sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Coração de Peregrino

 
“Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus” (1 Co 2.12)


Nosso destino em Deus foi determinado pela obra da cruz. Através dela todos podemos compartilhar da vitória de Jesus e viver uma vida que reflita o Reino de Deus. O grande problema é que alguns não conhecem aquilo que nos foi dado gratuitamente por Ele. Não digo o conhecer intelectual, porque isso muitos já tem, mas falo daquela certeza profunda que invade o coração do peregrino. Ele sabe que foi comprado e recebe inteiramente os benefícios do Reino. O Espírito de Deus nos foi dado para que pudesse operar esta certeza em nós: Não somos deste mundo.
O conhecimento de que pertencemos a Deus não pode ser adquirido nas salas de aula de nenhuma faculdade teológica do mundo. O Espírito precisa soprar o seu vento sobre a verdade para que ela possa fazer algum sentido no nosso coração. Este é o tipo de conhecimento inexplicável. Um tipo de conhecimento que nosso cérebro não conseguirá processar porque é da natureza do espírito e só poderá ser conhecido por ele. O Espírito traz à vida as promessas de Deus para nós e nos faz conhecer aquilo que nos foi dado, operando a transformação de “homens deste mundo” em “Filhos de Deus”. C.S Lewis fala disto em um dos seus mais famosos livros chamados Mere Christianity:


“O Filho de Deus está do seu lado. Ele está começando a transformar você no tipo de coisa que ele é. Está começando, por assim dizer, a injetar a Sua vida e o Seu Pensamento, a Sua Zoe [vida],em você;começando a transformar o soldado de chumbo num homem vivo. A parte de você que não gosta disto é aquela que ainda é chumbo”. (C.S Lewis em Mero Cristianismo)


“O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito de que somos filhos de Deus” (Rm 8.16)


Este testemunho do Espírito nos leva para outro nível de vida. Na verdade, somente este testemunho, alcançado na experiência de novo nascimento, nos dá a vida que nunca tivemos. A palavra de Deus nos ensina de que antes andávamos mortos em nossos delitos e pecados (Efésios 2.5). Não havia vida em nós! Havia simplesmente “existência carnal”. O espírito nos dá vida. O que é a verdadeira vida? É uma existência de comunhão com Deus. Quando longe dele, o homem não vive; existe. Quando nos aproximamos dele, provamos do verdadeiro propósito da Criação: Amizade com Deus. O coração do peregrino alcança o pleno conhecimento de que não pertence mais a este mundo e de que precisa caminhar em direção a Deus através da poderosa obra do Espírito Santo.
Ontem estive visitando uma das nossas células de multiplicação. A visão é bem simples. Consiste em preparar líderes dentre o rebanho, para que possam exercer seus dons e frutificar nos bairros onde moram. A igreja primitiva funcionava assim e foi um sucesso, não é verdade? Da mesma forma, as casas onde funcionam as células são faróis na comunidade onde as pessoas encontram alivio para sua solidão e o bom ensinamento da palavra de Deus, sem a formalidade da igreja institucional. A reunião foi mesmo bem informal ontem. A líder da célula estava aniversariando e essa era uma das causas do clima alegre do lugar. A outra era a de que estávamos cheios de convidados! Eles tinham me pedido para dar uma pequena palavra. Falei sobre “ser amigo de Jesus” e que nenhum dos seus amigos vai para o inferno.
Aliás, deixe me perguntar se você sabia disto. Você sabia que nenhum dos amigos de Jesus vai para o inferno? Ao final , quando orava pela célula, disse que o Espírito Santo ministraria aos corações sobre aquela verdade. Quando acabei de dizer isto, pude observar lágrimas em muitos olhos ali. Você sabe por quê? Dentro daquelas pessoas, Deus estava fazendo ressoar um chamado para a amizade. Até mesmo aqueles que nunca haviam ido à célula antes, puderam sentir um inexplicável desejo de conhecer mais de Deus. O Espírito de Deus estava operando vida naquele lugar, atraindo o homem para mais perto Dele.
Quando o Apóstolo Paulo escreve o Livro de Romanos ele quer, principalmente, defender as doutrinas básicas do Evangelho de Jesus. Logo após o capitulo 7, que fala da lei e da graça, ele começa um dos capítulos mais esclarecedores sobre a diferença entre o coração do peregrino e o do homem carnal. A grande diferença, ele explica, é a de que:


“Os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da Carne; mas os que são segundo o Espírito, para as coisas do Espírito”. (Romanos 8.5)


Um coração cheio da presença de Deus será um verdadeiro coração peregrino. Ele gradualmente vencerá a natural tendência do homem de chafurdar na lama e o fará olhar para o céu. Algumas pessoas se perguntam: Como Deus espera que eu viva para ele rodeado por uma sociedade que não se importa com coisas espirituais e elogia o pecado? Bem, ele espera que você seja guiado pelo Espírito de Deus.
“Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são Filhos de Deus” (Rm 8.14)
Gostaria de fazer uma pequena pausa aqui somente para clarear um ponto do nosso pensamento. O fato de não sermos deste mundo não significa que somos completamente imprestáveis para ele. Enquanto peregrinos trazemos em nós os rumores de um outro lugar, abrindo espaço para a influência dele aqui. O Reino do qual pertencemos está disponível para as pessoas que queiram se juntar conosco nesta peregrinação. Ele está disponível hoje e agora. A vida eterna em Jesus já começou dentro dos que peregrinam.


Aliens
Deveríamos acordar todos os dias e viver como um extraterrestre que acabou de pousar em um planeta estranho. Convido você a imaginar agora uma situação envolvendo este extraterrestre cristão. Vamos imaginar que talvez ele tenha um “Guia do alienígena viajante” que dá todas as dicas para uma estadia no “planeta azul”, sem maiores confusões. Se ele obedecer ao guia, poderá aproveitar a viagem tranquilamente. Por outro lado, se não der atenção a ele, talvez inicie a primeira guerra nas estrelas. Nosso Alien precisa ser guiado por aquelas dicas, de outra forma correrá alguns riscos. Sabe qual o maior risco de um peregrino? A perda de sua cultura e a aquisição da cultura local. Na verdade, este é um processo natural operado pelo tempo. Sem prestar atenção, qualquer peregrino pode esquecer-se da jornada e estacionar. Se isso acontece, ele para de ser um peregrino e virá mais um habitante do local.
Então, se aquele alienígena esquecer-se de seu guia, poderá começar a pensar como os terráqueos, para quem: o bom mesmo é ter vantagem em tudo, olho por olho e dente por dente é a regra a ser seguida, mentir é justificável e fidelidade conjugal é relativa; para resumir alguns dos pensamentos correntes no local.
O coração do peregrino tem que ser um coração de outro mundo. Aquele que anda na carne não pode agradar a Deus. (Rm 8.8) Temos que ser integrantes de uma cultura alien. Não precisamos nos envergonhar por sermos tão diferentes e este é o ponto forte do Cristianismo: Não pertencemos a nenhuma destas cidades, estamos peregrinando para a cidade de Deus. Como pessoas de outro Reino, temos um guia na terra: O Espírito Santo. Não seria a Bíblia? Sim, em parte.
A palavra de Deus ensina que a letra, por si só, mata. O Espírito dá vida à letra. É o Consolador que nos traz o entendimento profundo da palavra, fazendo com que ela seja recebida no coração, ao invés de simplesmente no córtex cerebral. Se desprezarmos esta verdade, começaremos a achar normais todas às aberrações do homem carnal; como já tem acontecido com muitos cristãos que se esqueceram que não são deste mundo. É essencial ser um “alien” guiado pelo Espírito Santo. Alguém que anda neste mundo, mas não o reconhece como seu.


Oração: Oh Deus, eu reconheço que tenho me acostumado com este mundo e seus costumes. Reconheço que deixei de ser um peregrino e aceitei as regras deste mundo. Peço a tua misericórdia sobre minha vida. Que o teu Espírito me guie a partir de hoje e que eu possa acordar todos os dias sabendo que não pertenço a este lugar. Faz-me, Oh Deus, um peregrino em terra estranha. Que as pessoas deste mundo olhem para mim e saibam que eu pertenço a ti, ao teu Reino e a tua Verdade.


por Rodrigo Arrais

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Arrepender ou Perecer

Estas foram as palavras do Filho encarnado de Deus. Elas nunca foram canceladas; e não serão, enquanto este mundo durar. O arrependimento é absoluto e necessário se é para o pecador fazer paz com Deus (Isaías 27:5), porque arrependimento é o lançar fora as armas da rebelião contra Ele. O arrependimento não salva, todavia nenhum pecador jamais foi ou será salvo sem ele. Nada senão Cristo salva, mas um coração impenitente não pode recebê-LO.

Um pecador não pode crê verdadeiramente até que ele se arrependa. Isto é claro a partir palavras de Cristo concernente o Seu precursor, "Pois João veio a vós no caminho da justiça, e não lhe deste crédito, mas os publicanos e as meretrizes lho deram; vós, porém, vendo isto, nem depois vos arrependestes para crerdes nele" (Mateus 21:32). Isso é também evidente a partir de Sua chamada como trombeta em Marcos 1:15, "Arrependei-vos, e crede no evangelho". Isto é o porque o apóstolo Paulo testificava "o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus" (Atos 20:21). Não faça confusão neste ponto querido leitor, Deus "ordena agora que todos os homens em todo lugar se arrependam" (Atos 17:30).

Em requerer arrependimento de nós, Deus está pressionando Suas justas reivindicações sobre nós. Ele é infinitamente digno de supremo amor e honra, e de universal obediência. Isto nós temos impiamente Lhe negado. Tanto um reconhecimento como uma correção disto é requerido de nós. Nossa desafeição por Ele e nossa rebelião contra Ele devem ser reconhecidas e exterminadas. Dessa forma, o arrependimento é uma compreensão profunda de quão terrivelmente tenho falhado, durante toda minha vida, em dar a Deus Seu justo lugar em meu coração e em meu andar diário.

A justiça da demanda de Deus por meu arrependimento é evidente se considerarmos a natureza hedionda do pecado. Pecado é uma renúncia dAquele que me fez. É Lhe recusar Seu direito de me governar. É a determinação de agradar a mim mesmo; assim, é uma rebelião contra o Altíssimo. O pecado é uma ilegalidade espiritual, e uma indiferença absoluta à autoridade de Deus. Ele está dizendo em meu coração: Eu não me importo com o que Deus requeira, eu vou seguir o meu próprio caminho; eu não me importo com o que Deus reivindique de mim, eu serei o senhor de mim mesmo. Leitor, você não percebe que é assim que você tem vivido?

O arrependimento verdadeiro origina-se a partir de uma compreensão no coração, operado neste pelo Espírito Santo, da excessiva malignidade do pecado, do terror de ignorar as reivindicações dAquele que me fez, de desafiar Sua autoridade. Ele é conseqüentemente um santo ódio e horror do pecado, uma profunda tristeza por ele, e o reconhecimento dele diante de Deus, e um completo abandono dele de coração. Até que isto tinha sido feito, Deus não nos perdoará. "O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia" (Provérbios 28:13).

No verdadeiro arrependimento o coração se volta para Deus e reconhece: Meu coração tem sido posto sobre um mundo vão, que não pode satisfazer as necessidades de minha alma; eu Te abandonei, a fonte de águas vivas, e me voltei para cisternas rotas que nada retêm: eu agora reconheço e lamento minha tolice. Ele ainda diz mais: eu tenho sido uma criatura desleal e rebelde, mas eu não mais serei assim. Eu agora desejo e determino com todo meu poder servir e obedecer a Ti como meu único Senhor. Eu me entrego a Ti como minha presente e eterna Porção.

Leitor, seja você um Cristão professante ou não, é arrepender ou perecer. Para cada um de nós, membro de igreja ou não, é voltar ou queimar; voltar da direção da obstinação e auto-satisfação; voltar para Deus com um coração quebrantado, procurar Sua misericórdia em Cristo; voltar com total propósito de coração de Lhe agradar e servir: ou ser atormentado dia e noite, para sempre e sempre, no Lago de Fogo. Qual deve ser sua porção? Oh, ajoelhe-se agora mesmo e implore a Deus que te dê o espírito de verdadeiro arrependimento.

"Sim, Deus, com a sua destra, o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e remissão de pecados" (Atos 5:31). "Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, o qual não traz pesar; mas a tristeza do mundo opera a morte". (2 Coríntios 7:10).


A.W. Pink

sábado, 1 de outubro de 2011

Oração em secreto - parte 2


Por David Wilkerson

Davi testifica, “Antes de ser afligido, andava errado, mas agora guardo a tua palavra” (Salmo 119:67). Ele está reconhecendo que quando tudo está calmo e sereno, e com poucos problemas, temos a tendência a nos esfriar ou a ficarmos mornos quanto à oração. Dizemos que amamos Deus, mas em nossos bons momentos podemos na verdade apostatar, negligenciando a comunhão com o Senhor. Então, às vezes, Deus permite afiadas flechas de aflição para nos acordar.

Muitos piedosos pais da igreja comentaram sobre esse assunto. João Calvino diz que nunca oferecemos obediência a Deus enquanto não formos compelidos a fazê-lo devido à Sua correção. E C.S. Lewis escreve, “Deus cochicha em nossos prazeres, mas grita em nossa dor. É o megafone dEle despertando um mundo surdo. A dor remove o véu”.

Às vezes consideramos a oração como algo muito casual. Mas na hora dos problemas nos vemos lutando com o Senhor todos os dias, até assegurarmos em nosso espírito que Ele tem tudo sob controle. Quanto mais queremos ser lembrados desta segurança, mais vamos ao nosso lugar de oração.

A verdade é que Deus nunca permite aflição em nossas vidas exceto como ato de amor. Vemos isso ilustrado na tribo de Efraim em Israel. O povo havia caído em grande aflição, e clamou ao Senhor em agonia. Ele respondeu, “Bem ouvi que Efraim se queixava” (Jeremias 31:18).

Como Davi, Efraim testifica, “Castigaste-me, e fui castigado como novilho ainda não domado; converte-me, e serei convertido, porque tu és o Senhor, meu Deus” (31:18). Em outras palavras, “Senhor, Tu nos castigaste por algum motivo. Éramos como um touro jovem, sem aprendizado, cheio de energia, mas Tu nos castigaste a fim de nos domar para o Teu serviço. Trouxeste controle à nossa fúria”.

Veja, Deus tinha grande planos para Efraim, de frutos e satisfação. Mas primeiro teriam de ser instruídos e treinados. Assim, Efraim declara, “arrependi-me; depois que fui instruído” (31:19). Na verdade disseram, “No passado, quando Deus nos tinha na sala de aula preparando-nos para o Seu serviço, não podíamos receber correção. Fugíamos, gritando ‘É muito difícil’. Éramos teimosos, sempre saindo do jugo que Ele colocava. Então Deus pôs sobre nós um jugo mais apertado, e usou Sua vara do amor para quebrar nossa teimosa vontade. Agora, nos submetemos ao Seu jugo”.

Nós também somos como Efraim: touros jovens e egoístas que não querem jugo. Evitamos a disciplina do arado, evitamos vivenciar a dor, aceitar o cajado e vara. E esperamos ter tudo agora - vitória, bênção, frutos - meramente reivindicando as promessas de Deus, ou “as tomando pela fé”. Nos irritamos por sermos treinados no lugar secreto, pela luta com Deus até que as Suas promessas sejam cumpridas em nossas vidas. Aí, quando chega a aflição, achamos “Somos o povo escolhido de Deus. Por que isso está acontecendo?”.

O lugar de oração é a nossa sala de aula. E se não tivermos esse “tempo a sós” com Jesus - se formos liberados da intimidade com Ele - não estaremos preparados quando a inundação chegar.