sábado, 21 de abril de 2012
A. W. Tozer - O Relatório do Observador
# Excertos Extraídos de De Deus e o Homem
Se um observador ou um santo oriundo do fulgente
mundo do Alto viesse para estar entre nós por algum tempo com o poder de
diagnosticar os males espirituais do povo da igreja, há um item que estou certo
apareceria na imensa maioria dos seus relatórios: Definida evidência de
lassidão espiritual crônica; nível do entusiasmo moral extremamente baixo.
O que dá especial significado a esta condição é que
os americanos não são por natureza um povo sem entusiasmo. Na verdade gozam
reputação mundial de serem justamente o contrário. Visitantes que chegam às
nossas costas vindos doutros países nunca cessam de maravilhar-se ante o vigor
e a energia com que atacamos os nossos problemas. Vivemos febris, e se erigimos
edifícios, construímos rodovias, promovemos atividades atléticas, comemoramos
dias especiais ou recepcionamos heróis em seu regresso, sempre o fazemos com
exagerado vigor. Os nossos edifícios hão de ser mais altos, as nossas estradas
mais largas, as nossas competições atléticas mais coloridas, as nossas
celebrações mais elaboradas e mais dispendiosas do que de fato seriam em
quaisquer outros lugares da terra, Caminhamos mais depressa, dirigimos mais
depressa, ganhamos mais, gastamos mais e temos pressão sangüínea mais alta do
que qualquer outro povo do mundo.
Somente num campo de interesse humano somos lentos e
apáticos: o da religião pessoal. Aí, por alguma estranha razão, o nosso
entusiasmo lerdeia. O povo da igreja habitualmente aborda a questão da sua
relação pessoal com Deus de maneira vagarosa e desanimada, em total desacordo
com o seu temperamento geral e inteiramente incoerente com a importância do
assunto.
É verdade que existe muita atividade religiosa entre
nós. Torneios de bola-ao-cesto entre as igrejas, festas levemente religiosas
seguidas de devoções, excursões para acampamentos nos fins de semana com
perguntas bíblicas ao redor do fogo, convescotes das escolas dominicais,
campanhas em prol dos fundos de construção e almoços ministeriais estão conosco
em número incrível, e são levados a efeito com o típico gosto americano. É
quando entramos na área da religião pessoal do coração que de repente perdemos
todo o entusiasmo.
Assim, vemos esta situação estranha e contraditória:
um mundo de ruidosa e altaneira atividade religiosa realizada sem energia ou
sem fervor espiritual. Numa viagem de um ano pelas igrejas, raramente se
encontra um crente cuja contagem do sangue seja normal e cuja temperatura
esteja acima do normal. A emoção e o arrebatado vigor da alma inflamada de
amor tém de ser procurados no Novo Testamento ou nas biografias dos cristãos fiéis; procuramo-los em vão entre os
confessos seguidores de Cristo dos nossos dias.
Ora, se há alguma realidade dentro de toda a esfera
da experiência humana que, por sua própria natureza, é digna de desafiar a
mente, encantar o coração e levar a vida integral a um centro focai ardente, é
a realidade que gira ao redor da Pessoa de Cristo. Se Ele é quem e o que a
mensagem cristã declara que é, então, pensar nEle deveria ser a coisa mais
animadora e estimulante a entrar na mente humana. Não é difícil entender como
Paulo pôde juntar vinho e o Espírito num mesmo versículo: "E não vos
embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito"
(Ef 5:18). Quando o Espírito apresenta Cristo à nossa visão interior, produz
um efeito alvoroçador na alma, muito parecido com o que o vinho produz no
corpo. O homem cheio do Espírito Santo pode literalmente viver num estado de
fervor espiritual que remonta a uma embriaguez branda e pura.
Deus vive num estado de perpétuo entusiasmo.
Deleita-se com tudo que é bom, e se preocupa amorosamente com tudo que é
errado. Leva avante os seus labores sempre com plenitude de santo zelo. Não é
de admirar-se que o Espírito veio no Pentecostes como um som de um vento
impetuoso e pousou em línguas de fogo sobre as frontes de cada um dos
presentes. Fazendo-o estava agindo
como uma das Pessoas da bendita divindade.
Seja o que for que ademais tenha acontecido no
Pentecostes, uma coisa que não pode ser esquecida pelo observador mais casual
foi o repentino surgimento do entusiasmo moral. Aqueles primeiros discípulos
ficaram ardendo com um constante logo interior. Entusiasmaram-se ao ponto de
chegarem a renúncia completa.
Dante, em sua viagem imaginária pelo inferno,
aproximou-se de um grupo de almas perdidas que suspiravam e gemiam
continuadamente enquanto giravam sem objetivo no ar sombrio. Virgílio, seu
guia, explicou que eram os "indivíduos desprezíveis", os "quase
sem alma", que, quando viviam na terra, não tinham energia moral bastante
para serem bons ou maus. Não tinham recebido nem louvor nem acusação. E com
eles, e compartilhando o seu castigo, estavam os anjos que não tomaram partido,
nem ao lado de Deus, nem ao lado de Satanás. O destino de todo o grupo de
fracos e irresolutos era o de ficarem eles suspensos para sempre entre um
inferno que os desprezava e um céu que não queria receber a sua presença manchada.
Nem sequer os seus nomes deviam ser mencionados de novo no céu, na terra, ou no
inferno. "Olha", disse o guia, "e passa adiante".
Estaria Dante dizendo a seu modo o que o Senhor disse
muito tempo antes à igreja de Laodicéia: "Quem dera fosses frio ou quente!
Assim, porque és morno, nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da
minha boca"?
O baixo nível de entusiasmo moral entre nós pode ter
significação mais profunda do que estamos dispostos a acreditar.
E Fácil Viver com Deus
Por A. W. Tozer
O primeiro ataque feito por Satanás à raça humana foi
o seu astuto esforço para destruir a confiança de Eva na bondade de Deus.
Infelizmente para ela e para nós, ele se saiu muito bem. Desde aquele dia, os
homens têm tido um falso conceito de Deus. e foi exatamente isto que arrancou
de debaixo deles a base da justiça e os levou a uma vida imprudente e
destrutiva, Nada deforma e torce mais a alma do que um baixo e indigno conceito
de Deus. Certas seitas, como a dos fariseus, conquanto sustentassem que Deus
era severo e austero, empenhavam-se em manter um nível razoavelmente alto de
moralidade externa; mas a sua justiça era apenas exterior. Interiormente eram
"sepulcros caiados", como o Senhor mesmo lhes disse. Seu errôneo
conceito de Deus resultou numa idéia errônea de culto. Para um fariseu, o
serviço de Deus era uma escravidão que ele não amava, mas da qual não podia
escapar sem que lhe sobreviesse uma perda grande demais para suportar. Não era
fácil viver com o Deus do fariseu, de sorte que a sua religião tornou-se
carrancuda, pesada e desamável. Só tinha que ser assim, pois sempre a nossa
noção de Deus determina necessariamente a qualidade da nossa religião.
Muito cristianismo, desde os dias da carne de Cristo,
também tem sido carrancudo e severo. E a causa é a mesma — uma indigna e
inadequada idéia de Deus. Instintivamente tentamos ser iguais ao nosso Deus, e
se o concebemos severo e exigente, assim seremos.
Do malogro de entender apropriadamente a Deus, provém
um mundo de infelicidade entre os cristãos ainda hoje. Considera-se a religião
um sombrio e desanimador processo de levar a cruz sob os olhos de um Pai severo
que espera muito e não desculpa nada. Ele é austero, impertinente, altamente
temperamental e extremamente difícil de agradar. A espécie de vida que brota de
noções tão difamatórias necessariamente tem que ser apenas uma paródia da verdadeira
vida cm Cristo.
É da maior importância para a nossa vida espiritual
ter sempre em mente uma correta concepção de Deus. Se pensamos nEle como frio
e exigente, acharemos impossível amá-lO, e as nossas vidas serão dominadas por
um temor servil. Por outro lado, se sustentamos que Ele é bondoso e
compreensivo, toda a nossa vida interior refletirá essa idéia.
A verdade é que Deus é o mais encantador de todos os
seres. e servi-lO é um prazer indescritível. Ele é todo amor, e aqueles que
confiam nEle nunca precisarão conhecer coisa alguma, senão esse amor. Ele é
justo deveras, e não deixa passar por alto o pecado; mas, pelo sangue da
aliança eterna Ele pode agir para conosco exatamente como se nunca tivéssemos
cometido pecado. Para os filhos dos homens que nEle confiam, a Sua misericórdia
sempre triunfará sobre a justiça.
A comunhão de Deus é deleitável além de toda a
expressão. Ele conversa com os Seus redimidos numa comunhão fácil e desinibida,
repousante e conciliadora para a alma. Ele não é sentimentalista, nem egoísta,
nem temperamental. O que Ele é hoje, veremos que continua sendo amanhã, depois
de amanhã e no ano que vem. Não é difícil agradá-lO, embora talvez seja
difícil satisfazê-lO. Ele só espera de nós aquilo de que primeiro nos supriu.
Ele é rápido para anotar cada simples esforço para agradá-lO, e tão rápido, exatamente
para deixar de lado as nossas imperfeições quando sabe que a nossa intenção é
fazer a Sua vontade. Ele nos ama pelo que somos e considera o nosso amor mais
valioso do que as galáxias de novos mundos criados.
Infelizmente, muitos cristãos não podem ficar livres
das suas pervertidas noções de Deus, e estas noções envenenam os seus corações
e destroem a sua liberdade interior. Estes amigos servem a Deus de cara
fechada, como fazia o irmão mais velho, fazendo o que é certo sem entusiasmo e
sem alegria, e parecem totalmente incapazes de entender a alegre e animada
celebração feita quando o pródigo chega em casa. A idéia que eles têm de Deus
exclui a possibilidade de Ele ser feliz em Seu povo, e atribuem os cânticos e
as aclamações a consumado fanatismo. Almas infelizes, estas, condenadas a
prosseguirem em sua vida melancólica, carrancudamente determinadas a agir
direito se os céus caírem, e a estar do lado do vencedor no dia do juízo.
Que bom seria se pudéssemos aprender que é fácil
viver com Deus. Ele se lembra da nossa estrutura e sabe que somos pó. Pode
castigar-nos às vezes, é certo, mas até isso Ele faz com um sorriso, o ufano e
terno sorriso do Pai que arde de prazer por um filho imperfeito, mas que
promete e que cada dia se parece mais com Aquele de quem é filho.
Alguns de nós ficam nervosos e encabulados porque
sabemos que Deus vê cada pensamento nosso e conhece todos os nossos caminhos.
Não precisamos ficar assim. Deus é a soma total de toda a paciência e a
essência da amável boa vontade. Nós O agradamos muito, não tentando
freneticamente fazer nós mesmos o bem, mas, sim, lançando-nos em Seus braços
com todas as nossas imperfeições, e crendo que Ele compreende tudo e ainda nos
ama.
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