Perdão de Pecados
A. F. BALLENGER O perdão de pecados, como o arrependimento, é algo que o Senhor concede e que cabe a nós apenas receber. "Deus... o exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados." (At 5.31.)
Para que uma pessoa possa receber do alto o poder para testemunhar, é necessário que primeiro possa dar testemunho de que Deus perdoa os pecados. Ninguém, entretanto, pode testificar disso, a não ser que o tenha experimentado. O Espírito Santo não dará poder para tornar convincente o testemunho de alguém, quando o fruto da sua vida contradiz o fruto de seus lábios. Se o testemunho não for vivo, se não se basear na experiência e no gozo do perdão, o Espírito Santo não o apoiará, porque a própria testemunha não está em condições de testificar. E é essa a razão por que muitos que testificam, quer seja do púlpito ou de entre a congregação, são tão fracos em seu testemunho. Não falam como quem tem autoridade mas como os escribas. Se eles testemunham sem com verdade, teriam que contar que vivem ainda sob a condenação de pecado. Mas por que viver sob contínua condenação, quando o Senhor anela conceder-nos o perdão?
Certa ocasião fui convidado a visitar o lar de uma senhora de meia-idade, para ajudá-la a se encontrar com o Senhor. A conversa transcorreu mais ou menos assim:
— Quero ter certeza de que meus pecados foram perdoados, disse ela.
— A senhora já confessou seus pecados?
— Já, centenas de vezes.
— A senhora se confessa crente?
— Sim, sou membro da igreja há quarenta anos.
— Sem nunca saber que seus pecados foram perdoados?
— Sim.
— Vamos ajoelhar-nos aqui mesmo e pedir mais uma vez a Deus que a perdoe. Vamos orar com fé.
Ajoelhamo-nos e oramos. Sua oração foi contrita, sua confissão veio do coração. Quando nos levantamos, a conversa prosseguiu:
— Alegro-me pelo fato de o Senhor ter perdoado seus pecados.
— Espero que o tenha feito.
— Mas então a senhora não sabe que o Senhor a perdoou? Não lhe confessou os pecados?
— Confessei, sim.
— E o Senhor não promete que, se confessarmos os pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar e nos purificar de toda injustiça?
— Sim, promete.
— E a senhora confessou seus pecados?
— Sim, confessei.
— Então, de acordo com a palavra do Senhor, está perdoada, não está?
— É justamente isso que, por quarenta anos, tenho desejado dizer.
— A senhora não crê na Bíblia?
— Sem a menor dúvida.
— Pois então, a Bíblia não diz que, se confessarmos os pecados, Deus é fiel e justo para nos perdoar? Diz, sim.
— E a senhora crê na Escritura?
— Creio.
— Já confessou seus pecados?
— Sim, vezes após vezes.
— Então, segundo a palavra do Senhor, está perdoada, não está?
— É isso que tenho receio de dizer.
— Mas o Senhor não diz que, se confessarmos os pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados?
— É isso mesmo que ele diz.
— E a senhora, que diz? Tem coragem de afirmar que o que ele diz não é verdade? Tem coragem de dizer que não está perdoada?
— Não, isso não me atrevo a dizer.
— Mas receia dizer que está perdoada? E vive nessa dúvida há quarenta anos?
— É verdade.
— A senhora tem a certeza de ter confessado todos os seus pecados?
— Confessei todos de que tenho conhecimento.
— Confessaria mais um pecado se lhe fosse revelado?
— Confessaria sim, sem a menor hesitação.
— Mas não sabe que é pecado a sua recusa de crer na Palavra de Deus? A Palavra diz: "Aquele que não dá crédito a Deus, o faz mentiroso." (1 Jo 5.10.) Agora deixe de chamar a Deus de mentiroso e creia que ele lhe perdoa os pecados. Permita-me ajudá-la a vencer essa dúvida que a atormenta há quarenta anos. Repita comigo: "O Senhor me perdoou os pecados."
— O Senhor me... Tenho medo.
— Comecemos de novo. O Senhor me per...
— Tenho medo.
— Mas é crer em Deus ou perecer. Vamos começar outra vez: o Senhor me...
— Não consigo prosseguir; vamos orar.
De novo nos ajoelhamos, pedindo ardentemente a libertação do pecado e da incredulidade, pois o caso era desesperador. Depois nos levantamos, e mais uma vez, repeti com ela as mesmas palavras. Desta vez me acom panhou até o fim, irrompendo então em lágrimas de alegria pelo perdão recebido — alegria que ela poderia ter experimentado quarenta anos antes, não fosse a incredulidade.
Alguém exprimiu o caso de maneira clara e simples: "Não podes expiar os pecados que cometeste; não podes transformar teu próprio coração; não podes tornar-te santo. Mas Deus promete fazer tudo isso para ti através de Cristo. Crê nessa promessa. Confessa teus pecados e entrega-te a Deus. Decide-te a servi-lo. E tão certo quanto fazes isso, Deus cumpre sua palavra a ti dirigida. Se crês na promessa — crês que és perdoado e purificado — Deus cumpre a realidade: és curado, tal como Cristo deu ao paralítico o poder para andar quando o homem creu que estava curado. Se crês, é verdade.
"Não esperes sentir que estás curado, porém dize: 'Creio, e é certo, não porque eu o sinta, mas porque Deus prometeu."