quinta-feira, 25 de novembro de 2010

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Uma Boca Fechada e um Coração Mudo

Por A. W. Tozer

"Escandesceu-se dentro de mim o meu coração; enquanto eu meditava acendeu-se o fogo; então disse com a minha língua..." Salmos 39:3

A oração entre os cristãos evangélicos está sempre em perigo de degeneração, numa busca incessante pelo ouro. Quase todo livro sobre oração trata primariamente com o elemento "receber". Como conseguir coisas que queremos de Deus ocupa a maioria do espaço. Ora, nós admitimos alegremente que podemos pedir e receber dons especiais e sermos beneficiados com a resposta à oração, mas nunca devemos esquecer que a qualidade mais alta da oração nunca é a composição de pedidos. A oração em seu momento mais santo é o entrar na presença de Deus, num momento de bendita união, de uma forma que faz com que os milagres pareçam enfadonhos e as respostas extraordinárias às orações algo muito menos admirável por comparação.

Homens santos de momentos mais sóbrios e quietos do que os nossos, conhecem bem mais o poder do silêncio. Davi disse, "Com silêncio fiquei qual um mundo; calava-me mesmo acerca do bem; enquanto eu meditava acendeu-se o fogo; então disse com a minha língua...". Há uma dica aqui para os profetas modernos de Deus. O coração raramente pega fogo quando a boca está aberta. Uma boca fechada diante de Deus e um coração mudo são indispensáveis para a recepção de certos tipos de verdade. Nenhum homem é qualificado para falar se primeiro não ouvir.

“Senhor, ensina-me a fechar minha boca. Eu amo pregar; Tu tens me dado oportunidades para ensinar; eu sou chamado para dispensar avisos e conselhos. Mas o sentar em silêncio diante de Ti, com minha boca fechada - eu quase não faço o suficientemente. Amém”.




sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A Oração é Tão Vasta Quanto o Próprio Deus - Parte II

Por Leonard Ravenhill

Qual o Potencial da Oração?

Quem pode calcular as dimensões do poder de Deus? Os cientistas fazem estimativas do peso total do globo terrestre, os estudiosos da Bíblia chegam a decifrar as medidas da Cidade Celestial, os astrônomos contam as estrelas no céu, outros medem a velocidade do relâmpago e dizem precisamente quando o sol se levanta e se põe – no entanto, é impossível estimar o poder da oração.

A oração é tão vasta quanto o próprio Deus, porque é ele mesmo que está por trás dela. A oração é tão poderosa quanto Deus, pois ele se comprometeu a respondê-la. Que Deus tenha compaixão de nós, por sermos tão gagos e hesitantes nesta que é a atividade mais nobre da língua e do espírito do homem. Se Deus não nos iluminar no nosso recinto privado de oração, andaremos em trevas. No tribunal de Cristo, o fato mais vergonhoso que o cristão haverá de enfrentar será a pobreza da sua vida de oração.

Leia este trecho majestoso do ilustre pregador do quarto século, Crisóstomo: “O imenso poder da oração já sujeitou a força do fogo; amarrou a ira de leões, acalmou as insurreições de anarquia, pôs fim a guerras, aplacou as forças selvagens da natureza, expeliu demônios, rompeu os grilhões da morte, expandiu os limites do reino dos céus, aliviou enfermidades, afastou fraudes, resgatou cidadãos da destruição, parou o sol no seu curso, e impediu o avanço do raio destruidor".

“A oração é uma panóplia (armadura) contra todo mal, um tesouro que nunca se diminui, uma mina que jamais poderá ser esgotada, um céu sem qualquer obstrução de nuvem, um horizonte imperturbado por tempestades. É a raiz, a fonte, a mãe, de incontáveis bênçãos.”

Estas palavras são mera retórica, tentando dar uma aparência superlativa a algo comum? A Bíblia não conhece tais engenhosidades humanas.

Oh, Por um Elias!

Elias era um homem experimentado na arte da oração, que alterou o curso da natureza, estrangulou a economia de uma nação, orou e o fogo caiu, orou e o povo caiu, orou e a chuva caiu. Precisamos hoje de chuva, chuva e mais chuva! As igrejas estão tão ressecadas que a semente não pode germinar. Nossos altares estão secos, sem lágrimas quentes de suplicantes penitentes.

Oh, por um Elias! Quando Israel clamou por água, um homem feriu a rocha e aquela enorme fortaleza de pedra se transformou numa madre, que deu à luz uma fonte de águas a dar vida. “Acaso para Deus há coisa demasiadamente difícil?” (Gn 18.14). Que Deus nos envie alguém que possa ferir aquela rocha!

De uma coisa estejamos certos: O recinto de oração não é lugar para simplesmente entregar ao Senhor uma lista de pedidos urgentes. A oração pode mudar as coisas? Certamente, mas, acima de tudo, a oração muda os homens. A oração não só tirou a desonra de Ana, mas a mudou – transformou-a de mulher estéril em frutífera, de pessoa tristonha em alguém cheio de gozo (1 Sm 1.10 e 2.1); de fato, converteu o seu “pranto em dança” (Sl 30.11).

Quem sabe, estamos orando para dançar quando ainda não aprendemos a lamentar! Estamos buscando uma veste de louvor, quando Deus disse: “... e dar a todos os que choram ... veste de louvor em vez de espírito angustiado” (Is 61.3, NVI). Se quisermos colher, a mesma ordem é dada: “Quem sai andando e chorando enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes” (Sl 126.6).

Foi preciso um homem de coração partido, que lamentava profundamente, como Moisés, para poder dizer: Ó Deus, este “povo cometeu grande pecado... Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; ou, se não, risca-me, peço-te, do livro que escreveste” (Êx 32.31,32). Somente um homem que sentisse uma profunda carga de dor, como Paulo, poderia dizer: “... tenho grande tristeza e incessante dor no coração; porque eu mesmo desejaria ser anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne” (Rm 9.2,3).

Se John Knox tivesse orado: “Dá-me sucesso!”, nunca mais teríamos ouvido falar dele. Porém, ele fez uma oração expurgada de desejos pessoais: “Dá-me a Escócia, senão eu morro!”, e assim marcou as páginas da história. Se David Livingstone tivesse orado para conseguir abrir o continente africano, como prova de seu espírito indomável e habilidade com o sextante, sua oração teria morrido com o vento da floresta; porém, sua oração foi: “Senhor, quando será curada a ferida do pecado deste mundo?” Livingstone vivia em oração e, literalmente, morreu de joelhos, em oração.

A solução para este mundo tão insaciável por pecado é uma igreja insaciável por oração. Precisamos explorar novamente as “preciosas e mui grandes promessas” de Deus (2 Pe 1.4). Naquele grande dia, o fogo do juízo haverá de provar o tipo, e não a quantidade, da obra que fizemos. Aquilo que nasceu em oração passará pela prova.

Na oração, tratamos com Deus e coisas acontecem. Na oração, fome de ganhar almas é gerada; quando há fome para ganhar almas, mais oração é gerada. O coração que tem entendimento ora; o coração que ora adquire entendimento. O coração que ora, reconhecendo sua própria fraqueza, recebe força sobrenatural do Senhor. Oh, que fôssemos pessoas de oração, tal qual Elias – que era um homem sujeito aos mesmos sentimentos que nós! Senhor, ajuda-nos a orar!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A Oração é Tão Vasta Quanto o Próprio Deus - Parte I

Por Leonard Ravenhill


Os profetas da antigüidade, marcados por Deus, eram tremendamente conscientes da imensidão e da impopularidade da sua tarefa. Insistindo na sua própria ineficácia e insuficiência, e sentindo a pesada carga da mensagem de Deus, estes homens às vezes tentavam se livrar de tão grande responsabilidade sobre suas almas.

Moisés, por exemplo, tentou fugir do compromisso com uma nação inteira, argumentando ter uma “língua pesada” ou gaga. Entretanto, Deus não aceitou sua fuga e lhe deu um porta-voz em Arão.

Jeremias, também, arrazoou que era apenas uma criança. E, como no caso de Moisés, a desculpa não foi aceita. Pois homens escolhidos por Deus não são enviados a câmaras especiais da sabedoria humana – onde suas personalidades podem ser polidas ou seu conhecimento aperfeiçoado. Deus, pelo contrário, sempre encontra um jeito de fechar as saídas para eles e os deixar enclausurados consigo mesmo.

De acordo com o famoso poeta norte-americano, Oliver Wendell Holmes, a mente do homem, uma vez “esticada” através de uma nova idéia, nunca mais consegue voltar às suas dimensões originais. O que diríamos, então, da alma que ouviu o sussurro da Voz Eterna? “As palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida” (Jo 6.63).

Nossa pregação é muito debilitada hoje, por se basear mais em pensamentos emprestados das mentes de pessoas mortas do que na inspiração do nosso Senhor. Livros são bons quando nos servem de guias, mas são péssimos quando se transformam em correntes.

Assim como na energia atômica, os cientistas modernos encontraram uma nova dimensão de poder, da mesma forma, a igreja precisa redescobrir o poder ilimitado do Espírito Santo. Precisa-se, urgentemente, de algo novo, a fim de dar um golpe na maldade desta era impregnada de pecado, e de abalar a complacência dos santos adormecidos. Pregações vigorosas e vidas vitoriosas precisam ser geradas através de vigílias prolongadas no recinto secreto de oração.

Alguém diz: “Ah, mas precisamos orar a fim de poder viver uma vida santa”. Isto está certo, mas do modo inverso, precisamos viver uma vida santa se quisermos orar. De acordo com Davi, “Quem subirá ao monte do Senhor? ... O que é limpo de mãos e puro de coração” (Sl 24.3,4).

O segredo da oração é orar em secreto. Livros sobre oração são excelentes, mas são insuficientes. Livros sobre cozinhar podem ser muito bons, porém se tornam inúteis se não houver alimentos para se fazer algo prático; assim também é a oração. Pode-se ler uma biblioteca de livros sobre oração e não obter, como resultado, nenhum poder para orar. Precisamos aprender a orar, e para isso, é preciso orar.

Enquanto estiver sentado numa cadeira, pode-se ler o melhor livro do mundo sobre saúde física e, ao mesmo tempo, ir definhando cada vez mais. Igualmente, podemos ler sobre oração, admirar a perseverança de Moisés, ficar espantados diante das lágrimas e dos gemidos do profeta Jeremias – e ainda não estar prontos, nem para o bê-á-bá da oração intercessória. Como uma bala de rifle que nunca foi usada jamais apanhará uma presa, tão-pouco o coração que ora sem carga do Espírito conseguirá em tempo algum alcançar resultados.

“Em nome de Deus, eu vos suplico, que a oração alimente vossa alma tal qual a refeição refaz seu corpo!”, dizia o fiel Fenelon. Henry Martyn, certa vez, afirmou o seguinte: “Meu atual estado de morte espiritual pode ser atribuído à falta de tempo e tranqüilidade suficientes para minhas devoções particulares. Oh, que eu fosse um homem de oração!”

Um escritor de tempos passados declarou: “Grande parte da nossa oração é como o moleque que aperta a campainha da casa, mas corre antes de se abrir a porta”. Disso podemos estar certos: A área de recursos divinos menos explorada até agora é o lugar da oração.




















quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Pentecostes

Por Leonard Ravenhill


Lorde Montgomery, aquele imprevisível Marshall Inglês, disse recentemente que a Inglaterra entrou na Segunda Guerra Mundial equipada para lutar a Primeira Guerra Mundial. Isto foi um modo gentil de dizer que na Segunda Guerra Mundial a Inglaterra estava atrasada em equipamento e estratégia para batalha.

Quando o Sr. Christopher Wren desenhou a grande catedral de São Paulo em Londres, ele planejou uma coisa de permanente beleza e imarcescível encanto, porém não a pediu com ar condicionado. Quando George Stephenson construiu seu potente motor, ele não era silencioso e à diesel, mas uma máquina pouco motorizada que assobiava. Em outras palavras, tanto Wren como Stephenson subestimaram as necessidades de nossos dias, pois projetaram unicamente para os seus dias.

Muitos têm hoje um patrocínio benevolente da igreja de Jesus Cristo (ou do que eles equivocadamente pensam ser a igreja de Jesus Cristo). Estes "sábios" pensam que estes santos que ainda cantam salmos estão tão fora de lugar com a era atômica, como uma bicicleta sem valor estaria comparada com um motor comprimido numa rodovia de quatro vias. Foi Jesus Cristo culpado, então, de subestimar a necessidade deste século vinte? É a Igreja que Cristo fundou uma coisa enfadonha e de lenta mudança, gravemente necessitando de uma gigantesca revisão e de um subsídio do governo para conseguir ser atualizada e comovente? Não! A igreja não necessita de auxílio do estado.

Admitimos, contudo, que a Igreja necessita de um poderoso recondicionamento pelas mãos Divinas, isto é, ela necessita o batismo com o Espírito Santo e com fogo. Quando o Senhor Jesus Cristo ascendeu aos céus no Monte das Oliveiras, Ele declarou aos seus discípulos que eles deveriam "esperar a promessa do Pai" - o "batismo do Espírito Santo" com seu poder resultante.

A promessa foi exclusiva - "Vós recebereis poder". Quem recebeu esta promessa? Somente os seguidores de Cristo.

A promessa foi emocionante - "Vós recebereis poder". Em ávida antecipação desta benção, a espera podia ver toda sua fraqueza evaporando no batismo de fogo.

A promessa foi explícita - "Não muito depois destes dias".

A promessa foi expansiva - Esta coisa não era para ser feita em uma esquina, nem sussurrada entre os redimidos. Ela deveria estender-se através deles à Judéia, Samaria, e até aos confins da terra.

A promessa foi exaltante - No mundo inteiro das coisas criadas não há poder maior do que o do Espírito Santo de Deus. Eles foram cheios com o Espírito do Deus vivo. A terra não poderia ter nenhuma honra maior do que esta.

Anjos, contemplai e maravilhai-vos!

Cada coisa que há em cima nos céus, ou em baixo na terra, ou nas águas debaixo da terra - todas estas são obras dos Seus dedos e Poderoso é Aquele que condescendeu em vir e habitar entre os mortais.

Mas apesar do Pentecostes significar poder aos discípulos - ele também significou prisão para eles. Pentecostes significava revestimento - ele também significava exclusão. Pentecostes significava favor com Deus - ele também trazia ódio da parte dos homens. Pentecostes trouxe grandes milagres - ele também trouxe poderosos obstáculos. Pentecostes trouxe unção para os pregadores do cenáculo - ele também trouxe unção para um mero diácono que virou Samaria de cabeça para baixo.

Na Europa, o Domingo de Pentecostes é sempre chamado Domingo Branco, e as crianças usualmente vestem-se de branco. Os discípulos foram "feitos brancos" no primeiro Pentecoste - isto é, seus corações foram "purificados pela fé" (Atos 15:8,9). Esta purificação é uma ênfase perdida atualmente na interpretação do Batismo com o Espírito. Sob o título de igrejas cheias do Espírito, há algumas coisas estranhas e frívolas operando no presente.

Se muita ênfase não fosse dada aos dons do Espírito, então não seria tão pouco falado sobre os frutos do Espírito. Note quão poucos livros disponíveis falam sobre os frutos do Espírito; porém, quantos sobre os dons do Espírito. Todavia o Filho de Deus disse: "Pelos seus frutos os conhecereis".

A primeira coisa essencial para a vinda do Espírito Santo em um coração hoje é: que o coração esteja limpo do pecado, porque o Espírito Santo não enche um coração sujo. O que Deus limpou, Ele então enche. Finalmente, quem Deus enche, Ele usa. Uma vida santa é o autêntico sinal de ser cheio do Espírito.

Necessitamos hoje de um reavivamento de vida santa. Porque temos que pendurar um letreiro do lado de fora de nossas igrejas para anunciar que somos Fundamentais e Bíblicos? Porque sem um letreiro ninguém poderia nos identificar? Quando passei por uma cidade que há poucos dias tinha sido despedaçada por um tornado, lhes asseguro que não precisava que alguém me contasse que um poderoso vento tinha despedaçado o lugar. Um incêndio não necessita de publicidade. Quando o fogo do Espírito Santo cai novamente e o poderoso vento do Espírito vem (estou certo de que Ele está vindo), então nossa "sarça" queimará também, e um Moisés tornará a ver uma grande visão. Assim pois, venha Espírito Santo! Venha rapidamente!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Experimentando Mais de Deus – por Luciano Subirá


Tenho aprendido um princípio importante de como podemos provar mais de Deus no capítulo seis de Isaías, onde lemos acerca de uma fortíssima experiência dele com Deus. A vida cristã é progressiva (Pv 4.18) e Deus quer que provemos cada vez mais de sua presença. Esta experiência de Isaías foi um momento em sua vida onde ele galgou um degrau a mais no seu relacionamento com Deus.

“No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. As bases do limiar moveram-se à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então disse eu: Ai de mim! Estou perdido! porque sou homem de lábios impuros, habito no meio dum povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! Então um dos serafins voou para mim trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; com a brasa tocou a minha boca, e disse: Eis que ela tocou os teus lábios; a tua iniquidade foi tirada, e perdoado o teu pecado Depois disto ouvi a voz do Senhor que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim”. (Isaías 6.1-8)

O impacto no profeta foi tamanho que ele declarou ser um homem de lábios impuros no meio de um povo de impuros lábios. Só que quando lemos os cinco capítulos anteriores de seu livro, vemos uma forte mensagem contra o pecado. Não enxergamos este Isaías de lábios impuros que ele descreve, apenas o Isaías “profeta”. Mas quando provamos mais de Deus passamos a enxergar o quanto ainda precisamos do Senhor e de seu tratamento em nossas vidas.

Todos precisamos deste nível de experiência. Não que a visão em si vá se repetir a cada um de nós, mas precisamos provar mais de Deus a ponto de enxergarmos nossa miséria e entrarmos num novo nível em Deus. Isaías recebeu um toque purificador em seus lábios, pois foi justamente aí que ele confessou ser falho; e passou a ter uma nova consciência do chamado de Deus para o serviço (v.8).

NO ANO EM QUE MORREU O REI UZIAS

Na ocasião em que Deus começou a falar fortemente ao meu coração através deste texto, comecei a me indagar o que levou o profeta a ter tal experiência. A Bíblia diz que “tudo quanto foi escrito, para nosso ensino foi escrito” (Rm 15.4). Diz também que “estas coisas lhe sobrevinham como exemplos, e foram escritas para advertência nossa” (1 Co 10.11). Portanto, a experiência de Isaías não é apenas um relato histórico, mas um ensino prático para nós hoje. E enquanto indagava sobre o que o levou a ter tal experiência, Deus vivificou diante dos meus olhos a frase: “no ano em que morreu o rei Uzias”. Estou certo de que ela não era apenas uma referência cronológica da experiência, mas a descrição simbólica de sua causa. Isaías podia apenas ter dito em que ano do reinado de Jotão, filho de Uzias, isto aconteceu, pois este começou a reinar antes de seu pai morrer. Mas não se tratava apenas de um referencial no calendário, e sim de uma figura importante no ensino que receberíamos.

Isaías profetizou durante o reinado de quatro reis. Uzias foi o primeiro deles, o que nos faz concluir que nesta época ele era ainda bem jovem. E na condição de jovem, provavelmente era um admirador do rei Uzias, pois ele foi um dos reis que mais deu vitórias a Israel em toda a sua história; provavelmente, como um general de guerra sua fama tenha ficado apenas atrás de Davi. A nação respeitava e amava este homem que lhe havia devolvido a glória e o prestígio. O relato bíblico deixa claro o sucesso que este homem desfrutou governando a nação (2 Crônicas 26.6-15).

Uzias foi um líder respeitado e admirado. E podemos afirmar com toda a certeza, que o jovem profeta o admirava. Mas foi somente quando morreu o rei natural, carnal, que seus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos. Há um princípio espiritual aqui. Somente quando morreu o rei Uzias é que os olhos de Isaías se abriram para a revelação de Deus como rei. Ele viu o Senhor assentado num trono, o lugar de autoridade dos reis. Ele viu as orlas de seu manto real enchendo todo o templo. Mas para que pudesse ver o rei espiritual, o carnal teve que morrer. Esta é uma figura profética. Se queremos ver o Rei, entrando numa nova experiência com Deus, primeiro Uzias tem que morrer em nossas vidas.

O QUE UZIAS SIMBOLIZA

O rei Uzias figura este comportamento que temos denunciado desde o primeiro capítulo deste livro, de querer usar Deus como um trampolim para receber aquilo que se deseja, sem um forte senso de compromisso, de aliança com Deus. Ele começou corretamente, mas depois demonstrou o que de fato estava em seu coração.

“Ele fez o que era reto perante o Senhor, segundo tudo que fizera Amazias, seu pai. Propôs-se buscar a Deus nos dias de Zacarias, que era entendido nas visões de Deus; nos dias em que buscou ao Senhor, Deus o fez prosperar”. (2 Crônicas 26.4,5)

O texto bíblico diz que “ele foi maravilhosamente ajudado (pelo Senhor) ATÉ QUE se tornou forte”(v.15). Esta expressão “até que” nos mostra que a partir de então Deus já não era necessário para ele, pois já chegara onde queria. Uzias é o retrato do sentimento que há no coração de todos os que buscam ao Senhor por interesse, apenas para alcançar o que querem. Tão logo Uzias alcançou o sucesso, Deus se tornou descartável para ele. E assim são tantos que se dizem cristãos! Sei o que estou falando. Nestes últimos anos de pastoreamento tenho percebido o quanto isto ocorre no meio do rebanho.

É só chegar a época do vestibular e a moçada se “converte”. Depois que entram na universidade se esquecem que serviam a Deus e correm atrás do pecado. Quando querem namorar e precisam da “benção de Deus” então, nem se fala! Mas depois que foram “abençoados” voltam as costas ao Senhor e vão para a cama com a “benção” que receberam.

Tenho visto as pessoas chegarem à igreja porque precisavam de restauração familiar e, quando isto aconteceu, não havia mais nem sombra delas! Outros necessitavam de restauração financeira, outros de cura, e assim por diante… E quando recebiam o que queriam, Deus já não era mais tão importante. Isto acontece porque o ser humano é egoísta por natureza. Sua carne o leva a pensar somente em si mesmo.

Se não ensinarmos estas verdades, iremos falhar e ver muitos outros falhando também. É preciso confrontar o coração com a verdade da Palavra. E se quebrantar diante de Deus. Veja o comportamento de Uzias:

“Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração para a sua própria ruína, e cometeu transgressões contra o Senhor, seu Deus, porque entrou no templo do Senhor para queimar incenso no altar do incenso”. (2 Crônicas 26.16)

O rei Uzias é símbolo e figura da auto-suficiência, do orgulho, e da falta de compromisso com Deus. Representa aquele tipo de pessoa para quem Deus é apenas um amuleto. Representa aquele tipo de crente que não corresponde com Deus e suas intervenções, pois é egoísta e só pensa em si mesmo.

Uzias tem que morrer se queremos ver a glória do Senhor e entrar numa dimensão mais profunda de intimidade com ele. Somente quando Uzias morre (e falo sobre deixar esta atitude que ele teve) é que veremos o Rei, o Senhor dos Exércitos. Esta nossa atitude descompromissada e interesseira no que diz respeito aos milagres nos tem impedido de provar uma visitação maior da parte do Senhor. É tempo de nos arrependermos diante de Deus e assumirmos uma nova postura, uma nova mentalidade. Uzias tem que morrer! Mas como isto acontece?

COMO UZIAS MORRE

As Escrituras nos mostram como o rei Uzias veio a morrer. Examinemos o texto bíblico para extrair dele princípios práticos. Assim que Uzias entrou no templo de Deus, os sacerdotes o resistiram, deixando-nos exemplo:

“Porém o sacerdote Azarias entrou após ele, com oitenta sacerdotes do Senhor, homens da maior firmeza; e resistiram ao rei Uzias, e lhe disseram: A ti, Uzias, não compete queimar incenso perante o Senhor, mas aos sacerdotes, filhos de Arão, que são consagrados para este mister; sai do santuário, porque transgrediste; nem será isto para honra tua da parte do Senhor Deus. Então Uzias se indignou; tinha ele o incensário na mão para queimar incenso; indignando-se ele, pois, contra os sacerdotes, a lepra lhe saiu na testa perante os sacerdotes, na casa do Senhor, junto ao altar do incenso. Então o sumo sacerdote Azarias e todos os sacerdotes voltaram-se para ele, e eis que estava leproso na testa, e apressadamente o lançaram fora; até ele mesmo se deu pressa em sair, visto que o Senhor o ferira. Assim ficou leproso o rei Uzias até o dia de sua morte; e morou, por ser leproso, numa casa separada, porque foi excluído da casa do Senhor; e Jotão, seu filho, tinha a seu cargo a casa do rei, julgando o povo da terra”. (2 Crônicas 26.17-21)

A Bíblia mostra claramente que o Senhor mesmo feriu a Uzias com a lepra. Mas só aconteceu depois que os sacerdotes o resistiram. Quando percebemos esta atitude de Uzias em nossas vidas, devemos nos opor fortemente a ela. Não podemos aceitar ou tolerar isto em nós. Somos o santuário de Deus e também o sacerdócio instituído para cuidar do santuário. Devemos tomar posição contrária a este tipo de atitude. Deus não é um amuleto para que o usemos apenas para conseguir o que queremos. Não é descartável. Mas nossa carne nos leva a um viver egoísta e é preciso reconhecer e confrontar esta atitude.

Quando nos deixamos tomar pelo temor de Deus e confrontamos em oração e temor este tipo de atitude, o Senhor ferirá Uzias de morte. Não há morte instantânea para ele. É um processo. A lepra o matou aos poucos. E nas nossas vidas será também assim. Não adianta fazermos uma única oração e achar que tudo se resolverá. Uzias permaneceu EXCLUÍDO (pelos sacerdotes) da casa do Senhor até a sua morte. E nós também, como sacerdotes de Deus, devemos mantê-lo longe do santuário (que somos nós). Devemos nos opor continuamente a ele até que morra e já não haja mais sua influência em nós. E quando isto acontecer, os nossos olhos verão o Rei, o Senhor dos Exércitos!

Há todo um processo de quebrantamento, rendição, e humilhação contínua diante do Senhor até que isto aconteça. Não é automático. Mas vale a pena. A possibilidade de ver o Rei, e conhecê-lo num novo nível deve nos motivar a isto.

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Autor: Luciano P. Subirá. É o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.
Extrádo do site: http://www.orvalho.org/ministerio/?p=1023

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Ídolos do coração

Por A. W. Tozer

Em sua caminhada para um conhecimento mais profundo de Deus, o homem atravessa os vales solitarios da pobreza de espírito e da renúncia a todas as coisas. Os que alcançaram a benção de possuir o Reino são aqueles que rejeita-ram todas as coisas materiais, desarraigando do coração todo sentimento de posse. São os "humildes de espírito". Atingiram um estado íntimo comparável a aparência exterior de um mendigo das ruas de Jerusalem; isso é o que realmente significa a palavra "pobre", na afirmação feita por Jesus. Os pobres bem-aventurados são aqueles que já não são mais escravos das coisas, pois quebraram o jugo opressor; e o conseguiram, não lutando, mas entregando tudo ao Senhor. Embora libertos do sentimento de posse, contudo, possuem tudo: "Deles é o reino dos céus"


Abraao já era idoso quando Isaque nasceu. Na verdade, ja tinha idade suficiente para ser seu avô, e o menino imediatamente se tornou um deleite e um ídolo para seu velho pai. Desde o primeiro instante em que se curvou para tomar aquele corpo pequenino e frágil em seus bracos desajeitados, tornou-se escravo do amor intenso que dedicava ao filho. Deus fez questão de mostrar o erro dessa afeição exagerada. E nao é dificil entende-la. O bebe representava tudo que era mais sagrado para o coração de seu pai: as promessas de Deus, as alianças, a esperança dos longos anos de sonhos messiânicos. Ao vê-lo desenvolver-se, desde a mais tenra infância até a adolescencia, o coração do velho foi-se apegando cada vez mais a vida de seu filho, até que finalmente esse sentimento chegou as fronteiras de um terreno espiritualmente perigoso. Foi nessa conjuntura que Deus interferiu, a fim de salvar tanto o pai como o filho das consequências de um amor idolatra.


"Toma teu filho, teu único filho, Isaque", ordenou o Senhor a Abraão, "a quem amas, e vai-te a terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes, que eu te mostrarei" (Gn 22.2). 0 escritor sagrado poupa-nos uma visão detalhada da agonia que Abraão passou naquela noite, nas colinas próximas de Berseba, quando ele teve de solucionar a questão com Deus. Mas, na imaginação, podemos contemplar, com admiração, sua forma encurvada e convulsa a lutar sozinho, sob as estrelas. Antes que outro "maior do que Abraao" viesse ao mundo e agonizasse no jardim do Getsemani, talvez nenhum outro coração humano tivesse experimentado uma dor tão profunda. Se ao menos Deus lhe houvesse permitido morrer em lugar de Isaque . . . Isso lhe teria sido mil vezes mais fácil, ja que atingira idade avançada, e morrer não seria um sacrifício tão grande para quem andara com Deus durante tantos anos. Outrossim, teria tido um último e doce prazer em repousar sua visão já cansada sobre a figura de seu intrepido filho, que viveria para levar adiante a linha abraâmica e cumprir, em si mesmo, as promessas que Deus lhe fizera, haátantos anos, quando ainda se encontrava em Ur dos caldeus.

Como podia ele imolar o jovem? Mesmo que pudesse conseguir o consentimento de seu coração ferido e inconformado, como poderia Abraão conciliar essa atitude de Deus com a promessa que dizia: "... por Isaque será chamada a tua descendencia"? (Gn 21.12.) Essa foi a prova de fogo de Abraão, mas ele não caiu, ao enfrentar esse cadinho de aflição. Enquanto as estrelas ainda resplandeciam como pontas agudas e rebrilhantes, bem acima da tenda onde dormia o jovem Isaque, e muito antes da cinzenta madrugada haver raiado no oriente, aquele velho homem de Deus já tomara a sua resolução. Ofereceria seu filho em holocausto, conforme o Senhor lhe ordenara, e depois confiaria em que Deus o ressuscitaria dos mortos. E essa, no dizer do escritor da epístola aos Hebreus, foi a solução que seu coração sofredor encontrou, durante aquela noite de luta. Assim, ele se levantou "de madrugada", para executar o seu plano. E interessante notar que, apesar de haver-se equivocado quanto ao método que Deus empregaria, ele compreendera perfeitamente o grande mistério do coração divino. E a solução estava integramente de conformidade com as Escrituras do Novo Testamento: "E quem perder a vida por minha causa, achá-la-a".

Deus permitiu que aquele homem sofrido prosseguisse com o plano até o ponto em que provou que não retrocederia mais, e ai então impediu-o de tocar no filho. E ao patriarca perplexo, Deus disse: "Chega, Abraão. Na realidade nunca tencionei que você realmente sacrificasse seu filho. Eu queria apenas remove-lo do santuário de seu coração, para que eu possa reinar ali sem rivais. Desejava corrigir a distorção de seu afeto. Pode ficar com seu filho, são e perfeito. Tome-o e volte para a sua tenda. Agora sei que você teme a Deus, ja que nâo me negou seu filho, seu único filho, a quern voce tanto ama." 

Abriram-se os céus e ouviu-se uma voz que lhe dizia: "Jurei por mim mesmo, diz o Senhor, porquanto fizeste isso, e não me negaste o teu único filho, que deveras te abencoarei e certamente multiplicarei a tua descendencia como as estrelas dos céus e como a areia na praia do mar; a tua descendencia possuirá a cidade dos seus inimigos, nela serão benditas todas as nações da terra: porquanto obedeceste a minha voz." (Gn 22.16-18.)

Agora era uma pessoa totalmente rendida ao Senhor, perfeitamente obediente, um homem que nada possuia além de Deus. Concentrara tudo na pessoa de seu filho querido, mas o Senhor o tomara dele. Deus poderia ter comecado a operar na vida de Abraão, da periferia para o coração; mas preferiu atingir diretamente o coração primeiro, fazendo toda a obra com um golpe subito de separação. Agindo assim poupou tempo e recursos. Foi um método que o feriu cruelmente, mas grandemente eficaz.

Muitas vezes temos reservas quanto a entregar nossos tesouros ao Senhor, por temer pela segurança dos mesmos, principalmente quando esses tesouros são nossos parentes ou amigos muito amados. Todavia, nao precisamos ter medo. O Senhor Jesus não veio para destruir, mas para salvar. Tudo quanto for entregue a ele, fica em perfeita seguranca, pois, na realidade, nada está garantido enquanto não for entregue a Ele.
Todos os nossos dons e talentos também deveriam ser-lhe entregues. Deveríamos considerá-los o que de fato são: empréstimos que Deus nos faz; e nunca propriedade nossa. Não temos nenhum direito de reivindicar os méritos dessas habilidades especiais, tanto quanto não teríamos de reivindicar os de nossas qualidades físicas. "Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido?" (1 Co 4.7.)

Se queremos de fato conhecer a Deus em crescente intimidade, precisamos palmilhar o caminho da renúncia. E, se estamos resolvidos a andar a procura de Deus, mais cedo ou mais tarde ele nos submetera a um teste. O teste pelo qual Abraão passou, no momento em que aconteceu, não foi reconhecido como tal; não obstante, se houvesse tornado um curso diferente daquele que tomou, toda a historia do Velho Testamento teria sido diferente. Sem dúvida, Deus teria encontrado outro homem, mas a perda que Abraão sofreria teria sido trágica. Assim também, nós, um por um, seremos levados a enfrentar um teste, muitas vezes sem sabermos que estamos sendo provados. Neste teste não encontraremos dezenas de opções para nossa escolha, mas somente uma, é sua alternativa. E todo o nosso futuro dependerá da escolha que fizermos.



"Pai, desejo conhecer-te, mas meu coração covarde teme desistir de seus brinquedos. Não posso desfazer-me deles sem sangrar por dentro, e não procuro esconder de ti o terror da separação. Venho tremendo, mas venho. Por favor, extirpa do meu coração todas aquelas coisas que estou amando há tanto tempo, e que se foram tornado parte integrante deste "viverparamimmesmo", a fim de que tu possas entrar e habitar ali sem qualquer rival. Então tornarás glorioso o estado dos teus pés. Meu coração não tem mais necessidade da luz do sol, porquanto tu mesmo será o seu sol iluminador, e ali não haverá mais noite. Em nome de Jesus. Amém".

"Leonard Ravenhill - Por que tarda o pleno avivamento"


Conhecido No Inferno

Alguns pregadores dominam bem o assunto de que tratam; outros são dominados por eles. De vez em quando encontramos um que além de dominá-lo bem, também é dominado por ele. Tenho certeza de que o apóstolo Paulo pode ser incluído entre estes.

Vejamos um episódio ocorrido em Éfeso (At 19). Sete homens estavam tentando libertar um endemoninhado, utilizando determinada fórmula religiosa. Mas dirigir termos teológicos e até mesmo versículos bíblicos a um endemoninhado é um método ineficaz de libertação. Seria o mesmo que tentar deslocar a rocha de Gibraltar atirando-lhe bolas de neve. E o homem dominado pelo demônio, apesar de ser um só, subjugou facilmente aqueles tolos. E enquanto os filhos de Ceva saíam correndo para a rua, nus e derrotados, o que estava possesso de um espírito imundo acrescentava ao seu guarda-roupa mais sete vestes. E a imagem dos sete, feridos e amedrontados, já dizia tudo. Mas Deus usou a insensatez deles para glorificar o nome de Cristo, pois por causa desse episódio o nome dele foi engrandecido. Adeptos do espiritismo foram salvos; judeus e gregos se converteram; queimaram-se, em enorme fogueira, livros de artes mágicas, cujo valor chegava a cinqüenta mil moedas de prata. Certamente esse acontecimento fez com que até a ira humana o louvasse (Sl 76.10). E observemos ainda o testemunho do demônio: “Conheço a Jesus, e sei quem é Paulo; mas vós, quem sois?” (At 19.15). Esse é o maior elogio que o inferno pode fazer a alguém: associar seu nome ao de Jesus.

Mas como foi que Paulo se tornou este tipo de cristão? Por que os demônios o conheciam? Já o haviam derrotado também, ou fora ele quem os derrotara? Pensemos um pouco nesse apóstolo. Ele conhecia a Deus intimamente, a ponto de o Senhor lhe fazer revelações. Os anjos o serviam; suas orações provocavam terremotos. Suas palavras, dinamizadas pelo poder do Espírito, estraçalharam os grilhões que acorrentavam uma jovem dominada por espíritos malignos, que era explorada por seus patrões fazendo adivinhações. Em Corinto, esse poderoso homem de Deus ensinou a Palavra e estabeleceu uma igreja, bem à porta do diabo. Mais tarde, conquistou almas na própria casa de César, bem debaixo do nariz do imperador. E sentia-se perfeitamente à vontade até na presença de reis: “Tenho-me por feliz, ó rei Agripa!” Além disso, invadiu os domínios da capital intelectual do mundo com a mensagem da ressurreição, chegando a deixar confusos os seus sábios. Enquanto Paulo viveu, o inferno não teve paz.

Mas qual era a armadura dele? Onde afiava sua espada? Uma expressão que ele emprega várias vezes é: “Estou bem certo”. Esse é o segredo de tudo. Ele se achava dominado pela verdade revelada, como se ela possuísse garras. E a Palavra de Deus, como o próprio Deus, é imutável. O apóstolo estava como que ancorado nas profundezas da fidelidade de Deus. Sua arma era a Palavra do Senhor; sua força era a fé que depositava na Palavra, Então o Espírito o alertava a respeito da estratégia que o diabo iria utilizar contra ele. Paulo estava sempre ciente de seus estratagemas. E assim o inferno se desesperava. Mesmo numa ocasião em que alguns homens tencionavam assassiná-lo, alguém descobriu a trama, e assim os demônios e homens viram seu plano frustrado.

Estar salvo do inferno e livre de cometer os pecados mais grosseiros é muito bom, mas, a meu ver, é uma condição espiritual muito elementar. Quando Paulo foi à cruz de Cristo, experimentou o milagre da regeneração e da conversão. Mas, depois, quando foi crucificado com Cristo, conheceu um milagre maior, o da identificação. Acredito ser esse o mais forte argumento do apóstolo — estar morto e vivo, ao mesmo tempo. “Porque morrestes”, diz Paulo aos colossenses. Vamos aplicar isso à nossa vida. Nós já morremos? Já morremos para as acusações e para os elogios? Morremos para o que ocorre no mundo, para as opiniões humanas? Morremos a ponto de não fazer mais caso do reconhecimento dos outros? Morremos de tal modo que não protestaremos se alguém receber os louvores por algo que foi idéia nossa? Ah que sublime, doce e gratificante experiência essa, de termos Cristo vivendo em nós por meio de seu Espírito! E assim podemos cantar como Wesley:

“Morri para o mundo e seus prazeres

Para sua inútil pompa e gozo passageiro!

Jesus, sê minha glória!”

E, Paulo havia morrido. Mas depois acrescenta: “Já não sou eu quem vive”. O cristianismo é a única religião do mundo cujo Deus vive dentro daquele que crê nele. E Paulo já não lutava mais contra a carne (nem contra a sua, nem a dos outros). Sua luta agora era contra “os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso”. Será que isso explica por que aquele demônio disse: “e sei quem é Paulo!” É que o apóstolo estivera lutando contra as potestades demoníacas. (Em nossos dias, essa arte de ligar e desligar que Paulo dominava tão bem está quase esquecida, ou totalmente ignorada). E ao dar a última volta de sua corrida terrena, ele afirmou: “Combati o bom combate”. Os demônios devem ter dito “amém” a essa declaração, pois sofreram mais com Paulo do que o apóstolo com eles. É verdade. Paulo era conhecido no inferno.

Outro fator que o levava a ser tão destemido era o conhecimento que tinha da ira de Deus para com o pecado. “E assim conhecendo o temor do Senhor, persuadimos aos homens”. (2Co 5.11). Paulo via o pecador como um perdido! Outro dia vi alguém projetar um eslaide numa tela, mas a imagem estava embaçada, e não dava para identificar nada. Mas aí o operador acertou o foco e como a imagem melhorou! Assim também, nós, os crentes, estamos precisando enxergar com clareza o estado de perdição em que se encontram os homens, pois nossos olhos se acham embaçados com relação à eternidade. É preciso que Deus acerte o foco de nossa visão.

Paulo amava a Deus com perfeito amor e por isso odiava o pecado com ódio ferrenho. Por isso também via as pessoas não apenas como meros pródigos, mas também como rebeldes contra Deus; não apenas como se afastados da retidão, mas como conspiradores, aliados com a iniqüidade, que teriam de ser castigados ou então perdoados. E ele atacava a impiedade dos que se achavam subordinados às potestades demoníacas, com a intensidade do ardente fogo do amor. Sua senha era: “Uma coisa faço”. Ele não tinha interesses secundários, nem livros para vender. Não tinha ambições pessoais, por isso não tinha nada para zelar. Não tinha reputação, logo não tinha que lutar para defendê-la. Não possuía bens; portanto não tinha nada com que se preocupar. Não tinha direitos, então não havia motivos para se julgar vítima de injustiças. Já era falido; quem poderia roubar dele? Estava “morto”, quem poderia matá-lo? Era menor do que os menores; portanto ninguém conseguiria humilhá-lo. Perdera todas as coisas, logo ninguém poderia lográ-lo. Será que isso explica melhor por que o demônio disse: “E sei quem é Paulo?” O inferno deve ter tido muita dor de cabeça com esse homem cheio de Deus.

E havia ainda outra âncora, na qual se firmava esse grande homem de Deus: a eficácia do sangue de Jesus e sua capacidade de salvar totalmente. “Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus”. Verdade, mas Cristo pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus. Que o mundo possa vir a conhecer esse Cordeiro que opera tão perfeita expiação! Para Paulo a expiação não era algo limitado. Fora zelote e continuava a ser. À luz de um inferno eterno de que valeriam os efêmeros bens terrenos?

E em nossos dias também, de que valem as honrarias humanas? Ou os planos do inferno? Neste momento os homens estão tão perdidos como estarão depois que morrerem. Neste momento, a alma deles está sendo arrastada para um redemoinho de terrível iniqüidade, que por fim os precipitará no inferno eterno. Isso é verdade? Paulo estava convicto de que o era. Então, “Desperta, desperta, arma-te de força, braço do Senhor” (Is 51.9). E posso até ouvir Paulo dizer: “Faz de mim tua espada, teu armamento de guerra”.

Outra verdade sobre a qual Paulo se apoiava era a bendita certeza de que “deixar o corpo” era “habitar com o Senhor” (2Co 5.8). Para ele não há o sono da alma, nem aquele interminável estado intermediário, nada disso. Sair de uma vida é entrar logo na outra. Ante a idéia da eternidade, a linguagem era falha, e a imaginação claudicava. E ele considerava as chicotadas, as cadeias, os jejuns, cansaços e dores como uma “leve e momentânea tribulação”, que seria compensada pelo fato de que “estaremos para sempre com o Senhor”. Os demônios desperdiçaram sua munição contra Paulo. Portanto, é de se admirar que um deles tenha dito “e sei quem é Paulo?”

E a última verdade sobre a qual o apóstolo ancorava sua alma era: “Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo” (2Co 5.10). O fato de ele viver sempre com os olhos fixos nos valores eternos fez com que essa prova final também perdesse seu aguilhão. Vivendo da maneira certa aqui na terra (e não me refiro apenas em viver retamente, mas segundo o padrão proposto na Palavra de Deus), resolve-se o problema do além. Paulo se tornara tão semelhante ao Filho que podia dizer: “O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai” (Fp 4.9). De um modo geral, é meio arriscado imitar uma cópia. Mas no caso de Paulo não, pois ele se achava plenamente rendido a Cristo, santificado e satisfeito, isto é, “aperfeiçoado em Cristo”.

Será que alguém ainda acha estranho um demônio haver dito “e sei quem é Paulo?” Eu não.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A. W. Tozer - "O melhor de A. W. Tozer"

Nascido Depois da Meia-Noite

Entre cristãos afeitos a avivamentos tenho ouvido este ditado: "Os avivamentos nascem depois da meia-noite".

É um provérbio que, embora não inteiramente verdadeiro, se tomado ao pé da letra, aponta para algo bem verdadeiro.

Se entendemos que esse ditado significa que Deus não ouve a nossa oração por avivamento, se for feita durante o dia, evidentemente não é verdadeiro. Se entendemos que significa que a oração que fazemos quando estamos cansados e exaustos tem maior poder do que a que fazemos quando estamos descansados e com vigor renovado, outra vez não é verdadeiro. Certamente Deus teria de ser muito aus¬tero para exigir que transformemos a nossa oração em penitência, ou para gostar de ver-nos impondo-nos punição a nós mesmos pela intercessão. Traços destas noções ascéticas ainda se encontram entre alguns cristãos evangélicos, e, conquanto esses irmãos sejam reco¬mendados por seu zelo, não devem ser desculpados por atribuir inconscientemente a Deus algum vestígio de sadismo indigno até dos seres humanos decaídos.

Contudo, há considerável verdade na idéia de que os avivamentos nascem depois da meia-noite, pois os avivamentos (ou quaisquer outros dons e graças espirituais) só vêm para os que os desejam com angustiosa intensidade. Pode-se dizer sem reserva que todo homem é tão santo e tão cheio de Espírito como o deseja. Ele não pode estar tão cheio como gostaria, mas com toda a certeza está tão cheio como deseja estar.

Nosso Senhor colocou isto fora de discussão quando disse: "Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos". Fome e sede são sensações físicas que, em seus estágios agudos, podem tornar-se verdadeira dor. A experiência de incontáveis pessoas que procuravam a Deus é que, quando os seus desejos se tornaram dolorosos, foram satisfeitos repentina e maravilhosamente. O problema não consiste em persuadir Deus a que nos encha do Espírito, mas em desejar a Deus o suficiente para permitir-Lhe que o faça. O cristão comum é tão frio e se mostra tão contente com a sua pobre condição, que não há nele nenhum vácuo de desejo no qual o bendito Espírito possa derramar-se em satisfatória plenitude.

Ocasionalmente aparece no cenário religioso alguém cujos anelos espirituais insatisfeitos vão ganhando tanto volume e importância em sua vida, que expulsam todos os outros interesses. Tal pessoa se recusa a contentar-se com as orações seguras e convencionais dos enregelados irmãos que "dirigem em oração" semana após semana e ano após ano nas assembléias locais. Suas aspirações a levam longe e muitas vezes o tornam incômodo. Seus irmãos em Cristo, perplexos, sacodem a cabeça e olham uns para os outros com ar de entendidos, mas, como o cego que clamou por sua vista e foi repreendido pelos discípulos, "ele, porém, cada vez gritava mais".

E se não tiver ainda satisfeito as condições, ou se houver alguma coisa impedindo a resposta à sua oração, poderá prosseguir orando até as horas tardias da noite. Não a hora da noite, mas o estado do seu coração é que decide o tempo da sua visitação. Para este irmão bem pode acontecer que o avivamento venha depois da meia-noite.

Todavia, é muito importante que nós compreendamos que as longas vigílias em oração, ou mesmo o forte clamor e as lágrimas, não são em si mesmos atos meritórios. Toda bênção flui da bondade de Deus como de uma fonte. Ainda aquelas recompensas das boas obras sobre as quais certos mestres falam tão servilmente, sempre em contraste agudo com os benefícios recebidos somente pela graça, no fundo são tão certamente de graça como o próprio perdão do pecado. O mais santo apóstolo não pode ter a pretensão de ser mais que um servo inútil. Os próprios anjos subsistem graças à pura bondade de Deus. Nenhuma criatura pode "ganhar" nada, no sentido comum da palavra (de trabalhar para ganhar ou de receber por merecimento ou de adquirir pagando). Todas as coisas pertencem à bondade soberana de Deus e por ela nos são dadas.

A senhora Juliana resumiu lindamente isso quando escreveu: "Honra mais a Deus, e O agrada muito mais, que oremos fielmente a Ele por Sua bondade e nos apeguemos a Ele por Sua graça, e com verdadeiro entendimento, permanecendo firmes por amor, do que se empregássemos todos os recursos que o coração possa imaginar. Pois se usássemos todos os recursos, seria muito pouco, e não honraria plenamente a Deus. Mas em Sua bondade, a ação é mais que com¬pleta, faltando exatamente nada... Pois a bondade de Deus é a oração mais elevada, e desce às partes mais fundas da nossa neces¬sidade".

Apesar de toda a boa vontade de Deus para conosco, Ele não pode atender aos desejos do nosso coração enquanto os nossos desejos não forem reduzidos a um só. Quando tivermos dominado as nossas ambições; quando tivermos esmagado o leão e a víbora da carne, e calcado o dragão do amor próprio sob os nossos pés, e nos consi¬derarmos verdadeiramente mortos para o pecado, então, e só então, Deus poderá elevar-nos à novidade de vida e encher-nos do Seu bendito Espírito Santo.

Ê fácil aprender a doutrina do avivamento pessoal e da vida vitoriosa; é coisa completamente diversa tomar a nossa cruz e afadigar-nos na escalada do sombrio e áspero morro da renúncia. Aqui muitos são chamados, poucos escolhidos. Para cada um que de fato passa para a Terra Prometida, muitos ficam por um tempo, olhando ansiosamente através do rio e depois retornam tristemente à segurança relativa das vastidões arenosas da vida antiga.

Não, não há mérito nas orações feitas a desoras, mas requer disposição mental séria e coração determinado deixar o comum pelo incomum no modo de orar. A maioria dos cristãos nunca o faz. E é mais que possível que as poucas almas que se empenham na busca da experiência incomum cheguem lá depois da meia-noite.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Os Milagres Seguem o Arado


Por A. W. Tozer - "O melhor de A. W. Tozer"

 

"Arai o campo virgem; porque é tempo de buscar ao Senhor, até que ele venha e chova a justiça sobre vós". Os 10: 12

Vemos aqui dois tipos de solo: o solo duro ou virgem e aquele que foi amaciado pelo arado.

O solo duro é convencido, complacente, protegido dos golpes do arado e da agitação pela grade. Um campo assim, abandonado ano após ano, acaba tornando-se a habitação do corvo e do gaio. Se tivesse inteligência, poderia ter em alta conta a sua reputação; possui estabilidade; a natureza adotou-o; pode ser tomado como certo que continuará sempre o mesmo,' enquanto os campos que o rodeiam mudam de marrom para verde e de verde para marrom de novo. Seguro e tranqüilo, ele se espalha preguiçosamente ao sol, um verdadeiro retrato da satisfação sonolenta. Mas o preço que paga pela sua tranqüilidade é terrível: pois ele não vê o milagre do crescimento; não sente os movimentos da vida em crescendo nem aprecia os prodígios da semente brotando ou a beleza do grão que amadurece. Jamais pode conhecer fruto porque teme o arado e a grade.

Em oposição direta a isto, o campo cultivado entregou-se à aventura de viver. A cerca protetora abriu-se para dar entrada ao arado, e este veio como todos eles vêm, prático, cruel, apressado. A paz foi quebrada pelos gritos do fazendeiro e o ruído das máquinas. O campo sentiu o labor da mudança; foi perturbado, revolvido, ferido e quebrado, mas suas recompensas valem o sofrimento a que se submeteu. A semente manifesta à luz do dia seu milagre de vida, curiosa, explorando o mundo à sua volta. Em todo o campo a mão de Deus está operando no serviço da criação, velho como o tempo e sempre renovado. Novas coisas nascem, crescem, amadurecem e realizam a grande profecia latente no grão quando foi colocado no solo. Os prodígios da natureza seguem o arado. Há também duas espécies de vida: a dura e a arada. Para obter exemplos de uma vida endurecida não precisamos ir longe. Existem muitas ao nosso redor.


O homem de vida endurecida está contente consigo mesmo e com o fruto que produziu no passado. Não quer que o incomodem. Sorri com superioridade quando ouve falar de reavivamentos, jejuns, auto-análises, e todas as tarefas ligadas à produção de frutos e à angústia do crescimento. O espírito de aventura morreu nele. É estável, "fiel", sempre em seu lugar costumeiro (como o velho campo), conservador e uma espécie de marco na pequena igreja. Mas é estéril. A maldição de uma vida assim é o fato de ser fixa, tanto em tamanho como em conteúdo. Ser tomou o lugar de tornar-se. O pior que pode ser dito de tal indivíduo é que é o que irá ser. Ele encerrou-se entre quatro paredes e, através desse mesmo ato, deixou Deus do lado de fora e também o milagre.

A vida arada é aquela que, no ato do arrependimento, derrubou as cercas protetoras e enviou o arado da confissão à alma. O estímulo do Espírito, a pressão das circunstâncias e a angústia por uma vida sem frutos, combinaram-se para humilhar o coração. Uma vida assim abaixou as suas defesas, e abandonou a segurança da morte pelo perigo da vida. O descontentamento, a ansiedade, a contrição, a obediência corajosa à vontade de Deus: feriram e quebraram o solo até que esteja novamente preparado para a sementeira. E, como sempre, o fruto segue o arado. A vida e o crescimento começam à medida que Deus faz "chover justiça". Uma pessoa assim pode testemunhar: "E a mão do Senhor estava sobre mim."

Em correspondência a esses dois tipos de vida, a história religiosa mostra duas fases, a dinâmica e a estática. Os períodos dinâmicos foram aqueles tempos heróicos em que o povo de Deus atendia ao chamado do Senhor e saía para levar ousadamente seu testemunho ao mundo. Eles trocaram a segurança da inação pelos riscos do progresso inspirado por Deus. O poder de Deus seguia-se invariavelmente a tais atos. O milagre de Deus acompanhava seu povo aonde quer que ele fosse; parava quando seu povo parava.

Os períodos estáticos foram aqueles em que o povo de Deus se cansava de lutar e buscava uma vida de paz e segurança. Eles então se ocupavam tentando conservar os bens obtidos naqueles tempos mais ousados em que o poder de Deus se movia entre o povo.

A história bíblica está repleta de exemplos. Abraão "partiu" em sua grande aventura de fé, e Deus o acompanhou. Revelações, teofanias, a dádiva da Palestina, alianças e promessas de ricas bênçãos foram o resultado. Israel seguiu então para o Egito, e os prodígios cessaram durante quatrocentos anos. No final desse período, Moisés ouviu o chamado de Deus e adiantou-se para enfrentar o opressor. Uma torrente de poder acompanhou esse desafio e Israel logo se pôs em marcha. Enquanto ousou marchar, Deus enviou seus milagres a fim de abrir-lhe o caminho. Toda vez que a nação parava como um campo endurecido, Ele retirava a sua bênção e aguardava que se levantasse de novo e pedisse pelo seu poder.

Este é um esboço rápido mas justo da história de Israel e da Igreja. Enquanto "saíam e pregavam em toda parte", o Senhor operava junto a eles. . . confirmando a palavra por meio de sinais". Mas quando se retiravam para monastérios ou brincavam de edificar lindas catedrais, o auxílio de Deus era sustado até que um Lutero ou um Wesley se levantasse para desafiar novamente o inferno. Deus derramava então invariavelmente o seu poder como fizera antes.

Em toda denominação, sociedade missionária, igreja local ou cristão individual, vemos esta lei em operação. Deus opera quando seus filhos vivem ousadamente. Ele se interrompe quando não há mais necessidade de sua ajuda. No momento em que buscamos proteção fora de Deus, nós a encontramos em prejuízo próprio. No momento em que construímos uma parede de segurança feita de doações, leis secundárias, prestígio, múltiplos agentes para a delegação de nossos deveres, a paralisia se introduz imediatamente, uma paralisia que só pode terminar em morte.

O poder de Deus só vem atendendo ao apelo do arado Ele só é liberado na igreja quando ela estiver fazendo algo que necessite do mesmo. Com a palavra "fazendo" não quero indicar simples atividade. Já existe excesso de "movimento" nela, mas com tocas essas atividades ela cuida para manter intocado o campo endurecido. Ela toma precauções para confirmar sua movimentação, dentre dos limites da completa segurança. Essa a razão pela qual é estéril, não dá fruto. Está segura, mas amadurecida.

Olhe à sua volta e veja os milagres de poder que estão tendo lugar, veja onde eles se realizam. Não é no seminário onde cada pensamento é preparado para o aluno, sendo recebido sem esforço e de segunda mão; não é na instituição religiosa onde a tradição e o hábito tornaram a fé desnecessária; não é na velha igreja onde placas memoriais são colocadas sobre os móveis, prestando um testemunho silencioso quanto a glória que já se foi. Onde a fé destemida está lutando para avançar contra toda e qualquer oposição, Deus invariavelmente se encontra junto a ela, enviando "ajuda do santuário".

Na sociedade missionária a que pertenci durante muitos anos, notei que o poder de Deus sempre pairou sobre as nossas fronteiras. Milagres acompanharam nossos avanços e cessaram quando e onde permitimos que a complacência se introduzisse e deixamos de avançar. O credo do poder não pode salvar um movimento da esterilidade. É preciso que haja também o trabalho do poder.

Estou porém mais preocupado com o efeito desta verdade na igreja local e no indivíduo. Olhe para aquela igreja onde a abundância de fruto era antes a coisa regular e esperada, mas agora ele é pouco ou nenhum, e o poder de Deus parece estar em suspenso. Qual o problema? Deus não mudou, nem o seu propósito para essa igreja modificou-se de forma alguma. Nada disso, foi a igreja que mudou.

Uma auto-análise breve revelará que tanto ele como seus membros endureceram. Ela viveu e trabalhou, mas aceitou agora um estilo de vida mais fácil. Contenta-se com realizar seu programa sem demasiado esforço, com dinheiro suficiente para pagar suas contas e um número de membros bastante grande para assegurar seu futuro. Os membros esperam dela agora segurança em vez de orientação na batalha entre o bem e o mal. Ela se tornou uma escola em lugar de um acampamento. Seus membros são estudantes e não soldados. Eles estudam as experiências de outros cm lugar de buscar novas experiências por si mesmos.

O único caminho para o poder em tal igreja é sair do esconderijo e mais uma vez tomar o caminho cheio de perigos da obediência. A sua segurança é o seu maior inimigo. A igreja que teme o arado escreve o seu próprio epitáfio: a igreja que usa o arado anda pelo caminho do reavivamento.