem a vivê-los. Quanto aos deliberadamente negligentes, espero que se arrependam e também ordenem seus passos nesta área.

Precisamos compreender o valor e resultados provenientes do devocional diário. Então seremos estimulados a trazê-lo para a experiência diária. E ao fazê-lo, entraremos numa dimensão mais profunda de intimidade com o Senhor.

Deus espera que o busquemos todos os dias. Isto parece ficar bem claro na oração-modelo que Jesus nos ensinou: "...o pão nosso de cada dia nos dá hoje..." (Mt.6;11). Jesus ensinou a nos colocarmos diariamente diante do Pai Celeste e buscar sua provisão para aquele dia.

E quanto ao dia seguinte? Devemos voltar a buscar ao Senhor a cada novo dia. Cristo declarou: "Portanto não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal." (Mt.6:34).

Mesmo sendo ensinados a depender de Deus para nossa provisão, o que percebemos é que o caminho bíblico proposto é ir a Ele em oração diariamente. E que as respostas divinas vêm em cotas "diárias", não mais do que isto. Há uma relação entre este ensino do Senhor Jesus e o que ocorreu nos dias de Moisés quanto ao maná, o pão do céu.

Depois que a nação de Israel deixou o Egito, e saiu pelo deserto, em direção a Canaã, viu-se em dificuldades para ter seu próprio alimento, uma vez que, em viagem, não tinham tempo nem condições para plantar e colher. E começaram a murmurar contra Deus e contra Moisés. E o relato bíblico nos revela o que aconteceu:

"Então o Senhor disse a Moisés: eis que vos farei chover do céu pão, e o povo sairá, e colherá diariamente a porção para cada dia, para que eu ponha à prova se anda na minha lei ou não."
Êxodo 16:4

A cada novo dia os israelitas tinham que se levantar em busca do pão. Deus queria que fosse exatamente assim.

"Disse-lhes Moisés: Ninguém deixe dele para a manhã seguinte. Eles, porém, não deram ouvidos a Moisés, e alguns deixaram do maná para o dia seguinte; porém deu bichos e cheirava mal. E Moisés se indignou contra eles. Colhiam-no, pois, manhã após manhã, cada um quanto podia comer; porque, em vindo o calor, se derretia."
Êxodo 16:19-21

O que temos aqui não é só uma lição de dependência, mas os parâmetros divinos para a forma de seu povo se relacionar com Ele! Parece-nos que era justamente isto que acontecia no Jardim do Éden, onde Deus visitava seus filhos na viração do dia (Gn.3:8).

O plano de Deus para nosso relacionamento com Ele envolve a busca diária. Mas temos uma inclinação a errar justamente aí. É só observar o que ocorreu com os israelitas no deserto: mesmo sendo advertidos para não colher mais do que a porção diária do maná, alguns deles tentaram fazê-lo.

Porquê?

Por puro comodismo, para não precisar levantar cedo e ter o mesmo trabalho no dia seguinte, uma vez que quando o sol se levantava, o maná derretia. A humanidade vive procurando atalhos para todas as coisas.
Como diminuir o serviço e tornar tudo mais cômodo parece ser uma das áreas em que mais vemos progresso e avanços tecnológicos!

A idéia é simplificar tudo o que for possível. As crianças de hoje só usam fraldas descartáveis; temos o freezer e o microondas; a embalagem longa vida; o telefone celular, e uma infinidade de outras coisas que foram inventadas em nome da praticidade. E não estou reclamando. Eu, como a maioria, gosto disto.
Mas temos transportado esta idéia para o nosso relacionamento com Deus. Isto ocorre desde o início da humanidade. Os israelitas demonstraram estar dentro deste mesmo tipo de pensamento quando acharam que poderiam "driblar" a regra da busca diária. E nós também continuamos presos à mesma forma de pensar, milhares de anos depois.

Não há meios de se trabalhar com estoque, no que diz respeito à presença de Deus. Devemos buscá-lo a cada novo dia. O que experimentamos dele num dia, não servirá para o dia seguinte. Este princípio aparece muito na simbologia bíblica. Através do profeta Jeremias o Senhor repreendeu seu povo por não praticar um princípio essencial no relacionamento com Ele: o de reconhecê-lo como manancial de águas vivas.


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Nós Nos Tornamos Naquilo Que Amamos


Por A. W. Tozer


Estamos todos num processo de transformação. Já saímos daquilo que éramos e chegamos a esta posição onde estamos; agora estamos caminhando para aquilo que seremos.

Saber que nosso caráter não é sólido e imutável e, sim, flexível e maleável não é, em si, uma idéia que incomoda. De fato, a pessoa que conhece a si mesma pode receber grande consolo ao compreender que não está petrificada no seu estado atual; que é possível deixar de ser aquilo que se envergonha de ter sido até então; e que pode caminhar em direção à transformação que seu coração tanto almeja.

O que perturba não é o fato de estarmos em transformação, e sim no quê estamos nos tornando; não é problema o estarmos em movimento, precisamos saber para onde estamos nos movendo. Pois não está na natureza humana mover-se num plano horizontal; ou estamos subindo ou descendo, alçando vôo ou afundando. Quando um ser moral (com o poder de escolha) se desloca de uma posição a outra, necessariamente é para o melhor ou para o pior.

Isto é confirmado por uma lei espiritual revelada no Apocalipse: "Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se" (Ap 22.11).

Não só estamos todos num processo de transformação, mas estamos nos tornando naquilo que amamos. Em grande medida, somos a somatória de tudo que amamos e, por necessidade moral, cresceremos na imagem daquilo que mais amamos; pois o amor, entre outras coisas, é uma afinidade criativa; muda, molda, modela e transforma. É sem dúvida o mais poderoso agente que afeta a natureza humana depois da ação direta do Espírito Santo dentro da alma.

O objeto do nosso amor, então, não é um assunto insignificante a ser desprezado. Pelo contrário, é de importância atual, crítica e permanente. É profético do nosso futuro. Mostra-nos o que seremos e, desta forma, prediz com precisão nosso destino eterno.

Amar objetos errados é fatal para o crescimento espiritual; torce e deforma a vida e torna impossível a imagem de Cristo se formar na alma humana. É somente quando amamos as coisas certas que nós mesmos podemos estar certos; e é somente enquanto continuamos amando-as que podemos nos deslocar lenta, mas firmemente, em direção aos objetos da nossa afeição purificada.

Isto nos dá em parte (e somente em parte) uma explicação racional para o primeiro e grande mandamento: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento" (Mt 22.37).

Tornar-se semelhante a Deus é, e precisa ser, o supremo objetivo de toda criatura moral. Esta é a razão da sua criação, a finalidade sem a qual não existiria nenhuma desculpa para sua existência. Deixando de fora, no momento, aqueles estranhos e belos seres celestiais a respeito dos quais conhecemos tão pouco (os anjos), concentraremos nossa atenção na raça caída da humanidade. Criados originalmente na imagem de Deus, não permanecemos no nosso estado original, deixamos nossa habitação apropriada, ouvimos os conselhos de Satanás e andamos de acordo com o curso deste mundo e com o espírito que agora opera nos filhos da desobediência.

Mas Deus, que é rico em misericórdia, com seu grande amor com que nos amou, mesmo quando estávamos mortos em nossos pecados, proveu-nos expiação. A suprema obra de Cristo na redenção não foi salvar-nos do inferno, mas restaurar-nos à semelhança de Deus, ao propósito declarado em Romanos 8: "Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho" (Rm 8.29).

Embora a perfeita restauração à imagem divina aguarda o dia do aparecimento de Cristo, a obra da restauração está em andamento agora. Há uma lenta, porém firme, transmutação do vil e impuro metal da natureza humana para o ouro da semelhança divina, que ocorre quando a alma contempla com fé a glória de Deus na face de Jesus Cristo ( 2 Co 3.18).

Supremo Amor a Deus

Neste ponto, seria proveitoso antecipar uma dificuldade e tentar esclarecê-la. É a questão que surge de um conceito errado sobre o amor. Este conceito errado pode ser definido mais ou menos assim: O amor é volúvel, imprevisível e quase totalmente fora do nosso controle. Surge espontaneamente e tanto pode perdurar como apagar-se sozinho. Como, então, podemos controlar nosso amor? Como podemos direcioná-lo para objetos mais ou menos dignos? E, especialmente, como podemos obrigá-lo a focalizar-se em Deus como o objeto apropriado e permanente da sua devoção?

Se o amor fosse, de fato, imprevisível e além do nosso controle, estas perguntas não teriam respostas satisfatórias e nossa perspectiva seria desoladora. A simples verdade, entretanto, é que o amor espiritual não é esta emoção caprichosa e irresponsável que as pessoas pensam erroneamente que é. O amor é servo da nossa vontade e sempre terá de ir para onde for enviado e fazer o que lhe foi ordenado.

A expressão romântica "apaixonar-se" nos deu a noção que somos obrigatoriamente vítimas das flechas do Cupido e que não podemos ter controle algum sobre nossos sentimentos. Os jovens hoje esperam se apaixonar e ser arrebatados por uma tempestade de emoções deliciosas. Inconscientemente, estendemos este conceito de amor à nossa relação com o Criador e nos perguntamos: Como podemos nos obrigar a amar a Deus acima de todas as coisas?

A resposta a esta pergunta, e a todas as outras relacionadas a ela, é que o amor que temos por Deus não é o amor do sentir, mas o amor do querer. O amor está dentro do nosso poder de escolha, de outra forma não teríamos na Bíblia a ordem de amar a Deus, nem teríamos de prestar contas por não amá-lo.

A mistura do ideal de amor romântico com o conceito de como nos relacionar com Deus foi extremamente prejudicial às nossas vidas cristãs. A idéia de que é necessário "apaixonar-se" por Deus, como algo passivo da nossa parte, fora do nosso controle, é uma atitude ignóbil, antibíblica, indigna da nossa parte e que certamente não traz honra alguma ao Deus Altíssimo. Não chegamos ao amor por Deus através de uma repentina visitação emotiva. O amor por Deus vem do arrependimento, de um desejo de mudar o rumo da vida e de uma determinação resoluta de amá-lo. À medida que Deus entra de maneira mais completa no foco do nosso coração, nosso amor por ele pode, de fato, expandir-se e crescer dentro de nós até varrer, qual enchente, tudo que estiver à sua frente.

Mas não devemos esperar por esta intensidade de sentimento. Não somos responsáveis por sentir, somos responsáveis por amar, e o verdadeiro amor espiritual começa com o querer. Devemos fixar nosso coração para amar a Deus acima de todas as coisas, por mais frio ou duro que este possa estar, e depois confirmar nosso amor através de cuidadosa e alegre obediência à sua Palavra. Emoções prazerosas certamente seguirão. Cânticos de passarinhos e flores não produzem a primavera, mas quando a primavera chega todos estes sinais a acompanharão.

Agora, apresso-me em negar qualquer identificação com a idéia popular de salvação por esforço humano ou força de vontade. Estou radicalmente oposto a toda forma de doutrina, com "capa" cristã, que ensina a depender da "força latente dentro de nós", ou a confiar em "pensamento criativo" no lugar do poder de Deus. Todas estas filosofias infundadas falham exatamente no mesmo ponto – por presumirem erroneamente que a correnteza da natureza humana possa ser levada a voltar e subir as cataratas no sentido contrário. Isto é impossível. "A salvação vem do Senhor".

Para ser salvo, o homem perdido precisa ser alcançado pelo poder de Deus e elevado a um nível superior. Precisa haver uma transmissão de vida divina no mistério do novo nascimento, antes de poder aplicar à sua vida as palavras do apóstolo: "E todos nós, que com a face descoberta contemplamos a glória do Senhor, segundo a sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é o Espírito" (2 Co 3.18, NVI).

Ficou estabelecido aqui, espero, que a natureza humana está num processo de formação e que vai progressivamente se transformando na imagem daquilo que ama. Homens e mulheres são amoldados por suas afeições e poderosamente afetados pelo desenho artístico daquilo que amam. Neste mundo adâmico e caído, isto produz diariamente tragédias de proporções cósmicas. Pense no poder que transformou um garotinho inocente, de bochechas rosadas, num Nero ou num Hitler. E Jezabel, será que sempre foi a mulher maldita cuja cabeça nem os cachorros quiseram comer? Não! No princípio, ela também sonhou com a pureza de uma garotinha e se enrubescia ao pensar no amor sentimental; mas logo ficou atraída por coisas perversas, admirava-as e finalmente passou a amá-las. Aí a lei da afinidade moral tomou conta e Jezabel, como argila na mão do oleiro, se tornou aquele ser deformado e odioso que os eunucos jogaram pela janela (2 Rs 9.30-37).

Objetos Morais Dignos do Nosso Amor

Nosso Pai celestial proveu para seus filhos objetos morais e dignos de serem admirados e amados. São para Deus como as cores no arco-íris em volta do trono. Não são Deus, porém estão mais próximos a Deus; não podemos amá-lo sem amar estas coisas e à medida que as amarmos, seremos capacitados a amá-lo ainda mais. Quais são elas?

A primeira é justiça. Nosso Senhor Jesus amava justiça e odiava iniqüidade (Hb 1.9). Por esta razão, Deus o ungiu com o óleo da alegria acima de todos seus companheiros. Aqui temos um padrão definido. Amar implica também em odiar. O coração atraído à justiça será repelido pela iniqüidade no mesmo grau de intensidade; esta repulsão moral é ódio. A pessoa mais santa é aquela que mais ama a justiça e que odeia o mal com o ódio mais perfeito.

Depois vem a sabedoria. Temos a palavra "filosofia", que vem dos gregos e significa o amor à sabedoria; porém os profetas hebreus vieram antes dos filósofos gregos e seu conceito de sabedoria era muito mais elevado e espiritual do que qualquer coisa que se conhecesse na Grécia. A literatura da sabedoria no Velho Testamento – Provérbios, Eclesiastes e alguns dos Salmos – pulsa com um amor à sabedoria desconhecido até por Platão.

Os escritores do Velho Testamento colocam a sabedoria num plano tão elevado que às vezes mal conseguimos distinguir a sabedoria que vem de Deus da sabedoria que é Deus. Os hebreus anteciparam por alguns séculos o conceito grego de Deus como a essência da sabedoria, embora seu conceito da sabedoria fosse mais moral do que intelectual. Para os hebreus, o homem sábio era o homem bom e piedoso, e sabedoria na sua maior nobreza era amar a Deus e guardar seus mandamentos. O pensador hebreu não conseguia separar sabedoria de justiça.

Um outro objeto para o amor cristão é a verdade. Aqui também teremos dificuldade em separar a verdade de Deus da sua pessoa. Cristo disse: "Eu sou a verdade", e ao dizer isso, uniu verdade com a divindade de forma indissolúvel. Amar a Deus é amar a verdade, e amar a verdade com ardor constante é crescer em direção à imagem da verdade e afastar-se da mentira e do erro.

Não é necessário tentar relacionar todas as outras coisas boas e santas que Deus aprovou como nossos modelos. A Bíblia as coloca diante de nós: misericórdia, bondade, pureza, humildade, compaixão e muitas outras, e aqueles que forem ensinados pelo Espírito saberão o que fazer a respeito delas.

Em síntese, devemos amar e cultivar interesse em tudo que é moralmente belo. Foi por isto que Paulo escreveu aos filipenses: "Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas" (Fp 4.8).

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Fonte: Extraído do livro God Tells the Man Who Cares (Deus Conta ao Homem Que se Importa), de A. W. Tozer.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Vasos de Barro

Prof. Anísio Renato de Andrade


Os escritores bíblicos utilizaram muitas figuras para transmitir ensinamentos espirituais. Utensílios domésticos, como os vasos de barro, foram citados inúmeras vezes. Objetos assim, presentes em todas as casas, tornavam-se bons recursos didáticos, facilitando a compreensão de muitas lições para todos os ouvintes e leitores.


Em muitos textos, o homem é comparado ao vaso, visto que ambos são feitos do barro (Sal.31.12; Jr.22.28; 51.34). Em outros, a própria nação de Israel é representada dessa forma (Jr.18.1-6; 19.1,10,11; Is.30.14. Os.8.8). O oleiro se torna uma figura do próprio Deus.


"Ó Senhor, tu és nosso Pai; nós o barro e tu o nosso oleiro; e todos nós a obra das tuas mãos". (Is.64.8).


O apóstolo Paulo citou os vasos algumas vezes em suas epístolas. Para ele, todas as pessoas eram ou poderiam vir a ser vasos bons ou ruins (Rm.9.21). Afinal, ele mesmo foi nomeado como um "vaso escolhido" pelo Senhor (At.9.15). Entre suas instruções ao jovem líder Timóteo, lemos: "De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra." (II Tm.2.21).

Tais recipientes eram imprescindíveis no dia-a-dia, sendo usados para guardar desde líquidos até pergaminhos. Todas as pessoas precisavam deles. Da mesma forma, aprendemos que Deus precisa de nós. É estranho dizer que Deus possa precisar de algo ou de alguém, mas isto acontece porque ele mesmo decidiu nos usar em sua obra.


Quando Eliseu operou o milagre da multiplicação do azeite da viúva, ele pediu que se trouxessem muitas vasilhas vazias (IIRs.4). Se fosse hoje, traríamos muitas panelas de alumínio, ou de ferro, mas, naquele tempo, eram vasos de barro. O azeite só parou de jorrar quando os vasos acabaram. Embora Deus pudesse agir de tantas maneiras, ele decidiu usar os vasos que estivessem disponíveis. Assim também, ele deseja nos encontrar à sua disposição para que milagres aconteçam.


O MATERIAL


Nos tempos bíblicos existiam vasos de vários tipos, mas o mais comum era o de barro. Fazer um vaso de pedra seria muito difícil. Fazer um vaso de lama, seria impossível. O barro, porém, com sua consistência e flexibilidade, é o material ideal para o trabalho do oleiro. Deus deseja trabalhar em nosso caráter. Não podemos ser duros como a pedra nem instáveis como a lama. Algumas pessoas são duras, insensíveis, inflexíveis. Não perdoam, não se arrependem, não choram, não mudam, não aprendem. Costumam dizer: "Eu sou assim mesmo, e não vou mudar". Outras são inseguras, volúveis como a lama, que só serve para sujar o lugar onde se encontra. Não podem ser moldadas nem contidas. Mudam de idéia rapidamente. Não têm propósito definido. São sempre imprevisíveis e inconstantes. Com a mesma rapidez com que se convertem, desviam-se.


O barro, entretanto, encontrado no melhor equilíbrio entre suas porções de terra e água, torna-se matéria prima para que o oleiro realize sua arte com liberdade e satisfação. Precisamos aceitar o trabalho de Deus em nós, recebendo de bom grado o que sabemos ser a sua vontade para as nossas vidas. Não podemos rejeitar o que vem de Deus. Deixando de lado a murmuração, o questionamento e a rebeldia, aceitemos o trabalho do oleiro.


A FABRICAÇÃO


"Desce à casa do oleiro e lá te farei ouvir as minhas palavras." (Jr.18.2).


O barro, que para muitos pode não ter valor, é visto de outra forma pelo oleiro, que nele consegue vislumbrar o objeto que pode ser fabricado. Deus vê em nós tudo aquilo que podemos ser, desde que estejamos em suas mãos. No momento presente, talvez ainda não tenhamos a forma desejada pelo Senhor, mas, se nos deixarmos moldar, a obra iniciada será concluída (Fp.1.6).


Assim como Deus tomou o barro e formou o primeiro homem, ele continua moldando o nosso caráter. O trabalho de suas mãos demonstra dedicação e carinho para conosco. O barro é amassado de todos os lados, recebendo a porção de água necessária para que sua flexibilidade seja mantida. Ele não pode endurecer no meio do processo.


Quantas vezes nos sentimos amassados também? Somos atribulados, provados, pressionados. Estamos sendo moldados. É um processo de transformação para que sejamos o que o Senhor planejou para nós, ainda que não possamos compreender plenamente os seus métodos e propósitos.

Nesse momento, as escórias são retiradas. Todo corpo estranho que houver no barro será removido. Assim também, Deus pode retirar de nós algo que não está lhe agradando. Pode doer. Podemos sentir falta, mas o resultado será muito melhor.


O oleiro é soberano. Somente a sua vontade e o seu bom gosto são determinantes sobre a forma que o vaso terá (Jr.18.4). Não podemos exigir que Deus faça ou deixe de fazer algo.


"Ai daquele que contende com o seu Criador! o caco entre outros cacos de barro! Porventura dirá o barro ao que o formou: Que fazes"? (Is.45.9; Rm.9.20; Is.29.16).


Algumas vezes o vaso se quebra durante a fabricação (Jr.18.4), ou pode ser que o próprio oleiro o quebre por não estar satisfeito com a sua forma. Em seguida, os pedaços são juntados e colocados novamente sobre as rodas. O Senhor não desiste de nós. Se caímos e quebramos, ele nos dá outra oportunidade. Enquanto estivermos neste mundo, ainda podemos ser moldados, conquanto que estejamos nas mãos de Deus. A pessoa que foge rejeita o tratamento. Aqueles que desistem do evangelho, abandonam a igreja, estão resistindo à ação das mãos de Deus. Nunca deixam de estar ao seu alcance, mas podem não se tornar vasos para a honra.


Quando termina a fase de modelagem e o vaso se encontra na forma desejada pelo oleiro, começa a secagem. O vaso é colocado em algum lugar onde deverá ficar o tempo necessário. Ele não está sendo moldado nem utilizado. Parece que foi abandonado e esquecido, mas o oleiro sempre está atento. Não se preocupe. Pode parecer que tudo esteja concluído ou até mesmo perdido, mas não está.


Antes de ser utilizado, o vaso ainda precisa passar pelo fogo para adquirir resistência e impermeabilidade.


"Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse" (IPd.4.12).


Quantas vezes desejamos ser usados pelo Senhor! Queremos estar em constante atividade, mas somos colocados para esperar e passamos por tribulações inexplicáveis. Tudo faz parte do processo de formação.


Moisés, aos 40 anos, queria libertar o seu povo, mas precisou esperar outros 40. José foi vocacionado aos 17 anos, mas somente aos 30 começou a cumprir o seu chamado. Davi, ainda jovem, foi ungido rei de Israel, mas precisou esperar muitos anos para assumir o trono. Entre a vocação e o cumprimento da missão, existe um processo de preparação, sem a qual não estaremos aptos para fazermos o que Deus deseja. Não podemos determinar a duração dessa fase, mas temos certeza quanto à sua ocorrência.


O barro, que precisa ser maleável para ser moldado, não pode continuar flexível depois que o vaso fica pronto. Por isso precisa passar pelo fogo. Quem se converte ao evangelho de Jesus Cristo não pode mais se converter a outra coisa, outra doutrina ou religião. Se já conhecemos o Senhor, precisamos ser resistentes a outros apelos ou às transformações propostas pelo mundo.


A CONDIÇÃO DO VASO


Todo vaso, por melhor que seja, não poderá ser usado se estiver sujo. Não podemos ser usados pelo Senhor para os melhores propósitos se estivermos contaminados. Por isso, precisamos viver em santificação. Se pecarmos, devemos suplicar o perdão, lavando-nos no precioso sangue de Jesus. O vaso precisa estar limpo, por dentro e por fora (Is.66.20). A lei de Moisés determinava que os vasos imundos fossem destruídos (Lv.11.33,35; 15.12). Eram casos extremos de imundícies bem específicas. Os vasos da casa de Deus precisam estar purificados, santificados, idôneos e preparados para toda boa obra (IITm.2.21).


O CONTEÚDO DO VASO.


Encontramos na bíblia muitas referências aos vasos e ao seu conteúdo. Alguns são mencionados contendo água (Num.19.17), outros com azeite (ISm.10.1), vinho (Joel 3.13), perfume (Lc.7.37), maná (Ex.16.33), vinagre (João 19.29), documentos (Jr.32.14) e coisas abomináveis (Is.65.4).


Qual é o nosso conteúdo? Estamos cheios de quê? Quantas vezes, alguém se aproxima de nós, talvez atraído por nossas características exteriores, esperando encontrar água e acha vinagre?


Estamos cheios de pecado? Cheios de amargura, malícia, inveja? Quem não confessa ou não perdoa, guarda o pecado em seu interior.


Para que sejamos usados pelo Senhor para a sua glória, precisamos renunciar a todo o mal que porventura estejamos carregando em nossos corações. Aquele que guarda o rancor deve perdoar. Assim, o vaso se esvazia do que é ruim e pode ser cheio com o que é bom, de modo que venha transbordar.


Quando Paulo escreveu a Timóteo sobre a purificação do vaso (IITm.2.14-26) ele se referia a algumas coisas que precisavam ser evitadas ou eliminadas: contenda (v.14); falatórios vãos (v.16), injustiça (v.19), desejos da mocidade (v.22) e questões insanas (v.23). A lista inclui pecados notórios e alguns itens que parecem não ser tão prejudiciais, tais como os falatórios vãos. Entretanto, são práticas que ocupam nosso tempo, ocupam o espaço no vaso que deveria estar cheio de preciosidades. Paulo recomendou que Timóteo se enchesse com justiça, fé, amor, paz, mansidão, paciência e aptidão para ensinar (v.22 e 24).


A UTILIDADE DO VASO


Encontramos tantas referências bíblicas sobre os vasos, em tantas situações distintas, mas nenhuma delas apresenta o vaso com o propósito ornamental. Não encontramos vasos com plantas ou flores para enfeitar algum ambiente. Os vasos existem para o serviço. Eles precisam conter alguma coisa útil.

O vaso não é apenas receptor, mas recipiente. Ele recebe, guarda, conserva e entrega no tempo certo. Devemos receber a palavra do Senhor em nossos corações. Pela ação do Espírito Santo, ela produzirá poder e unção que fluirá em nossas vidas.


CUIDADOS COM O VASO


Depois de tão difícil processo de formação, o vaso não pode cair. Se isso acontecer, poderá quebrar-se. Ainda que possa ser refeito, muito tempo será perdido e sua utilidade ficará reduzida. Assim acontece com aqueles que fracassam na vida cristã, tornando-se motivo de escândalo.


Quando a bíblia nos compara aos vasos de barro, ela nos exorta à humildade. O próprio termo "humildade" vem de "humus", palavra latina que significa "barro". Que cada um de nós veja a si mesmo de forma simples, sabendo que estamos nas mãos de Deus, dependentes da sua misericórdia.

Mais importante do que o vaso é o seu conteúdo:



"Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós" (IICo.4.7).


Cristo habita em nós, e isto faz com que tenhamos um grande valor. Jamais podemos nos esquecer disso. Se fizermos algo de excelente no reino de Deus, terá sido pelos méritos de Jesus, que operou em nós de modo maravilhoso. Coloque-se nas mãos do oleiro. Ele quer transformá-lo e usá-lo.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Andando sobre as águas

Prof. Anísio Renato de Andrade

Certa vez, Jesus mandou que seus discípulos fossem adiante dele para o outro lado do Mar da Galiléia. Então, o Mestre despediu a multidão e foi ao monte orar (Mateus 14.22). Em princípio, esta não seria uma situação complicada para os 12, porque alguns deles eram pescadores experientes e sabiam navegar muito bem. Além disso, a visibilidade era boa, pois o dia ainda estava claro. Certamente, poderiam atravessar o mar sem que Jesus estivesse com eles.

O início da viagem parece ter sido tranqüilo. Contudo, o tempo passou e a tarde chegou (14.23). De repente, começou uma ventania e o mar ficou bravio (14.24). A noite caiu e eles não conseguiam chegar ao outro lado. Já estavam no meio do mar, mas o vento contrário não os deixava avançar. Viram-se então em apuros, em perigo, correndo risco de naufrágio e morte.

Podemos comparar esta cena às nossas vidas ou algum momento vivido. Temos tantos alvos, propósitos, objetivos. Queremos chegar a algum lugar, alcançar a concretização dos nossos sonhos e projetos. No primeiro momento, pensamos que conseguiremos sozinhos, por conta própria. Afinal, somos fortes, capazes e experientes. Sabemos aonde vamos. Conhecemos a rota, os remos, as velas e a maré. Entretanto, o tempo passa e a tempestade vem. A noite chega e os ventos se tornam contrários. Os impedimentos se multiplicam e muitas forças querem nos impelir na contramão dos nossos planos. Quando procuramos a ajuda dos nossos amigos, vemos que todos estão no mesmo barco e na mesma dificuldade.

No meio do mar revolto, os discípulos perderam o controle da embarcação, que era arremessada pelas ondas de um lado para o outro. Porém, o texto nos diz que, na quarta vigília da noite, depois das 3 horas da madrugada, Jesus foi até eles (Mt.14.25). O Mestre não os abandonou. Vemos naquele versículo a manifestação da misericórdia divina. Todavia, eles podem ter questionado: por quê Jesus demorou tanto? Nossa idéia de tempo é diferente da idéia que Deus tem. Afinal, ele vive na eternidade. Nós vivemos na ansiedade. Queremos tudo imediatamente. Esperar é um sacrifício, principalmente para o homem moderno. Muitas vezes, Deus não nos socorre imediatamente porque ele tem um propósito nisso. É o tempo necessário para valorizarmos mais a sua presença, clamando pelo seu nome em oração. Enquanto isso, esgotam-se as nossas forças, nossos recursos e nossa auto-confiança. Somos desafiados a crer somente nele.

Jesus vem ao encontro daqueles que estão no meio da tempestade, perdidos, amedrontados ou até desesperados. Muitos momentos da vida se parecem com aquela situação dos discípulos. A tormenta de cada um pode ser o conflito conjugal, a separação, a solidão, a enfermidade, o desemprego, o aperto financeiro, a falência, etc. Nesse momento difícil, é preciso erguer os olhos e ver Jesus (14.26). Ele é a nossa única esperança.

Cristo vinha andando sobre o mar, pisando sobre aquilo que os discípulos temiam. Ele é soberano, domina sobre todas as coisas e supera todas as nossas expectativas. Os discípulos o viram, mas não o reconheceram. Jesus então lhes disse: “Tende bom ânimo. Sou eu. Não temais.” (14.27). Eles estavam amedrontados e desanimados, mas o Senhor lhes trouxe a sua palavra para encorajar, erguer e animar. Ainda hoje, este é o efeito da palavra de Deus sobre nós.

Pedro, o mais atirado do grupo, disse a Cristo: “Senhor, se és tu, manda-me ir ter contigo por cima das águas” (14.28). E ele lhe disse: “Vem” (14.29). Jesus veio até nós, mas nós também precisamos ir até ele, ou seja, ele nos socorre, mas nós precisamos crer e aceitar a sua ajuda. Não vamos esperar que ele resolva tudo sem o nosso conhecimento ou sem a nossa participação. Pedro precisou sair do barco e caminhar até o Mestre.

Apesar de toda a complexidade da situação, os discípulos ainda confiavam no barco. Precisavam confiar apenas em Jesus. O barco é aquele último recurso terreno que nos impede de caminhar com o Senhor. Precisamos descer, renunciando àquilo que nos prende.

Pedro desceu, mas 11 discípulos continuaram a bordo. A maioria não foi tão longe. Todos queriam o Mestre, mas não estavam dispostos a correr grandes riscos para se aproximarem dele. As maiores experiências com Deus estão reservadas para aqueles que são mais ousados. Isto não significa fazer qualquer loucura, mas apenas atender à palavra de Deus, saindo da zona de conforto e indo além dos limites humanos. Pedro ouviu a voz do Mestre dizendo: “Vem”. Sobre a palavra de Jesus, Pedro depositou sua fé. Além de crer, ele também agiu. Temos então: palavra, fé e ação. O resultado é o milagre.

Aos olhos humanos, a ação de Pedro era um suicídio, perda total, o fim. Contudo, aquele ato de fé era o início de uma jornada extraordinária.

Jesus não arrancou Pedro do barco. Ele precisou demonstrar o exercício de sua própria vontade ao descer e caminhar. Era uma questão de escolha, decisão e iniciativa. Da mesma forma, Jesus continua chamando a muitos. Ele diz: “Vem”. Ele nos chama para uma vida sobrenatural, para andar sobre as águas. Pedro andou (14.29). Ali aconteceu o imprevisível, improvável e impossível. Pedro encontrou segurança e firmeza no meio da instabilidade. Se você crê em Jesus, o impossível pode acontecer. Deus pode trazer soluções inimagináveis. Contudo, isto não se concretiza simplesmente a partir da nossa vontade, embora possamos pedir, como Pedro fez. O fator determinante é uma palavra de Jesus a nosso favor. Se cremos na palavra de Deus e agimos de acordo com ela, em obediência, o sobrenatural acontece.

Pouco depois de descer do barco, tendo dado alguns passos sobre as águas, Pedro começou a afundar (14.30). Por quê isso aconteceu? Está escrito que ele “sentiu o vento forte”. O que percebemos com os sentidos físicos pode ser contrário à fé. Para andar com Jesus não podemos depender de sentidos ou sentimentos. Vamos sentir, ver e ouvir muitas coisas contrárias, mas a nossa fé está firmada na palavra de Deus.

O fato de Pedro ter começado a afundar nos mostra a fragilidade humana, até mesmo dos grandes homens de Deus. Todos os apóstolos viram que Pedro não era infalível nem igual a Jesus, mas dependente dele. Assim, a nossa fé não pode depender dos servos de Deus que conhecemos hoje ou daqueles que já morreram.

Quando começou a afundar, Pedro clamou pela ajuda de Jesus: “Senhor, salva-me” (14.30). Não adiantaria pedir ajuda a outra pessoa. Pedro clamou ao Senhor e foi salvo da morte. Da mesma forma, em se tratando de salvação das nossas almas, só Jesus pode nos ajudar, pois só ele é o Salvador. Está escrito: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Rm.10.13).

Naquele momento, todos os discípulos foram salvos, porque Jesus entrou no barco e o ventou cessou. Aquela circunstância tão adversa foi útil para que eles conhecessem um pouco mais sobre Cristo, seu poder e sua divindade (14.33). Assim acontece conosco. Deus permite que passemos por situações difíceis para que tenhamos novas experiências pela fé e o conheçamos um pouco mais. Teremos, então, novos motivos para louvá-lo e adorá-lo.

O versículo 34 nos diz que eles chegaram ao outro lado do mar. Sozinhos não conseguiriam, mas, com Jesus no barco, a chegada é garantida. Não vamos desistir nem naufragar. Muito além de alcançar nossos objetivos neste mundo, o mais importante é que, com Jesus, chegaremos ao reino celestial e com ele viveremos eternamente.






























segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Carta à Igreja de Éfeso

Prof. Anísio Renato de Andrade


Assim diz o Senhor Jesus: "Eu sei as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência... Trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste... Tenho porém contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te de onde caíste e arrepende-te." (Apocalipse 2.2-5). Aqueles irmãos tiveram um início glorioso em sua experiência com Deus. A epístola de Paulo aos Efésios nos dá a entender que aquela igreja não era problemática, como a de Corinto por exemplo. Os efésios eram espirituais, entusiasmados e abençoados no princípio.

Contudo, o tempo passou e algo mudou. Aparentemente, tudo estava como antes: as obras continuavam a todo vapor. A igreja de Éfeso era muito ativa e trabalhadora. Entretanto, a essência estava comprometida. Havia muito trabalho e pouco amor; muita atividade humana e pouca unção do Espírito.

Veio então a palavra do Senhor com o objetivo de avivar a sua igreja. E o que é avivamento? É renovação. É reanimar. É dar vida. Avivamento não é sinônimo de barulho, música agitada, palmas e gritos. Tudo isso pode, eventualmente, ocorrer em nossos cultos, mas o avivamento legítimo é o resgate de valores espirituais outrora abandonados.

Seu fundamento está firmado em três fatores indispensáveis: estudo da Bíblia, oração e arrependimento. Esses elementos "movem a mão de Deus" a favor do seu povo. Esta afirmação é fiel e digna de crédito porque o Senhor está comprometido com a sua Palavra, prometeu ouvir nossas orações e não rejeita um coração contrito e arrependido (Salmo 51). Não podemos, porém, separar esses três pontos. Palavra sem oração pode resultar em intelectualismo e heresia. Oração sem arrependimento do pecado não produz nenhum efeito. E arrependimento, sem um confronto com a Palavra de Deus, é impossível, pois é a Bíblia que nos mostra nossas falhas, enquanto o Espírito Santo nos convence.

É bom lembrar o que diz em II Crônicas 7.14: "E se o meu povo que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra."

No contexto em que esse versículo foi escrito, sarar a terra significava fazer cessar as pragas na lavoura, enviar a chuva, que estava tão escassa, e fazer com que houvesse grande produção no campo e no rebanho. Assim, a vida do povo seria beneficiada em todos os aspectos.

Isto é avivamento. Deus tira as pragas e maldições e derrama a sua bênção. Tudo começa com estudo da Bíblia, oração e arrependimento, e culmina com bênçãos sem medida. Seus principais efeitos na igreja são: renovação do nosso entusiasmo pela obra de Deus, grande número de conversões, manifestações de dons espirituais, despertamento de novos ministérios, além de bênçãos pessoais diversas.

Tudo isso é resultado do mover do Espírito Santo, que muitas vezes fica bloqueado pelos nossos pecados e pela nossa negligência.

Louvamos ao Senhor porque estamos notando a operação do Espírito de Deus em nossos dias. O resultado está aí. A obra está acontecendo. Vidas estão se convertendo e a igreja está crescendo. Meu irmão, não fique fora das águas do Espírito. O Senhor está operando. Não pensemos, porém, que o que temos visto é tudo. De modo nenhum! Isto é apenas uma pequena amostra do que Deus quer fazer no nosso meio. Vamos buscar ao Senhor cada dia mais. Assim, veremos a glória de Deus se manifestanto. Aleluia! Avivamento já!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O Último Reavivamento

A igreja do Novo Testamento nasceu num fulgor de glória. O Espírito Santo desceu sobre ela com fogo, e os primeiros cristãos falaram em línguas e profetizaram. Experimentavam a esmagadora convicção de culpa, e multidões se convertiam. Eles irrompiam pela direita e pela esquerda e cresceram grandemente. O temor de Deus caiu sobre eles e sobre todos os que os viam. Houve sinais, maravilhas, e milagres. Mortos foram ressuscitados. Evangelistas destemidos iam por toda a parte pregando a Palavra. As prisões não podiam segurá-los. As tempestades não os abatiam. Quando suas possessões lhes eram tomadas, continuavam a rejubilar-se. Quando eram apedrejados, enforcados, queimados ou crucificados, eles cantavam e louvavam a Deus. Era uma igreja triunfante, não tinha medo de Satanás, irreverente para com os ídolos, inabalada por pragas ou perseguição. Era uma igreja lavada no sangue, vivendo e morrendo em vitória.

Como vai ser a igreja da última hora? Como a igreja se sairá em sua hora final? Sairá como uma igreja gorda, próspera, egoísta, enumerando as pessoas, obtendo votos? Será ela tão-só um punhado de verdadeiros crentes sobrevivendo, observando a morte e a apostasia consumi-la como um câncer? Viverá a igreja dos últimos dias em terror e medo à medida que a AIDS e outras pragas devastam as massas? Será cada vez menor o número dos que vencem o mundo? A frieza e a apostasia deixá-la-ão fraca, escarnecida e impotente? Sairá a igreja desta era de hipocrisia, com louvor, adoração, e reuniões de oração onde mãos sujas ei impuros oferecem fogo estranho?

Sem dúvida, haverá um grande afastamento ou apostasia. Haverá prostituição espiritual por todos os lados. Devido à abundância do pecado, o amor de muitos esfriará. Virão enganadores, ensinando doutrinas de demônios. As pessoas terão comichão nos ouvidos e se arrebanharão para ouvir pregações brandas.

Mas a igreja de Jesus Cristo não vai sair com lamúria ou hesitante. Ela vai sair vitoriosa, com alegria indizível, flutuando num rio de paz. Ela vai sair em liberdade da escravidão, com o pé no pescoço de Satanás. E cada membro desta verdadeira igreja viverá e morrerá sem medo. O poder do tentador será quebrado. Os cristãos serão santos e derrubarão os ídolos. Eles serão tão fortes no Senhor como o foram os primeiros cristãos.

Haverá uma grande reunião antes da volta de Jesus? Poderemos esperar para ver o último poderoso derramamento do Espírito, maior do que qualquer outro na história? Não está dito que apenas um remanescente continuará com Cristo? Não profetiza Joel "entre os sobreviventes aqueles que o Senhor chamar?" Não é verdade que no presente apenas um pequeno remanescente deseja ouvir falar de santidade? Necessitamos entender o que significava "um remanescente", ou sobreviventes. É verdade que será apenas uma pequena porcentagem comparada com bilhões de pessoas que vivem na terra. Todavia, mesmo 10% da Cidade de Nova York representariam mais de um milhão de vencedores. O remanescente significa também "aquilo que resta do original". Os que costuram entendem que um remanescente é um pedaço do tecido original. Igreja remanescente é aquela que tem o mesmo caráter da igreja original do Novo Testamento.

Aproxima-se um grande reavivamento de justiça

Desejo fazer uma declaração com a maior autoridade espiritual possível; faço-a apoiado por uma aliança tão segura quanto aquela feita com Noé. Haverá um reavivamento final, à meia-noite, reavivamento que irromperá de todos os lados. Sião terá dores de parto e muitos, muitos filhos serão dados a ela. Haverá um grande cântico e gritaria, e Sião dirá: "De onde vieram todos estes?" Será um reavivamento de justiça.

Durante anos tenho ouvido pregadores dos velhos tempos falar do último reavivamento. Um querido amigo vem pregando isso por mais de 60 anos. Agora os jovens pregadores estão orando pelo reavivamento; querem ver Deus operar nos presentes dias, não apenas ler a respeito disso nos livros. Não basta apenas pregar sobre reavivamentos passados. Por que orar, por que buscar o reavivamento, se ele não é prometido na Bíblia? Se a Bíblia diz que estamos fora do limite da esperança, tão-somente evangelizemos e preguemos, e não nos preocupemos com os resultados. Se, porém, o reavivamento é prometido, os cristãos precisam vê-lo, apoderar-se dele, e orar com fé, sabendo que Deus prometeu realizá-lo.

Está na Palavra? A promessa encontra-se no capítulo 54 de Isaías. Este é um dos mais importantes capítulos da Palavra de Deus para esta geração. Diz-nos ali de forma clara o que Deus tenciona fazer com sua igreja, com seu povo, nos últimos dias. O capítulo profetiza o que vai acontecer na igreja de Times Square, bem como em toda a parte onde houver corações famintos. Acontecerá na Rússia, na China, em cada terra, cada ilha marítima, desde o pólo Norte até o pólo Sul.

A igreja vai experimentar um derramamento de amor, de misericórdia e de bondade, que ela não merece. Virá um tempo de grande aflição, com uma tempestade devastando, com ansiedade por todos os lados, quando a sociedade é jogada daqui pra lá. Deus promete revelar-se em grande bondade: "mas com benignidade eterna me compadecerei de ti, diz o Senhor, o teu Redentor... contudo o meu constante amor não se desviará de ti, nem será removida a aliança da minha paz, diz o Senhor, que se compadece de ti" (Isaías 54:8-10). Aquilo que Deus está dizendo à igreja, está dizendo também a crentes individuais. Deus está falando à pessoa "oprimida, arrojada com a tormenta e desconsolada" (Isaías 54:11). Trata-se de você? Será que você está experimentando um distúrbio repentino, violento? Sim, isto inclui a economia. Também inclui a situação alarmante do mundo.

Deus terá um povo vencedor

Mas o maior interesse de Deus é com os que em qualquer tempo foram seus amados, até mesmo os apóstatas e os vencidos por uma tempestade de tentação repentina, violenta. Sua promessa é para oi que neste instante passam por grande aflição, atirados numa tempestade, desconsolados, sem esperança, e perdidos. Deus vai cortejar com o intuito de trazer de volta um povo apóstata, abandonado.

"Pois o teu Criador é o teu marido — o Senhor dos Exércitos é o seu nome — o Santo de Israel é o teu Redentor; ele será chamado o Deus de toda a terra. O Senhor te chamará como a mulher desamparada e triste de espírito, como a mulher da mocidade,

que fora desprezada, diz o teu Deus. Por breve momento te deixei, mas com grande compaixão te recolherei. Em grande ira escondi a minha face de ti por um momento, mas com benignidade eterna me compadecerei de ti, diz o Senhor, o teu Redentor" (Isaías 54:5-8).

Alguns alegariam que isto refere-se aos judeus, o Israel da carne. Mas a Palavra prova o contrário, pois Paulo chama a este capítulo de alegoria ou de representação simbólica (veja Gaiatas 4:22-31). Este trecho fala sobre a Jerusalém lá de cima. Se estas promessas se destinavam aos judeus, elas nunca se cumpriram. Cerca de 42.000 saíram do cativeiro babilônico, e se multiplicaram, chegando a quase três milhões no tempo de Cristo. Eles não "transbordaram para a direita e para a esquerda" conforme prometido em Isaías 54:3. Esta é uma profecia para a igreja dos últimos dias — uma igreja que ele abandonou momentaneamente.

Quem é o repudiado e por breve tempo abandonado? De quem ele se esconde num ímpeto de indignação? Pode estar certo de que Deus não se retiraria sem motivo. Que é que o faria esconder o rosto? "Mas as vossas iniqüidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus, e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça" (Isaías 59:2). Deus não se divorciou da igreja acomodada dos dias atuais, mas ele escondeu dela o seu rosto. Ela o deixou, deixou seu amado. "Assim diz o Senhor: Onde está a carta de divórcio de vossa mãe, pela qual eu a repudiei? Ou quem é o meu credor, a quem eu vos tenha vendido? Por causa das vossas maldades fostes vendidos; por causa das vossas transgressões, vossa mãe foi repudiada" (Isaías 50:1).

Deus disse: "Você se afastou de mim. Você amou a outros. Você me traiu; cometeu adultério. Eu não a deixei — você é que me deixou! Tive de repudiá-la porque você se vendeu à prostituição." A igreja fugiu para a Babilônia, mas ainda não está divorciada. Porque Deus diz: "Mostre-me os documentos! Mostre-me a nota de venda onde eu a vendi ao diabo!" Deus está dizendo: "Não estamos vivendo juntos, mas o divórcio não é definitivo, final. O casamento não está perdido. Eu ainda amo você. Você me deixou, entretanto eu chamei e chamei, e você recusou-se a ouvir." "Quando eu vim, por que ninguém apareceu? Quando chamei, por que ninguém respondeu?" (Isaías 50:2).

A esta esposa prostituta, corrompida pelo pecado, apóstata, vadia, Deus promete: "Vou chamá-la de volta." "Pois assim diz o Senhor: Por nada fostes vendidos, e sem dinheiro sereis resgatados" (Isaías 52:3). E de novo: "O Senhor te chamará como a mulher desamparada e triste de espírito" (Isaías 54:6). Até mesmo agora se ouve o som desta restituição final: "com grande compaixão te recolherei" (Isaías 54:7).

Muitos pecadores serão salvos

Primeiro, ele chamará os ímpios que nunca o conheceram. "Vede, eu o dei por testemunho aos povos, como príncipe e governador dos povos. Certamente chamarás a uma nação que não conheces, e uma nação que nunca te conheceu correrá para ti, por amor do Senhor teu Deus, e do Santo de Israel, pois ele te glorificou. Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos. Converta-se ao Senhor, que se compadecerá dele, e torne para o nosso Deus, pois grandioso é em perdoar" (Isaías 55:4-7).

Isto aconteceu na igreja do Novo Testamento, quando os gentios correram para Cristo. Os pagãos viram a luz e responderam. Porém, uma vez mais, no último reavivamento de misericórdia e bondade, os perversos vão ouvir. Multidões correrão para o Senhor. Eles abandonarão seus maus caminhos e invocarão seu Pai. Os que o rejeitam blasfemarão e se tornarão violentos.

Segundo, ele vai oferecer consolo, cura e restauração a todos os que o rejeitaram. "Eu vi os seus caminhos, mas o sararei; eu o guiarei, e lhe tornarei a dar consolo" (Isaías 57:18). Quão emocionado deve ter ficado Isaías ao trazer esta mensagem. Lembre-se, a comissão do profeta era: "Engorda o coração deste povo, endurece-lhes os ouvidos, e fecha-lhes os olhos. Não venha ele a ver com os seus olhos, a ouvir com os seus ouvidos, e a entender com o seu coração, e a converter-se, e seja sarado" (Isaías 6:10). Agora Deus estava dizendo: "Por amor do meu próprio nome, eu perdoarei a esta noiva corrompida e a chamarei de volta."

"Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados não me lembro" (Isaías 43:25). Pense nos milhões de cristãos apóstatas por esse mundo afora. Em nossas reuniões de rua, metade dos convertidos é de apóstatas, os que rejeitaram a Deus. De igual modo é na igreja de Times Square. Que reavivamento há de ser quando as multidões de cristãos apóstatas estiverem de volta! Pregadores apóstatas serão persuadidos a voltar, e eles se tornarão os santos de Sião. Crianças, amarradas por drogas, álcool, sexo, dúvida, e medo, ouvirão o chamado divino, e multidões voltarão. Os viciados, os alcoólatras, as prostitutas, os homossexuais, as vítimas da AIDS, e os apóstatas miseráveis serão chamados por ele.

O derramamento de misericórdia da parte de Deus ignorará o pecado? Nunca. Os que rejeitaram a Deus são os que outrora provaram o gosto do Espírito Santo. No passado eles o conheceram. O Senhor enviará o Espírito Santo, seu mensageiro, com uma palavra de amor, chamando-os à lembrança. Ele enviará o Espírito Santo para lhes trazer à mente todas as suas palavras amorosas, e quão amável foi o relacionamento deles no passado; lembrar-lhes-á também o quanto ele os protegeu, amou e abençoou. "Sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém derramarei o Espírito de graça e de súplicas. Olharão para mim, a quem trespassaram, e o prantearão como quem pranteia por seu filho único, e chorarão amargamente por ele, como se chora pelo primogênito" (Zacarias 12:10).

A igreja é a casa de Davi, e os cristãos são a Jerusalém do alto. Pense nisso! Deus prometeu derramar o Espírito de graça e de oração. Muitos prantearão por ele (incluindo os judeus) vendo como seus pecados o expuseram à vergonha pública, crucificando-o de novo. Eles experimentarão amargura e choro. Isto se refere ao ministério do Cristo vindouro de quem Zacarias profetizou, mas também do Espírito que Deus enviará sobre sua igreja da última hora que produzirá um grande pranto pelo pecado e um reavivamento de arrependimento.

Podemos tocar a trombeta e avisar o povo, mas só uma obra soberana do Espírito Santo pode provocar choro e luto pelo pecado. E ele prometeu fazer exatamente isso.

Uma igreja estéril vai entrar em trabalho de parto e dar à luz muitos filhos

"Canta, ó estéril, que não deste à luz; exulta de prazer com alegre canto, e exclama, tu que nunca tiveste dores de parto; porque mais são os filhos da desolada, do que os da casada, diz o Senhor. Amplia o lugar da tua tenda, e as cortinas das tuas habitações se estendam, não o impeças; alonga as tuas cordas, e firma bem as tuas estacas. Porque transbordarás à mão direita e à esquerda; a tua posteridade possuirá as nações, e fará que sejam habitadas as cidades assoladas" (Isaías 54:1-3).

Alguns argumentariam que esta igreja do último dia não é estéril. Apontaria para todas as igrejas imensas, para todos os ministérios, e para as multidões que freqüentam seminários religiosos, conferências, reavivamentos, e que devoram livros e vídeos religiosos. Mas o que Deus chama de filhos espirituais, e o que a igreja vem chamando de filhos são duas coisas muito diferentes. Enquanto a igreja se tem concentrado no crescimento em número, em influência e sucesso, Paulo está clamando "Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós" (Gaiatas 4:19). Paulo diria: "Não me diga quantos freqüentam a sua igreja. Não me diga quantos comparecem às suas funções, quanta literatura você distribui, quantas Bíblias você vende, quantos testemunhos na rua — diga-me quantos estão sendo formados à semelhança de Cristo! Quantos estão caminhando para a pureza!"

Amós profetizou a um povo de Deus que o adorava com coração pecaminoso:

"Aborreço, desprezo as vossas festas, e as vossas assembléias solenes não me dão nenhum prazer. Ainda que me ofereçais holocaustos, juntamente com as ofertas de cereais, não me agradarei deles, nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais cevados. Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos, porque não ouvirei as melodias dos teus instrumentos. Corra, porém, a justiça como as águas, e a retidão como ribeiro perene" (Amos 5:21-24).

E Isaías, anunciando a Palavra de Deus, disse:

"Não continueis a trazer ofertas vãs! O incenso é para mim abominação, e também as luas novas, os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniqüidade, nem o ajuntamento solene. As vossas luas novas, e as vossas solenidades, a minha alma as aborrece. Já me são pesadas; estou cansado de as sofrer. Pelo que, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço. As vossas mãos estão cheias de sangue; lavai-vos, e purificai-vos. Tirai a maldade dos vossos atos de diante dos meus olhos! Cessai de fazer o mal" (Isaías 1:13-16).

Alguns se vangloriam de que estamos no reavivamento, que a mensagem da prosperidade que lota auditórios é a Palavra de Deus, que estão nascendo muitos filhos espirituais. Creio que Deus considerará os últimos 20 anos como um período de fome da Palavra, como anos que o gafanhoto comeu, anos de egoísmo, anos de forasteiros sendo exaltados na casa de Deus, anos de música diabólica, pregadores orgulhosos, loucura pelo dinheiro, construção de império, anos de superficialidade. "Foram infiéis ao Senhor, geraram filhos bastardos" (Oséias 5:7). "Eu mesmo te plantei como vide excelente, uma semente inteiramente fiel. Como, pois, te tornaste para mim uma planta corrupta, como de vide brava?" (Jeremias 2:21).

Muitos cristãos se tornaram estéreis porque se sentaram numa igreja estéril e ouviram um pastor estéril sem a unção de Deus. No desenvolvimento do processo, eles se tornaram famintos no nível espiritual, sem autoridade espiritual. Famílias sofreram; filhos se transviaram; casamentos desmoronaram.

Ou então, foram para uma igreja onde nasceram muitos Ismaéis. Ismael representa a carne. Muito embora Abraão tenha orado "Oxalá viva Ismael diante de ti", Deus disse: "Lança fora a escrava e seu filho, pois de modo algum o filho da escrava herdará com o filho da livre" (Gaiatas 4:30). Há, hoje, muitos Ismaéis nascendo nas igrejas — cristãos dominados pela carne, reivindicando a herança da justiça.

Deus vai purificar, sarar e abraçar sua esposa e dar a ela verdadeiros Isaques, filhos segundo o seu coração. "Canta, ó estéril, que não deste à luz; exulta de prazer com alegre canto, e exclama, tu que nunca tiveste dores de parto; porque mais são os filhos da desolada, do que os da casada, diz o Senhor" (Isaías 54:1). Deus não está simplesmente falando sobre transferir multidões, esvaziando a casa de Ismael e multiplicando os justos. Isso é muito mais profundo do que multidões, números e sucesso. Deus, e não o homem, vai efetuar a contagem. "Poderei eu inocentar balanças falsas, com um saco de pesos enganosos?" (Miquéias 6:11). "O Senhor, ao registrar os povos, dirá: Este nasceu em Sião" (Salmo 87:6). Você pode olhar para qualquer grande reunião de cristãos — pode haver milhares, e podem estar louvando a Deus com mãos levantadas, cantando louvores em voz alta, mas Deus efetua a contagem. Ele sabe quem é santo. Ele conhece os que pranteiam pelo pecado. Talvez ele tenha lá apenas uns poucos, nascidos em Sião. Deus não se impressiona com multidões, pois os músicos de "rock" atraem as maiores.

Deus promete, porém, que a Sião santa vai dar à luz mais filhos do que a casa de Ismael. Esta é a promessa inquebrável de uma grande reunião. "Amplia... se estendam... alonga... firma bem... transbordarás à mão direita e à mão esquerda" (Isaías 54:2-3). Deus vai remover a vergonha e o opróbrio de sua igreja. "Não temas; não serás envergonhada. Não te envergonhes; não serás humilhada. Antes te esquecerás da vergonha da tua mocidade, e não te lembrarás mais do opróbrio da tua viuvez" (Isaías 54:4). Que é esta vergonha e este opróbrio? É a falta de autoridade espiritual sobre os poderes de Satanás. Quando cercado pelos perversos assírios, Ezequias disse: "Este dia é dia de angústia e vitupérios e blasfêmias, porque chegados são os filhos ao parto, e força não há para os dar à luz" (Isaías 37:3). Lá estava o inimigo despejando desprezo sobre os israelitas, amontoando blasfêmia contra o seu Deus. Este é um exemplo do que temos visto na obra cristã — dores de parto, sem parto.

Parece que o diabo zomba de cada tentativa de nossa parte. A igreja tem sido insultada e ridicularizada por causa de sua fraqueza. Quantos cristãos sabem o que significa ser quase vitorioso, quase vencedor? E Satanás se ri. Mas Deus promete: "Removerei a vergonha. Você dará à luz. Um exército virá do seu ventre. Um exército vitorioso."

A vergonha da igreja é sua impotência diante de inimigos gigantes. Davi perguntou: "Que farão ao homem que matar este filisteu.. .Quem é este incircunciso filisteu, para afrontar os exércitos do Deus vivo?" (1 Samuel 17:26). Era uma vergonha ser levado à parede e ser humilhado pelo inimigo. Era vergonha e repreensão ver o povo de Deus chafurdando-se no medo. Mas Deus prometeu dar à luz filhos sem esta vergonha e censura sobre eles. É certo que derrubarão seus Golias. Serão a glória e a honra do nome de Deus. Nunca mais a vergonha de esconder-se ou fugir. Este tipo de filhos nascem apenas do ventre consagrado de uma esposa fiel, amorosa, pura. Esta esposa voltou porque estava abatida no espírito, desolada, solitária, ansiando pela volta ao seu Senhor. Agora está estabelecida em justiça (veja Isaías 54:13-14). Não há doutrina falsa nesta igreja, nem há medo. Há, contudo, grande paz e confiança em oposição ao terror em redor.

Este último reavivamento veio porque Deus se compadecerá de seu próprio nome. Ele santificará o seu nome perante o mundo inteiro. Deixe-me citar-lhe uma grande profecia de Ezequiel:

"Mas eu os poupei por amor do meu santo nome, que a casa de Israel profanou entre as nações para onde foi. Dize, portanto, à casa de Israel: Assim diz o Senhor Deus: Não é por amor de vós que eu faço isto, ó casa de Israel, mas pelo meu santo nome, que profanastes entre as nações para onde fostes. Eu santificarei o meu grande nome, que foi profanado entre as nações, o qual profanastes no meio delas. Então as nações saberão que eu sou o Senhor, diz o Senhor Deus, quando eu for santificado aos seus olhos. Pois eu vos tirarei dentre as nações, e vos congregarei de todos os países, e vos trarei para a vossa terra. Então espargirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei" (Ezequiel 36:21-25).

Creio que Deus ainda tem uma aliança futura para os judeus. Mas os profetas viram os nossos dias e todas essas profecias são de dupla aplicação. Um reavivamento de santidade imerecido — uma última reunião de um remanescente puro — já está acontecendo. Porque Deus determinou encerrar as eras com uma poderosa exaltação do seu nome. Que demonstração de poder será! Poder entrar na abundância das riquezas de Jesus Cristo!