# Excertos Extraídos de De Deus e o Homem
Se um observador ou um santo oriundo do fulgente
mundo do Alto viesse para estar entre nós por algum tempo com o poder de
diagnosticar os males espirituais do povo da igreja, há um item que estou certo
apareceria na imensa maioria dos seus relatórios: Definida evidência de
lassidão espiritual crônica; nível do entusiasmo moral extremamente baixo.
O que dá especial significado a esta condição é que
os americanos não são por natureza um povo sem entusiasmo. Na verdade gozam
reputação mundial de serem justamente o contrário. Visitantes que chegam às
nossas costas vindos doutros países nunca cessam de maravilhar-se ante o vigor
e a energia com que atacamos os nossos problemas. Vivemos febris, e se erigimos
edifícios, construímos rodovias, promovemos atividades atléticas, comemoramos
dias especiais ou recepcionamos heróis em seu regresso, sempre o fazemos com
exagerado vigor. Os nossos edifícios hão de ser mais altos, as nossas estradas
mais largas, as nossas competições atléticas mais coloridas, as nossas
celebrações mais elaboradas e mais dispendiosas do que de fato seriam em
quaisquer outros lugares da terra, Caminhamos mais depressa, dirigimos mais
depressa, ganhamos mais, gastamos mais e temos pressão sangüínea mais alta do
que qualquer outro povo do mundo.
Somente num campo de interesse humano somos lentos e
apáticos: o da religião pessoal. Aí, por alguma estranha razão, o nosso
entusiasmo lerdeia. O povo da igreja habitualmente aborda a questão da sua
relação pessoal com Deus de maneira vagarosa e desanimada, em total desacordo
com o seu temperamento geral e inteiramente incoerente com a importância do
assunto.
É verdade que existe muita atividade religiosa entre
nós. Torneios de bola-ao-cesto entre as igrejas, festas levemente religiosas
seguidas de devoções, excursões para acampamentos nos fins de semana com
perguntas bíblicas ao redor do fogo, convescotes das escolas dominicais,
campanhas em prol dos fundos de construção e almoços ministeriais estão conosco
em número incrível, e são levados a efeito com o típico gosto americano. É
quando entramos na área da religião pessoal do coração que de repente perdemos
todo o entusiasmo.
Assim, vemos esta situação estranha e contraditória:
um mundo de ruidosa e altaneira atividade religiosa realizada sem energia ou
sem fervor espiritual. Numa viagem de um ano pelas igrejas, raramente se
encontra um crente cuja contagem do sangue seja normal e cuja temperatura
esteja acima do normal. A emoção e o arrebatado vigor da alma inflamada de
amor tém de ser procurados no Novo Testamento ou nas biografias dos cristãos fiéis; procuramo-los em vão entre os
confessos seguidores de Cristo dos nossos dias.
Ora, se há alguma realidade dentro de toda a esfera
da experiência humana que, por sua própria natureza, é digna de desafiar a
mente, encantar o coração e levar a vida integral a um centro focai ardente, é
a realidade que gira ao redor da Pessoa de Cristo. Se Ele é quem e o que a
mensagem cristã declara que é, então, pensar nEle deveria ser a coisa mais
animadora e estimulante a entrar na mente humana. Não é difícil entender como
Paulo pôde juntar vinho e o Espírito num mesmo versículo: "E não vos
embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito"
(Ef 5:18). Quando o Espírito apresenta Cristo à nossa visão interior, produz
um efeito alvoroçador na alma, muito parecido com o que o vinho produz no
corpo. O homem cheio do Espírito Santo pode literalmente viver num estado de
fervor espiritual que remonta a uma embriaguez branda e pura.
Deus vive num estado de perpétuo entusiasmo.
Deleita-se com tudo que é bom, e se preocupa amorosamente com tudo que é
errado. Leva avante os seus labores sempre com plenitude de santo zelo. Não é
de admirar-se que o Espírito veio no Pentecostes como um som de um vento
impetuoso e pousou em línguas de fogo sobre as frontes de cada um dos
presentes. Fazendo-o estava agindo
como uma das Pessoas da bendita divindade.
Seja o que for que ademais tenha acontecido no
Pentecostes, uma coisa que não pode ser esquecida pelo observador mais casual
foi o repentino surgimento do entusiasmo moral. Aqueles primeiros discípulos
ficaram ardendo com um constante logo interior. Entusiasmaram-se ao ponto de
chegarem a renúncia completa.
Dante, em sua viagem imaginária pelo inferno,
aproximou-se de um grupo de almas perdidas que suspiravam e gemiam
continuadamente enquanto giravam sem objetivo no ar sombrio. Virgílio, seu
guia, explicou que eram os "indivíduos desprezíveis", os "quase
sem alma", que, quando viviam na terra, não tinham energia moral bastante
para serem bons ou maus. Não tinham recebido nem louvor nem acusação. E com
eles, e compartilhando o seu castigo, estavam os anjos que não tomaram partido,
nem ao lado de Deus, nem ao lado de Satanás. O destino de todo o grupo de
fracos e irresolutos era o de ficarem eles suspensos para sempre entre um
inferno que os desprezava e um céu que não queria receber a sua presença manchada.
Nem sequer os seus nomes deviam ser mencionados de novo no céu, na terra, ou no
inferno. "Olha", disse o guia, "e passa adiante".
Estaria Dante dizendo a seu modo o que o Senhor disse
muito tempo antes à igreja de Laodicéia: "Quem dera fosses frio ou quente!
Assim, porque és morno, nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da
minha boca"?
O baixo nível de entusiasmo moral entre nós pode ter
significação mais profunda do que estamos dispostos a acreditar.
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