sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A Espiritualidade do vale: Discussão sem poder

Por Hernandes Dias Lopes




   Os nove discípulos de Jesus estavam no vale, mas viviam o drama de um grande fracasso. Estavam cara a cara com o diabo, mas não tinham poder para confrontá-lo e vencê-lo. Cercados por uma multidão aflita, estavam desprovidos de recursos para atender às suas urgentes necessidades.




1. No vale há gente sofrendo o cativeiro do diabo sem encontrar na igreja solução para o seu drama

   Aqui está um pai desesperado (Lucas 9.37-40: Mateus 17.15, 16). O diabo invadiu a sua casa e está arrebentando com a sua família. Está destruindo o seu único filho.


   Aquele jovem estava possuído por uma casta de demônios. Um terrível poder maligno assumira o controle da sua personalidade. Aquele moço era um capacho nas mãos do diabo. Naquela casa não havia mais paz. O inferno estava lá, com sua horda de demônios provocando grandes estragos. Onde os demônios entram, impera a destruição. Onde eles dominam, reina a escravidão.


   Todos os recursos que aquele pai buscou para a libertação do seu filho fracassaram. Em todas as portas que ele bateu, não encontrou solução para o seu grave problema. A situação se agravara. A morte rondava a sua casa. Seu filho estava sendo castigado pelos demônios com rigor excessivo.


   No auge da sua angústia, aquele pai, desesperado, correu para os discípulos de Jesus em busca de ajuda e socorro, mas eles não tinham poder. Já haviam conquistado grandes vitórias sobre os demônios, mas agora estavam fracos e impotentes. O coração deles estava vazio e seco. As vitórias de ontem não servem para hoje. Precisamos encher-nos do Espírito a cada dia. Precisamos revestir-nos com poder diariamente. Assim como o maná que caía do céu precisava ser recolhido a cada manhã e não servia para o outro dia, da mesma forma a unção de ontem não serve para hoje.


   Em 1991 visitei a Missão Kwa Sizabantu, na Africa do Sul. O rev. Erlo Estegen estava trabalhando com os zulus, uma tribo fortemente comprometida com a feitiçaria. Certo dia, ao proferir sua mensagem, ele proclamou que Jesus Cristo é o Deus Todo-poderoso, para quem não há impossíveis, pois ele perdoa, liberta, cura e salva. Nesse momento, aproximou-se dele uma mulher com o rosto sulcado de dor e os olhos marejados de lágrimas. De pronto ela o interrogou: "O senhor está dizendo que o seu Deus pode todas as coisas?". O pastor respondeu: "Sim, é isto mesmo o que estou afirmando". Diante da resposta convicta, ela completou: "Então, eu preciso do seu Deus. Eu tenho uma filha possessa, amarrada como bicho no tronco de minha casa. Nenhum dos deuses que conheço pôde libertá-la. Se o seu Deus tem todo o poder, vamos comigo à minha casa e peça ao seu Deus para libertá-la".


   Nesse momento, o pastor Erlo sentiu um calafrio na espinha e pensou: "E se eu fracassar? Como vai ficar a minha reputação? Com que autoridade continuarei pregando para esse povo?". Ele se dirigiu à casa da mulher e deparou com um quadro assustador: A jovem estava sangrando, amarrada com arame no tronco, como uma fera ferida, um bicho enfurecido. Os olhos afogueados pareciam saltar de seu rosto desfigurado. O pastor em vão tentou expulsar da jovem aquelas terríveis entidades malignas. Levaram-na, então, amarrada, a uma fazenda, e um grupo de pastores e missionários orou por ela e tentou libertá-la dos demônios opressores, mas a moça, indomável, destruiu a casa da fazenda e voltou em estado ainda mais deplorável. O pastor Erlo ficou arrasado, envergonhado. Pensou até mesmo em abandonar a missão e parar de pregar. Sentia-se sem autoridade para falar da onipotência de Jesus Cristo. Mas, antes de desistir, compreendeu que o problema não era o Evangelho, mas a sua vida sem unção. Não era a Palavra de Deus, mas a sua falta de poder. Começou, então, a orar por avivamento. Iniciou na igreja o estudo ao livro de Atos dos Apóstolos. Os corações foram sendo quebrantados. Três vezes por dia, eles oravam e choravam copiosamente diante de Deus, buscando uma vida de santidade e poder. Não tardou para vir sobre eles um profuso derramamento do Espírito. Os feiticeiros mais endurecidos, tomados de profunda convicção de pecado, corriam para a Missão, clamando pela misericórdia de Deus, arrependendo-se de seus pecados. Aos borbotões, pessoas chegavam de toda a parte, entregando-se ao Senhor Jesus. A primeira coisa que o pastor Erlo fez a seguir foi visitar a casa daquela jovem possessa. Agora, no poder do Espírito, na autoridade do nome de Jesus, ele ordenou que os demônios saíssem da jovem, e ela foi imediatamente libertada. Todos, então, compreenderam que não basta falar no nome de Jesus, é preciso ser revestido com o poder do Espírito.


   Hoje, quando as multidões aflitas procuram a igreja, encontram nela um lugar de salvação, de cura e libertação? Há poder em nossa vida? Possuímos autoridade sobre as hostes do inferno? Temos confrontado o poder do mal? Conhecimento apenas não basta, é preciso revestimento de poder. O Reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder. O Espírito que habita em nós é Espírito de poder. Há muitas pessoas que são doutas no manuseio das Escrituras. Conhecem com profundidade as verdades exaradas na Bíblia, têm um acervo teológico colossal, mas estão áridas como um deserto. Conhecem a Palavra, mas não o poder de Deus. Conhecem a respeito de Deus, mas não conhecem a Deus. Têm a cabeça cheia de luz, mas o coração está vazio de fogo. Têm conhecimento, mas lhes falta a unção.




2. No vale há gente desesperada precisando de ajuda, mas os discípulos estão perdendo tempo, envolvidos numa discussão infrutífera

   Muitas vezes tentamos disfarçar nossa fraqueza espiritual com acaloradas e profundas discussões teológicas. Envolvemo-nos em intermináveis e apaixonados debates que dão em nada. São debates infrutíferos, discussões inócuas, palavras vazias. Os discípulos perdiam tempo discutindo com os opositores da obra de Deus, em vez de remir o tempo fazendo a obra (Mar¬cos 9.14-18).


   Em Atos 1.6-8 Jesus evidencia que, quando somos revestidos de poder, saímos do campo da especulação teológica para o campo da ação missionária. Os discípulos estavam pensando em escatologia, Jesus em missões. Recebemos poder para trabalhar, para agir, para fazer. Não que a discussão teológica seja desprovida de valor. A igreja precisa ter uma posição teológica clara, segura e bíblica. Ela não pode ser solidária com a heresia. A igreja não pode ser plural em sua posição doutrinária: pelo contrário, deve rechaçar vigorosamente qualquer ensino que não tenha amparo nas Escrituras. Mas há momentos em que precisamos deixar de lado o discurso e partir para a ação. Há crentes que passam a vida inteira freqüentando a igreja, discutindo empolgantes temas na Escola Dominical, freqüentando congressos e fazendo seminários de treinamento, mas nunca atuam. Estão com a cabeça cheia de informações e as mãos vazias de trabalho. Sofrem de hidrocefalia espiritual, enquanto o corpo permanece mirrado. Sabem muito e fazem pouco. Estão sempre preparando-se, mas não trabalham. Têm cursos e mais cursos, diplomas e mais diplomas, mas não colocam em prática o que sabem. Estamos no vale, cercados por uma multidão aflita, mas não temos resposta para ela. Ficamos discutindo os nossos temas, enquanto o diabo destrói vidas e famílias ao nosso redor.


   Discutimos muito e agimos pouco. Falamos muito e trabalhamos pouco. Sabemos muito e realizamos pouco. Aqueles que não sabem é que fazem, pois os que sabem gastam todo o seu tempo discutindo. E discutindo com quem? Muitas vezes com aqueles que sempre estiveram filiados na oposição cerrada a Jesus (Marcos 9.14). Discussão sem ação é paralisia espiritual. Quando gastamos o tempo todo discutindo, sem agir, estamos fazendo o jogo do diabo. Ele aplaude as discussões acaloradas daqueles que deveriam estar na trincheira da luta. O inferno vibra quando a igreja se fecha dentro de quatro paredes, em torno dos seus empolgantes assuntos. O mundo perece enquanto a igreja está discutindo. O diabo arruína vidas enquanto o povo de Deus, despercebido, está guerreando apenas no campo nas idéias. Há muito discurso, mas pouco poder. Muita verborragia, mas pouca unção. Multidões sedentas, mas pouca ação da igreja.



3. No vale, enquanto os discípulos discutem, há um poder demoníaco em ação sem ser confrontado

   Quando se trata de discutir a ação do diabo e suas hostes, há dois perigos extremos que precisamos evitar: Primeiro, o de subestimar a ação do diabo. Os liberais, céticos e incrédulos, negam a existência e a ação dos demônios. Explicam tudo racionalmente. Para eles, o diabo é uma figura lendária, um ser mitológico. Alguns até acreditam que o diabo é uma energia negativa no universo, ou o princípio do mal que está dentro de cada pessoa. Certamente, esse não é o ensino das Escrituras. Negar a existência e a ação de Satanás é cair nas malhas do mais ardiloso satanismo.


   O segundo perigo é o de superestimar a ação do diabo. Há muitas religiões chamadas cristãs nos tempos hodiernos que falam mais no diabo do que em Jesus. Pregam mais sobre libertação do que sobre arrependimento. Atribuem todo o mal que acontece no mundo a ação de Satanás. O homem deixou de ser pecador culpado, para tornar-se apenas uma vítima. Assim, ele não precisa arrepender-se, mas apenas ser libertado. Muitas igrejas hoje têm feito do exorcismo a principal plataforma de sua missão. São igrejas que vivem caçando demônios. São igrejas tão ocupadas com o diabo que esquecem de deleitar-se em Deus. Como era o poder demoníaco que estava agindo no vale?


   Primeiro, o poder maligno que estava em ação na vida daquele menino era assombrosamente destruidor. Assim expressou o seu pai: "Um espírito se apodera dele, e, de repente, o menino grita, e o espírito o atira por terra, convulsiona-o até espumar: e dificilmente o deixa, depois de o ter quebrantado" (Lucas 9.39). O evangelista Marcos acrescenta outros detalhes a respeito desse poder maligno que conspirava contra a vida do menino: "... rilha os dentes e vai definhando... e muitas vezes o tem lançado no fogo e na água, para o matar... " (Marcos 9.18, 22). O diabo é assassino e ladrão. E um estelionatário. Ele promete vida e dá a morte. Sua ira não cessa. Ele tem destruído vidas. Tem arruinado famílias. Tem empurrado pessoas para o abismo da promiscuidade sexual. Tem lançado jovens no poço profundo e pestilento das drogas. Tem levado muitos casais ao divórcio. Tem provocado guerras encarniçadas e sangrentas. Tem jogado nação contra nação. Tenho visto muitas vidas feridas pelo diabo. Tenho acompanhado e aconselhado muitos infelizes que foram torturados por esse insolente poder maligno. Não podemos fechar os olhos e tapar os ouvidos aos gritos dos infelizes que estão agonizando, atormentados pelos demônios. Há muitos que ainda hoje vivem oprimidos pelo diabo. Outros estão possessos de espíritos imundos. Essas pessoas precisam encontrar uma igreja libertadora. Não podemos ficar acomodados, deleitando-nos em profundas e polêmicas discussões, enquanto à nossa volta pessoas perecem nas mãos do maligno.


   Certa feita, quando eu pregava em um culto familiar, algo me marcou profundamente. Enquanto falava, uma mulher chorava convulsivamente. Após o culto, eu a procurei com o objetivo de oferecer-lhe ajuda. Ela, então, me disse que o diabo havia destruído a sua família. Falou-me que era casada e tinha dois filhos pequenos. Morava em um bom apartamento e tinha uma vida financeira estável. Entretanto, não havia paz em sua casa. Certa noite, ela acordou com o grito desesperado de seus filhos. Ao levantar-se da cama, percebeu que o marido não estava do seu lado. Correu em direção ao quarto dos meninos, mas a porta estava trancada. Bateu à porta, e ninguém atendeu. Então, com toda a força, ela arrebentou a porta e deparou com um quadro dramático. O marido estava apunhalando os próprios filhos. Quando ela entrou no quarto, o marido apunhalou o seu próprio peito, caindo morto sobre os corpos sem vida das crianças. Com profunda tristeza, aquela mulher confessou: “Pastor, eu levei toda a minha família para o cemitério. O diabo destruiu a minha família.” Quantas tragédias, quantas desgraças têm acontecido pela ação do diabo na vida das pessoas!


   Segundo, o poder maligno em ação no vale atingia inclusive e sobretudo as crianças. "Perguntou Jesus ao pai do menino: Há quanto tempo isto lhe sucede? Desde a infância, respondeu: e muitas vezes o tem lançado no fogo e na água para o matar" (Marcos 9.21, 22). Aquele menino estava sob o poder do mal. Estava no cativeiro do diabo desde a sua mais tenra idade, desde a sua infância. A palavra bréfos descreve a fase infantil desde a vida intra-uterina. O espírito mudo e destruidor entrou naquele menino desde a sua meninice. O diabo não poupa as crianças. Elas não estão isentas nem incólumes a esse terrível ataque demoníaco. Aquele menino estava sendo assolado por uma casta de demônios, que conspiravam contra ele, jogando-o no fogo, na água e atirando-o por terra para matá-lo. Era o início do meu ministério na Primeira Igreja Presbiteriana em Vitória, no Espírito Santo. Uma mulher recém-convertida passou a freqüentar a igreja. Seu marido era espírita. Ela tinha um filho, de dois anos. Certo dia, voltando para a casa, começou a cantar um hino cuja letra falava que Jesus tem poder. Nesse momento, para seu espanto, o filho de dois anos, que estava no seu colo, com o rosto desfigurado, começou a blasfemar com voz grave, dizendo que Jesus não tinha poder. Atordoada, a mulher procurou vários médicos e psiquiatras para tratar do filho. Aquele fenômeno voltou a acontecer outras vezes. Um dia ela marcou um aconselhamento e chegou a meu gabinete com o filho no colo. Enquanto a mulher conversava comigo, a criança me fuzilava com um olhar penetrante e perturbador. Ouvi toda a história. Quando comecei a falar do poder de Jesus, o menino foi tomado por um poder maligno e começou a proferir impropérios. Repreendi em nome de Jesus aquelas entidades malignas, e a criança começou a serpentear no chão do gabinete como um réptil. Depois de intensa luta, aquele menino foi libertado pelo poder do nome de Jesus. A mãe contou-me, então, que, ao nascer, seu filho tinha sido levado pelo pai a um terreiro de Umbanda, sendo ali consagrado aos espíritos demoníacos.


   Há uma verdadeira orquestração do inferno para atingir as crianças. Os espíritos malignos atingem as crianças através de pactos demoníacos feitos por seus pais, através de vídeos e jogos ocultistas e outros aparatos propositadamente preparados para alcançar a mente das crianças. Hoje há um exército de crianças sofrendo grandes estragos mentais e emocionais. Há um batalhão de crianças deprimidas, sofrendo pesadelo. Há uma safra de crianças rebeldes aos pais, sendo educadas por uma mídia perversa. Vivemos em uma cultura demonizada, na qual as crianças são inspiradas a cometer assassinatos, como aconteceu no início do ano 2000 em São Paulo, quando uma criança, depois de assistir ao filme "Brinquedos Assassinos", assassinou o seu colega.


   O diabo tem investido pesado nas crianças. Os programas infantis hoje são uma evidência dessa amarga realidade. Os satanismo, o ocultismo, a violência e a depravação sexual são os temas explorados para atacar a mente infantil. Como o faraó propôs a Moisés (Êxodo.10.10, 11), o diabo também quer reter em suas mãos as crianças. Se perdermos esta geração, teremos amanhã uma geração apóstata que não conhecerá ao Senhor e estará pronta para adorar o anticristo.


   Terceiro, o poder maligno em curso age com requintes de crueldade. O evangelista Lucas registra um detalhe importante: aquele menino era filho único (Lucas 9.38). Tocar na vida daquele menino era roubar os sonhos daquela família, era cobrir o futuro daquele lar com um manto de crepe. O filho era tudo o que aquele pai possuía. O filho único era o seu prazer, a sua esperança, o alvo dos seus sonhos, o seu futuro, a sua vida. O diabo age não somente com perversidade, mas também com requintes de crueldade. Onde ele põe a mão, há marcas de sofrimento. Onde os demônios agem, há sinais de desespero. Onde a ação do maligno não é neutralizada, a morte mostra a sua carranca. Onde os demônios não são confrontados, a invasão do mal desconhece limites.


4. No vale, os discípulos estão sem poder para confrontar os poderes das trevas

   Aquele pai aflito expõe seu drama para Jesus: "Roguei aos teus discípulos que o expelissem, mas eles não puderam" (Lucas 9.40). Mateus também registra que os discípulos não puderam curá-lo (Mateus 17.16).


   Por que os discípulos estão sem poder? A Bíblia nos dá quatro razões para essa impotência e fraqueza dos discípulos:


   Primeiro, porque há demônios e demônios. Os discípulos perguntaram para Jesus a razão do fracasso na tentativa de expulsar o espírito maligno do menino. Jesus respondeu que aquela casta não se expelia senão por meio de oração e jejum (Mateus 17.19, 21). Há demônios mais resistentes que outros. Eles já tinham logrado êxito em outras empreitadas, mas agora fracassaram. Eles já haviam expulsado demônios, mas agora não obtiveram sucesso. Na verdade, há hierarquia no reino das trevas. O apóstolo Paulo fala de principados, potestades, dominadores deste mundo tenebroso e forças espirituais do mal. Há uma estratificação de poder no mundo invisível. Há demônios com mais força que outros. Por isso, os discípulos não conseguiram expelir a casta de demônios daquele menino.


   Em 1993 fui eleito presidente da Comissão Nacional de Evangelização da Igreja Presbiteriana do Brasil, no segundo Congresso Nacional de avivamento e evangelização em Vitória, Espírito Santo. Estávamos reunidos no templo da Igreja Assembléia de Deus do Aribiri, município de Vila Velha. O pregador do culto de abertura seria o rev. Jeremias Pereira da Silva. Antes da mensagem, no meio da igreja lotada com mais de três mil pessoas, um homem possesso soltou um grito pavoroso. As pessoas que estavam próximas levaram-no a uma sala do templo e oraram por ele. No dia seguinte, o pastor Jeremias começou uma série de palestras sobre Batalha Espiritual. No fim da tarde, o dito homem convidou o pastor Jeremias para ir à sua casa visitar a sua esposa. Fomos em quatro pastores. No trajeto, perguntei àquele homem sobre o ocorrido na noite anterior. Ele me falou, então, do seu envolvimento com o satanismo. Contou que tinha feito um pacto com várias entidades do candomblé, mostrando as marcas no seu corpo. Quando chegamos à sua casa, após apresentar-nos a sua esposa, ele deu um salto para dentro da sua varanda e já caiu do outro lado, possesso e muito furioso, dizendo: "Agora, vocês estão no meu terreno. Eu quero ver se vocês têm poder mesmo. Agora vou matar todos vocês". O semblante do homem desfigurou-se. Seus olhos nos fuzilavam com ódio mortal. Ele rangia os dentes, tomado por um acesso de fúria. Partiu para cima de nós, determinado a nos destruir; contudo, Deus colocou ao nosso redor um muro de fogo. O pastor Jeremias travou uma batalha espiritual com esse homem possesso durante cerca de uma hora. Era dado momento, ele trouxe para a sala sete garrafas vazias de cerveja e fez um ponto cruzado, buscando reforço dos demônios. Depois, cheio de fúria, avançou em nossa direção, arremessando as garrafas contra nós, com a intenção de nos matar. A sala ficou coalhada de cacos de vidro. Depois de uma luta titânica, aquele homem foi liberto. Ele estava tão exausto que nem mesmo conseguia ficar de pé. No quintal de sua casa havia um templo satânico, com vários apetrechos de feitiçaria. A casta que estava naquele homem era uma horda de demônios extremamente resistentes. Nem todo caso de possessão é tão complicado, contudo.


   Segundo, os discípulos estavam sem poder porque não oraram. Jesus disse que aquela casta só saía com oração e jejum (Mateus 17.21). Não há poder espiritual sem oração. O poder não vem de dentro do homem, mas do alto, do trono de Deus. Sem oração ficamos vazios, secos e fracos. Púlpito sem oração é púlpito sem poder. Igreja sem oração é igreja sem poder. A fonte do poder não vem dos livros, mas do trono de Deus. C. H. Spurgeon dizia que toda a sua biblioteca nada era diante da sua sala de oração. Quando a igreja se coloca de joelhos, torna-se invencível. O inferno treme ao ver um santo de joelhos. Quando a igreja ora, o céu se move, o inferno treme e coisas maravilhosas acontecem na terra. Sem oração, agimos na força da carne. Oração e poder sempre caminham juntos. Não há poder sem oração. Sempre que a igreja dobrou os joelhos para orar, ela foi revestida com poder. Sempre que ela é capacitada com poder, tem autoridade para viver, pregar e confrontar vitoriosamente os demônios.


   Terceiro, os discípulos estavam sem poder porque eles não jejuaram. Jesus disse que aquela casta só seria expelida com oração e jejum (Mateus 27.21). O jejum é um tremendo exercício espiritual que nos capacita a enfrentar os grandes embates da vida. Somos capacitados e equipados para realizar a obra de Deus através do jejum. Ele não é meritório. Não tem o propósito de mudar Deus. E um instrumento de auto-humilhação e quebrantamento. Quando jejuamos, estamos dizendo que dependemos totalmente dos recursos de Deus. Quem jejua tem pressa para estabelecer comunhão com Deus. Quem jejua tem mais fome do pão do céu que do pão da terra. Quem jejua busca o revestimento de poder do Espírito e não confia em sua própria força. Quando a igreja pára de jejuar, começa a enfraquecer. Quando ela passa a confiar em si mesma, deixa de usar os recursos de Deus. E sem o poder de Deus agindo em nós e através de nós, colhemos amargas e humilhantes derrotas espirituais como os discípulos naquele vale.


   Quarto, os discípulos estavam impotentes por causa da pequenez de sua fé. Depois que Jesus libertou o menino do poder dos demônios, os discípulos aproximaram-se dele e perguntaram em particular: "Por que motivo não pudemos nós expulsá-lo? E ele lhes respondeu: Por causa da pequenez da vossa fé" (Mateus 17.19, 20). Os discípulos tinham uma fé debilitada e raquítica. Como não tinham intimidade com Deus e não o conheciam de forma profunda, eram fracos e impotentes para confrontar as forças do mal. A fé não é algo místico e subjetivo. É resultado do nosso conhecimento da verdade. A fé vem pelo ouvir a Palavra. O povo que conhece a Deus é forte. Não podemos confiar em quem não conhecemos profundamente. Muitos conhecem a respeito de Deus, mas não conhecem a Deus. Fé não é apenas um assentimento intelectual da verdade. Esse tipo de fé, até os demônios têm (Tiago 2.19). A fé é um conhecimento pessoal, íntimo, relacional, fruto da comunhão com Deus. Os discípulos fracassaram no confronto com o poder das trevas, porque não estavam vivendo aos pés do Senhor. A pequenez da fé é conseqüência de uma relação fria e distante com Deus. Ninguém pode ter uma grande fé sem estar vivendo na intimidade e na dependência do grande Deus. O problema não é a presença do diabo, mas a ausência de Deus.


   Os olhos da fé não miram a adversidade das circunstâncias. A fé não se abala ao ser encurralada por impossibilidades e ao ser confrontada pelas improbabilidades. A fé não se concentra na fúria da tempestade. Ela só olha para o Deus dos impossíveis. Não se intimida diante da ameaça dos gigantes: ela olha por sobre os ombros dos gigantes e contempla a vitória que vem do Senhor. O poder para confrontar o maligno e suas hostes não está em nós, mas no poderoso nome de Jesus. Não é, porém, apenas uma questão de proferir o seu nome. Precisamos conhecer a Jesus e confiar em seu nome sem duvidar. Contra o diabo e seus anjos, não podemos usar armas carnais. Precisamos manejar as armas espirituais, que são poderosas em Deus (2 Coríntios 10.3-5). Contra o inimigo precisamos arvorar a bandeira do Senhor na certeza de que ele é vencedor invicto em todas as batalhas. Ele é a nossa inexpugnável armadura.


5. A nossa incredulidade e falta de oração e jejum provocam sofrimento a Jesus

   Quando aquele pai aflito confessou que trouxe seu filho endemoninhado aos discípulos, e eles não puderam libertá-lo, Jesus exclamou: "O geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?" (Mateus 17.17). A inoperância e fraqueza da igreja entristecem a Jesus. A igreja foi criada para ser instrumento de libertação e sinal de vida no meio de uma geração cativa e marcada pelo espectro da morte. A igreja deve ser o braço de Deus em ação na história. Ela não pode ser um exército tímido, impotente e covarde, que recua diante das forças do mal. Ela precisa invadir as portas do inferno. Ela é agente de Deus na história para pregar, curar e libertar. A igreja deve brilhar como luzeiro no meio de uma geração imersa nas densas trevas. Se a igreja falhar, o mundo perecerá. Se a igreja não tiver poder, as trevas prevalecerão. Se a igreja estiver fraca, o diabo fará grandes estragos.


   Precisamos questionar-nos: Temos produzido alegria ou sofrimento no coração de Jesus? Como ele nos vê? Temos usado os recursos e as ferramentas que ele colocou em nossas mãos? Temos prevalecido e triunfado em seu nome? Temos abalado as portas do inferno? Temos desestabilizado as tramas do diabo? Temos afugentado os aleivosos demônios que oprimem aqueles que nos buscam cheios de aflição? Temos visto o nome do Senhor ser glorificado em nossa vida?


   Jesus olhou para a igreja de Laodicéia , que possuía um elevado conceito de si mesma, e disse: "Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca" (Apocalipse 3.15, 16). Deus olhou do céu e viu o seu povo mergulhado em profunda devassidão e disse: "As vossas solenidades, a minha alma as aborrece: já me são pesadas: estou cansado de as sofrer" (Isaías 1.14). O que Deus pensa de você? Você tem sido motivo de alegria ou tristeza para o coração do Senhor?


   Há alguns anos preguei no culto de formatura do Seminário Presbiteriano de Recife. Após o culto, um formando compartilhou comigo sua dramática experiência vivida meses antes da formatura. Ele foi convidado para pregar em uma grande igreja de uma bela capital nordestina. Empacotou seus melhores sermões, fez sua mala e viajou na expectativa de uma bem-sucedida série de conferências. Ao chegar, porém, à casa do pastor para o grande desafio evangelístico, foi surpreendido por um fato novo. Uma mulher se dirigiu à casa do pastor tomada de grande desespero, pedindo socorro. Sua vizinha estava possessa, furiosa, indomável, e não havia quem pudesse libertá-la do poder dos demônios. O pastor disse calmamente à mulher: "Fique tranqüila: acaba de chegar de Recife um santo homem de Deus preparado para esta tarefa". O seminarista, atordoado, com as mãos geladas e trêmulas, os joelhos vacilantes e o coração cheio de pânico, disse ao pastor: "Eu apenas vim avisar ao senhor que já estou partindo". Na verdade, ele não conseguiu dizer nada. Estava em estado de choque. Jamais vivera situação semelhante. O pastor levou-o ao local onde estava a mulher possessa. De longe, eles começaram a ouvir os gritos alucinados da vítima dos demônios. O seminarista não conseguia caminhar sem sentir os joelhos batendo um no outro.


   Quando chegaram em frente à casa, havia ao redor uma multidão apavorada, sem saber o que fazer. O pastor olhou para o seminarista e disse: "Seminarista, o caso é todo seu, pode entrar na casa". Tremendo e assustado, ele entrou e deparou-se com um quadro aterrador: A mulher estava furiosa, com o rosto desfigurado, os olhos vermelhos e flamejantes, o cabelo desalinhado, bufando como uma fera ferida. Quando ele abriu a boca para repreender o espírito maligno, a mulher possessa lhe deu uma bofetada no rosto e o jogou no chão, e no chão ele ficou por mais de uma hora. O seminarista sentiu-se humilhado, envergonhado, nocauteado pelo inimigo. Em sua mente, como um filme, passavam ao vivo e em cores seus fracassos, sua incredulidade, sua aridez espiritual, seus pecados. Enquanto ele vivia esse momento doloroso de vergonha e derrota, a mulher possessa vociferava ao seu redor. Quando se sentiu no fundo do poço, impotente e quebrado, o jovem voltou os seus olhos para Deus e clamou: "Ó Deus, tem misericórdia de mim. Eu sou teu servo. Restaura a minha vida. Restitui-me as forças. Dá-me poder para confrontar esses demônios".


   Enquanto orava, como fez Sansão agarrado às colunas do templo, a mulher possessa caiu. E quando ela caiu, o jovem se levantou, porque diante de Deus demonstrara humildade, mas diante do diabo isso significava autoridade. No poder que há no nome de Jesus, ele repreendeu os demônios que estavam tomando aquela mulher, e ela foi libertada.


   Esse jovem formando, abraçado comigo, deixando pingar lágrimas na lapela do seu paletó, confessou: "Agora compreendo que não basta ser crente, não basta ser líder, não basta ser pastor, não basta falar do poder de Deus: é preciso experimentar esse poder". Não podemos confrontar o poder das trevas estribados em nossas próprias forças. Precisamos ser revestidos com o poder de Deus, pois só assim traremos alegria ao coração de Jesus!



Extraído do Livro "As faces da espiritualidade - Hernandes Dias Lopes"

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