Período Macabeu
O nome desse período está associado a Judas
Macabeu, líder dos Macabeus. No entanto, o nome da família,
segundo o historiador Flávio Josefo, era Hasmon, do qual deriva o nome
“hasmoniano” ou “asmoniano”. Hasmon ou Chasmon foi bisavô de Matatias, pai de
Judas Macabeu.
Esse período abrange 104 anos (167-63 a.C.). É
caracterizado por lutas, perseguições, sacrifícios e, por último, por um longo
período de independência e paz.
O surgimento desse período foi motivado pela
nefasta dominação síria (Período Grego), sob o reinado de Antíoco IV, o
Epífanes.
Causas remotas
O governo da Judeia, aos poucos, foi se
fortalecendo nas mãos do sumo sacerdote. Isso levou o sumo sacerdócio judaico a
um declínio espiritual, pois deixou de ser um poder espiritual e divino para
tornar-se uma força política. Em consequência disso, a posição de “sumo
sacerdote” começou a ser disputada. Nem o que a Lei de Moisés dizia a respeito
nem a questão genealógica eram levados em conta. O poder temporal era a única
coisa que realmente importava naquele momento.
Enquanto a dinastia ptolomaica dominava a
Judeia, a selêucida não perdera jamais a esperança de um dia possuir a Terra
Santa. De um lado a dinastia ptolomaica exercia influência sobre os judeus; de
outro, os selêucidas procuravam, com promessas e dinheiro, ganhar-lhes a
simpatia. Em resultado dessa disputa, surgiram dois partidos predominantes na
Judeia: o judeu (representado por Onias III) e o grego (representado por Simão
e Jason).
Com o advento de Antíoco Epífanes, o partido grego
triunfa na Judeia, o que causou certo descontentamento ao partido da maioria, o
judeu.
Quando Antíoco IV estava no apogeu de seu
reinado, Onias III, do partido da Judeia, era sumo sacerdote em Jerusalém.
Acusado de crimes pelo rei da Celesíria e por Simão, figura destacada no
partido grego da Judeia, Onias III foi a Antioquia e se defendeu perante
Epífanes das acusações.
O partido grego da Judeia também contava com
Josué, irmão de Onias III. Josué era helenista convicto; até seu nome foi
helenizado para Jason. Ajudou a acusar o próprio irmão. O partido grego pagou
considerável soma de dinheiro e Jason se tornou o sumo sacerdote; Onias foi
destituído. A principal preocupação de Jason foi helenizar a Palestina. Ele
construiu ginásios, onde crianças e jovens praticavam os exercícios gregos. Ele
também quase acabou com a circuncisão. Enviou representantes aos jogos de
Hércules, com presentes aos deuses pagãos.
Três anos mais tarde, Jason enviou Menelau a
Antioquia com o tributo para Antíoco. Avistando-se com o rei sírio, Menelau
lisonjeou-lhe a vaidade e conseguiu o sumo sacerdócio. Regressou a Jerusalém
feroz como um leão. Jason refugiou-se entre os amonitas. Não conseguindo
levantar o dinheiro que prometera a Antíoco, Menelau fora chamado a Antioquia.
Antes de ir, vendeu aos sírios alguns vasos do templo de Jerusalém, cuidando
com isso subornar Andrônico, o que governava em Antioquia na ausência de
Epífanes. Onias III estava em Antioquia nesse tempo e acusou Menelau de
sacrilégio. Onias refugiou-se na gruta sagrada de Dafnes. Andrônico tirou-o do
santuário e barbaramente o matou. Antíoco, movido de compaixão pela pureza de
caráter de Onias, ordenou que matassem Andrônico e Menelau, que conseguiram
fugir.
Causas recentes
Enquanto os judeus disputavam o sumo sacerdócio,
Antíoco Epífanes ganhava terreno e se preparava para escravizar o povo do
Senhor.
Cleópatra, irmã de Epífanes, é assassinada no
Egito. O orgulhoso rei sírio prepara seus exércitos para enfrentar Ptolomeu VI
em sucessivas batalhas. Depois de duas ou três batalhas, o embaixador romano
Pompílio Laenas ordenou energicamente a Antíoco que cessasse o ataque ao Egito
e entregou-lhe um decreto do Senado intimando-o a desistir desse intento.
Temendo os romanos, Antíoco desistiu de seus planos, mas guardou seu ódio a fim
de vingar-se mais tarde nos pequeninos e fracos judeus.
Na Síria e na Judeia passou a circular um boato
de que Antíoco havia morrido na segunda batalha contra o Egito. Foi motivo de
alegria principalmente para os judeus. Andrônico e Menelau, odiados pelos
judeus, valeram-se desse boato e perseguiram os habitantes de Jerusalém.
Jason entrou em Jerusalém com mil homens.
Menelau refugiou-se na cidadela. Jason praticou toda a sorte de crueldade
contra os judeus. Fugiu depois para o Egito e chegou até Esparta, morrendo
finalmente em terra estrangeira.
Antíoco, ao ouvir as notícias desses
acontecimentos, pensou tratar-se de uma rebelião na Judeia. Supõe-se que
Menelau tenha exercido influencia sobre os ânimos do rei para combater os
judeus. Com esse plano, Menelau se livraria de seus inimigos. Antíoco, como
relâmpago, parte para Jerusalém. Ataca-a, toma-a por assalto. Mata velhos,
jovens, mulheres, crianças, num total superior a 40 mil pessoas. No seu
desespero, ainda reúne milhares de judeus e os leva ao cativeiro.
Não satisfeito com seus crimes e suas
atrocidades, entra no templo de Jerusalém, profana-o. Manda matar um porco
sobre o altar. A carne do animal é assada e os judeus, sob lanças e espadas,
obrigados a comerem. Os excrementos do suíno, com seu sangue, numa espécie de
caldo, foram borrifados por todo o templo.
Ele ainda despojou o templo de seus vasos e
outros utensílios de ouro destinados ao serviço sagrado. Calcula--se em 1.800
talentos o tesouro que Antíoco levou de Jerusalém para Antioquia.
Deixou Filipe, natural da Frígia, como
governador da Judeia. Ele era cruel, violento e selvagem. (A sorte de Samaria
foi a mesma: o templo de Gerizim também foi profanado. Andrônico, o traidor,
governou Samaria).
Os judeus permaneceram 2 longos anos nessa
humilhação, nesse estado de escravidão, desprezo e abandono.
Dois anos após dessas atrocidades, Antíoco
recrudesce a perseguição contra os judeus. Apolônio, o tradicional inimigo
dos judeus, é enviado por Antíoco à Judeia, à frente de 22 mil homens. Entrou
em Jerusalém, parece-nos numa terça-feira, e esperou o sábado, quando os judeus
nada faziam. Fingiu-se amigo do povo e propalou que sua missão era de paz. No
entanto, seus homens tinham ordens terminantes de matar todos os judeus,
principalmente os do sexo masculino.
O sábado almejado chegou. Os judeus procuraram
seus lugares de adoração e entregaram-se ao exercício de seu culto. Descansaram
finalmente, conforme o preceito da Lei de Moisés. Aproveitando a fraqueza dos
judeus e conhecendo-lhes a fidelidade à Lei do Senhor, Apolônio e seus soldados
lançaram-se sobre os indefesos judeus e os chacinaram. A matança foi
monstruosa. O sangue correu aos jorros. Espanto e calamidade foram vistos na
desolada cidade, que foi saqueada. O instinto feroz de Apolônio foi mais longe
ainda: ele incendiou Jerusalém. Suas fortalezas foram destruídas. Apolônio
fortificou-se no monte Sião e dominou a cidade, incluindo o templo.
Satisfeito com a crueldade de Apolônio, Antíoco
decretou a uniformidade do culto em todos os termos de seus domínios. Foi golpe
duro demais para os tradicionais judeus. Só havia duas opções: submeter-se à
ordem ou morrer.
O responsável pelo cumprimento do grande edito,
em Samaria e Judeia, foi Ateneu, um “Saulo” do paganismo. Antíoco, sendo
apaixonado helenista, impôs o paganismo grego a ferro e fogo em seus domínios.
(Percebe-se, portanto, que o helenismo era também intolerante.) Os samaritanos
aceitaram passivamente as proposições do cruel Antíoco. Ateneu transformou o
templo de Gerizim num templo dedicado a Zeus Xenius. O templo de Jerusalém
seria dedicado a Zeus Olímpico. Willian Smith descreveu de forma bem expressiva
a profanação do templo de Jerusalém:
Os pátios foram profanados com
as mais licenciosas orgias; o altar foi coberto de abomináveis ofertas, a velha
idolatria de Baal foi restaurada no seu obsceno aspecto, tal como fora levada à
Grécia: as fálicas bacanais de Dionísio. Os exemplares do livro da Lei foram
destruídos ou profanados com pinturas pagãs e obscenas. A prática dos ritos
judaicos e a negativa de sacrifícios aos deuses gregos foram castigadas com a
pena de morte.2
Conta-se que duas pobres mulheres só por terem
circuncidado seus filhinhos foram presas e conduzidas com seus filhos por toda
a cidade e, por fim, impiedosamente atiradas do muro.
Alguns que se refugiaram nas covas para guardar
o sábado foram queimados por Filipe.
A prova mais dura e cruel a que se podia
submeter um judeu era fazê-lo comer carne de porco. Eleazar, chefe escriba,
nonagenário, foi obrigado a comer carne de porco, mas não quis comer.
Meteram-lhe à força na boca, ele a cuspiu toda. Voluntariamente entregou-se ao
martírio. Diante da obstinação do velho, os carrascos redobraram as crueldades.
Quando expirava, pronunciou estas palavras de fé: “Está manifesto ao Senhor,
aquele que tem o santo conhecimento, que podendo livrar-me da morte, suporto as
agudíssimas dores do meu corpo golpeado, porém na alma, estou muito contente
por sofrer estas coisas, só porque temo o Senhor”.
Conta-se também que uma mãe e sete filhos recusaram
a comer carne de porco. Por esse crime foram levados à presença do rei, que os
mandou espancar a todos. Entregaram-se ao martírio confiantes no Senhor.
Se fôssemos narrar todos os crimes de Antíoco,
teríamos assunto para milhares de páginas. Muitos judeus se acomodaram às
circunstâncias, voltaram suas costas a Deus e inclinaram-se ao culto pagão; no
entanto, na sua maioria, os judeus permaneceram fiéis ao Senhor; foram ao
sacrifício, ao martírio, mas sempre com sua fé brilhando mais.
É lamentável ouvir palavras preconceituosas como
estas do historiador romano Públio Cornélio Tácito:
Durante o domínio sírio, medo
e persa, os judeus foram os mais abjetos dos súditos. Depois de terem os
macedônios alcançado a supremacia do Oriente, o rei Antíoco esforçou-se por
tirar-lhes a superstição e introduzir os costumes gregos, entretanto, a guerra
com os partos impediu-lhe reformasse esse repulsivo povo.
Diante desse tétrico quadro, nessas
circunstâncias, nessa escravidão, que deveriam fazer os judeus? Defender-se.
Foi exatamente o que fizeram.