quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Poder para testemunhar - parte 1

A Preparação

A. F. BALLENGER

"Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra." (At 1.8.)

Leitor, recebeu você este poder para testemunhar? Se não o recebeu, está buscando-o? Ou tem-no buscado em vão? Está realmente desejoso de receber o Espírito Santo e por ele tornar-se poderosa testemunha de Cristo?

O que é que você sabe e de que deseja testificar, que o leva a ter tanto desejo de receber poder? Sabe que, mediante os méritos de Cristo, Deus lhe perdoa os pecados? Trata-se de uma experiência pessoal? Está pronto agora mesmo a testificar dessa verdade em seu lar, aos vizinhos ou na igreja? Caso contrário, sua ne­cessidade é mais de ter alguma coisa para contar, do que ter poder.

Multidões estão sobrecarregadas com a culpa do pecado. Suas vidas não apresentam esperanças. Muitos, desesperados, se suicidam. Deus quer que este grande mundo pecador conheça sua prontidão para perdoá-lo, dar-lhe "uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria em vez de pranto, veste de louvor em vez de espírito angusti­ado". Quer que você testifique de que ele faz tudo isso. Você está apto para fazê-lo? Está certo de que realmente ele o faz?

A responsabilidade de uma testemunha se limita ao depoimento daquilo de que tem conhecimento. Você fica impaciente ante provações difíceis? É para contar isso"aos confins da terra" que você deseja poder? Você é vaidoso, ou invejoso, ou ciumento, ou egoísta, ou ambici­oso, ou irascível, ou crítico? É dado a maus juízos ou a falar mal dos outros? Você ama ao mundo e seus praze­res? É escravo de seus apetites ou da concupiscência? Você dá lugar a pensamentos impuros? Ama os bens deste mundo? É cobiçoso? É dado a frivolidades? É impetuoso ou temerário? Jesus Cristo é o poder de Deus para libertação de todos esses males. Você o conhece como tal? Se não, o que é que o torna tão empenhado em que Deus lhe dê poder?

Você não acha que já tem poder suficiente para anunciar suas fraquezas ao mundo? Caso o Senhor lhe desse o poder do Espírito Santo para testificar, sendo que conhece tão pouco do seu poder salvador, estaria fazendo de você uma poderosa testemunha contra ele. O poder lhe daria destaque; conseqüentemente, o que estaria em realce seria o pecado que o tem escravizado. Na mesma proporção, você se tornaria uma poderosa testemunha falsa, contra Cristo e sua promessa de salvação completa.

Enquanto Salomão era humilde, o Senhor lhe conce­deu grande poder, tornando-se ele testemunha de Deus até aos confins da terra. "Todo mundo procurava ir ter com ele para ouvir-lhe a sabedoria, que Deus lhe pusera no coração." (1 Rs 10.24.) Mas quando Salomão caiu em pecado todo o mundo tomou conhecimento do fato e ele se tornou a mais poderosa testemunha em "todo o mundo"contra o Senhor. Havia muitos outros cultuado-res de ídolos em Israel no tempo de Salomão, mas seu poder de propagar o mal nem se comparava com o de Salomão. Se o Senhor concedesse a você o poder do alto, enquanto seu caráter se conserva fraco e falho em algum ponto, o resultado seria a manifestação dessa fraqueza, ao mundo.

O Espírito Santo veio sobre os discípulos no dia de Pentecoste, não para induzi-los a vencer o egoísmo ou as desavenças. Pedro não passou a manhã de Pentecoste confessando ter negado a Cristo, ter mentido ou blasfe­mado: essa obra de arrependimento, o Espírito já havia operado nele. A primeira coisa que Pedro fez apósreceber o poder foi exatamente testificar daquilo que ele já conhecia e experimentara do poder de Deus.

Portanto, está claro que ninguém pode participar da "chuva serôdia", ou da plenitude do poder do Espírito Santo para testificar, enquanto não conhecer na própria experiência, não só que Deus perdoa pecados, mas também que ele concede a vitória sobre cada pecado que nos escraviza. Primeiro, é necessário que haja plenitude de vitória, e depois a plenitude do poder para testificar. Alguma coisa para contar, e depois o poder para contá-la.

sábado, 26 de novembro de 2011

Graça Livre ou Graça Forçada?

Graça Livre ou Graça Forçada?

Por Steve Witski




Em seu bem conhecido sermão “Graça Livre,” John Wesley disse que a “graça ou amor de Deus, a fonte de nossa salvação, é LIVRE EM TODOS, e LIVRE PARA TODOS” [Works, 7:373]. Neste sermão ele respondeu diretamente aos professores calvinistas da época que ensinavam que a graça amorosa de Deus não é livre para todos mas irresistivelmente forçada sobre apenas alguns – os eleitos. Wesley acreditava que as Escrituras não apoiavam tal ensino.

Assim como nos dias de Wesley, os calvinistas de hoje em dia ensinam que a graça de Deus não é livre para todos mas forçada sobre apenas alguns. Alguns de meus irmãos calvinistas objetariam ao uso da palavra “forçar” para descrever a obra irresistível da graça de Deus sobre os corações dos eleitos. Todavia, me parece que estou justificado em usar tal palavra já que os calvinistas usam o equivalente dela em seus textos. Isto se tornará mais claro conforme avançarmos pelo artigo.

Os calvinistas apelam tipicamente para a graça irresistível de Deus a partir de Jo 6.44, “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.” O teólogo reformado R. C. Sproul diz que este versículo “ensina pelo menos isto: Não está dentro da capacidade natural do homem decaído vir a Cristo por si próprio, sem algum tipo de assistência divina” [Eleitos de Deus, p. 50]. Podemos ver que Wesley está de completo acordo com a afirmação de Sproul quando escreve, “O livre-arbítrio natural, no presente estado da humanidade, eu não reconheço; eu somente afirmo que há uma medida de livre-arbítrio sobrenaturalmente restaurada em cada um, junto com aquela luz sobrenatural que ‘ilumina a todo o homem que vem ao mundo’” [Works, 10:229-30].

Wesley ensinava que essa assistência divina era absolutamente necessária para cada pessoa vir a Cristo em fé. Esta assistência graciosa vem antes ou preveniente a cada movimento do homem em direção a Deus. A humanidade é incapaz de fazer o menor movimento em direção a Cristo em sua condição caída sem que Deus primeiro tome a iniciativa amorosa e redentora.

O desacordo entre calvinistas e arminianos seria sobre o significado da palavra trouxer em Jo 6.44; se este trazer ou assistência divina é irresistível ou resistível, e se ele se estende a todas as pessoas como sugere Jo 12.32, ou apenas a algumas pessoas. Precisamos ter em mente que há uma enorme diferença entre ser irresistivelmente compelido ou forçado a crer em Cristo e ser graciosamente capacitado a crer.

A posição de Sproul é óbvia de suas seguintes palavras: “O Dicionário Teológico do Novo Testamento, de Kittel, define-a como significando compelir por irresistível superioridade. Lingüisticamente e lexicograficamente, a palavra significa ‘compelir.’” [Eleitos de Deus, p. 51; Grace Unknown, p. 153]. Ele ainda argumenta em favor deste significado apelando a dois textos adicionais: Tg 2.6 e At 16.19. Ele chama a atenção que ambos os textos traduzem a palavra grega helkuo como “arrastar” e portanto Jo 6.44 não pode significar cortejar ou persuadir amorosamente como alguns arminianos afirmam [p. 69].   

Outro teólogo reformado, Loraine Boettner, estaria de acordo com Sproul como se vê como ele insere as seguintes palavras em Jo 6.44: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer [literalmente, arrastar]” [The Reformed Faith, p. 11].

O calvinista Robert W. Yarbrough apresenta o mesmo argumento que Sproul só que com mais detalhes. Ele escreve,   


“Trazer” em 6.44 traduz o grego helkuo. Fora de João ele aparece no Novo Testamento somente em At 16.19: “prenderam Paulo e Silas, e os levaram à praça....” O Evangelho de João usa a palavra para falar de pessoas sendo atraídas a Cristo (12.32), uma espada sendo desembainhada (18.10), e uma rede cheia de peixes sendo puxada ou arrastada para a praia (21.6, 11). A forma relacionada de helko aparece em At 21.30 (“o arrastaram para fora do templo”) e Tg 2.6 (“Porventura não vos oprimem os ricos, e não vos arrastam aos tribunais?”). É difícil evitar a impressão de que Jo 6.44 refere-se a uma “atração vigorosa” ao trazer os pecadores ao Filho [“Divine Election in the Gospel of John,” em Still Sovereign, p. 50, n. 10].

Há alguns problemas com a abordagem tanto de Yarbrough quanto de Sproul no entendimento da palavra trazer em Jo 6.44. O primeiro é que seu método de olhar para helkuo é um exemplo de uma falácia de estudo da palavra conhecida como “carregar-palavra.” Isto ocorre quando uma pessoa pega o significado de uma palavra em um contexto e então busca aplicar esse mesmo significado em um contexto diferente. Ambos fazem isto quando apelam para o uso de helkuo em Tg 2.6, At 16.19 e outras passagens, como justificativa para entender Jo 6.44 como significando arrastar ou forçar.

Em segundo lugar, embora Yarbrough não cita nenhuma obra de referência para apoiar as suas conclusões, Sproul pelo menos cita uma, o Dicionário Teológico do Novo Testamento, de Kittel [TNDT]. Após pesquisar a definição no “Grande” Kittel por mim mesmo, fiquei surpreso ao descobrir que ela não concorda com a definição de Sproul de trazer. Albrecht Oepke comenta que no uso de João da palavra helkuo “força ou magia pode ser desconsiderada, mas não o elemento sobrenatural” [TDNT, 2:503]. Contudo, para a definição de Sproul se sustentar, o uso de João deve significar compelir ou forçar. Quando me virei para descobrir o que o “Pequeno” Kittel (a edição condensada em um volume da imensa obra de dez volumes de Kittel) tinha a dizer sobre “trazer,” fiquei chocado com o que ele tinha a dizer em comparação com as afirmações dogmáticas de Sproul. Aqui está o comentário completo conforme traduzido e condensado por Geoffrey Bromiley:   

O significado básico é “trazer,” “arrastar” ou, no caso de pessoas, “compelir.” Ele pode ser usado para “atrair” para um lugar por magia, para demônios sendo “puxados” à vida animal, ou para a influência interior da vontade (Platão). O mundo semítico tinha o conceito de uma atração irresistível de Deus (cf. 1Sm 10.5; 19.19ff; Jr 29.26; Os 9.7). No Antigo Testamento helkein denota um impulso poderoso, como em Ct 1.4, que é obscuro mas expressa a força do amor. Este é o ponto nas duas importantes passagens em Jo 6.44; 12.32. Não há nenhuma idéia aqui de força ou magia. O termo figuradamente expressa o poder sobrenatural do amor de Deus ou Cristo que sai para todos (12.32) mas sem o qual ninguém pode vir (6.44). A aparente contradição mostra que ambas a eleição e a universalidade da graça devem ser entendidas com seriedade; a compulsão não é automática [p. 227].

O quê? A compulsão não é automática? Mas isto é exatamente o que Sproul e outros calvinistas afirmam que helkuo significa em Jo 6.44 – Deus literalmente e irresistivelmente compele, arrasta ou força os eleitos a virem a Cristo. Sim, helkuo pode literalmente significar arrastar, compelir ou forçar em certos contextos (Jo 18.10; 21.6, 11; At 16.19; 21.30; e Tg 2.6), mas não é o significado lexical para o contexto de Jo 6.44, nem, a propósito, Jo 12.32. Sproul confiantemente afirma que “lingüisticamente e lexicograficamente, a palavra significa compelir,” mas onde está a citação de toda a evidência lexical para apoiar esta afirmação?

O Significado Lexical da Palavra “Trazer” em Jo 6.44 e 12.32

Fiz uma pesquisa em todo Léxico, Dicionário Exegético e Dicionário Grego-Ingles disponível, que eu pude encontrar em livrarias, Seminários e bibliotecas de Faculdade que tenho acesso. Aqui está uma amostra da evidência:

A Greek-English Lexicon of the New Testament and other Early Christian Literature diz que helkuo é usado figuradamente “da atração sobre a vida interior do homem… atrair, seduzir, Jo 6.44” [Bauer, Arndt, Gingrich, Danker, p. 251].

The Analytical Lexicon to the Greek New Testament afirma que helkuo é usado metaforicamente para “atrair mentalmente e moralmente, Jo 6.44; 12.32” [William Mounce, p. 180].

The Greek-English Lexicon to the New Testament tem “metaforicamente, atrair, isto é, seduzir, Jo 12.32. Cf. Jo 6.44” [W. J. Hickie, p. 13].

The Analytical Lexicon of the Greek New Testament de Timothy Friberg, Barbara Friberg e Neva F. Miller diz “figuradamente, de uma forte atração na vida mental e moral, atrair, seduzir (Jo 6.44)” [p. 144].

O calvinista Spiros Zodhiates, em seu Hebrew-Greek Key Study Bible, diz que “helkuo é usado de Jesus na cruz atraindo por Seu amor, não pela força (Jo 6.44; 12.32)” [New Testament Lexical Aids, p. 1831].

O que é irônico em toda esta discussão é que a definição acima coincide maravilhosamente com a doutrina wesleyana-arminiana da graça preveniente – uma doutrina que R. C. Sproul nega que a Bíblia ensina [pp. 91-93]. Os wesleyanos-arminianos acreditam que a graça divina opera nos corações e vontades de cada pessoa para induzir uma resposta de fé ou como Thomas Oden afirma tão bem, “O amor de Deus capacita precisamente aquela resposta no pecador que a santidade de Deus exige: confiança na própria auto-entrega de Deus” [The Transforming Power of Grace, p. 45].

A graça preveniente ou assistente de Deus está moralmente atraindo todas as pessoas a Si mesmo (Jo 12.32). Esta obra graciosa de Deus não compele ou força alguém a crer mas capacita todos a responder aos comandos de Deus para desviarem-se do pecado em arrependimento, e em direção ao Salvador Jesus Cristo em fé. Dessa forma, com o mesmo vigor do Calvinismo, a salvação pode ser atribuída completamente a Deus, mas sem negar a responsabilidade humana genuína que o Calvinismo nega.

O que também é irônico é que o entendimento de Wesley de “trazer” em sua Notas Explicativas sobre o Novo Testamento está completamente de acordo com a evidência lexical que já observamos. Ele diz de Jo 6.44: “Ninguém pode crer em Cristo, a menos que Deus o dê capacidade. Ele nos atrai primeiramente pelos bons desejos, não pela compulsão, não por colocar a vontade sob alguma necessidade, mas pelos fortes e amáveis, todavia ainda resistíveis movimentos de Sua graça divina” [pp. 328-329].

Jesus disse em Mt 16.24, “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me.” Wesley respondeu a estas palavras com... “Ninguém é forçado; mas se alguém quiser ser um cristão, deve ser nestes termos. Renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz – Uma regra que nunca é demais observá-la” [Notas Explicativas, p. 83]. No final da Parábola do Grande Banquete no evangelho de Lucas, Jesus disse, “E disse o senhor ao servo: Sai pelos caminhos e valados, e força-os a entrar, para que a minha casa se encha” (14.23). A isto Wesley respondeu, “Força-os a entrar – Com toda a violência do amor, e a força da Palavra de Deus. Esta compulsão, e esta somente, em questões de religião, foi usada por Cristo e Seus discípulos” [Notas Explicativas, p. 258]. O argumento de Paulo encontrado em At 17.24-28, que Deus Se revelou através de Sua criação e cuidado providencial para que as pessoas “buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar,” é interpretado por Wesley como significando: “O caminho está aberto; Deus está disposto a ser encontrado, mas Ele não usará a força sobre o homem” [Notas Explicativas, p. 465]. Quando Paulo se defendeu diante do Rei Agripa em Atos capítulo vinte e seis ele disse estas palavras, “Por isso, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial [de Cristo na estrada para Damasco]” (v. 19). Wesley comentou, “Não fui desobediente – Eu obedeci; usei esse poder (Gl 1.16). De forma que até esta força pela qual São Paulo foi influenciado não era irresistível” [Notas Explicativas, p. 501]. Em resposta às palavras familiares encontradas em 1Tm 2.3, 4, Wesley diz, “...quer que todos os homens se salvem. É estranho que qualquer um que Ele verdadeiramente salvou duvide da universalidade de Sua graça! Quer seriamente que todos os homens – Não uma parte apenas, muito menos a menor parte. Se salvem – Eternamente. Isto é tratado nos versículos 5 e 6. E a fim de que venham – Eles não são compelidos. Ao conhecimento da verdade – Que traz salvação” [Notas Explicativas, p. 774, 775]. Em Apocalipse capítulo dois Jesus diz que ele dá a uma falsa profetisa na Igreja de Tiatira “tempo para que se arrependesse da sua prostituição”, todavia “não se arrependeu” (v. 21). As notas de Wesley dizem, “E dei-lhe tempo para que se arrependesse – Tão grande é o poder de Cristo! E não se arrependeu – Assim, embora o arrependimento seja dom de Deus, o homem pode recusá-lo; Deus não irá compelir” [Notas Explicativas, p. 948].

Ser um arminiano é ser, como Wesley disse, um amante da graça livre. Todas as pessoas compartilham da graça livre e capacitante de Deus. Por essa razão, Deus pode justamente conceder a vida eterna ou a morte eterna dependendo de como as pessoas usam sua liberdade capacitada pela graça. O Calvinismo não tem a palavra “trazer” de Jo 6.44 para usar em seu favor para ensinar suas doutrinas da predestinação e da graça irresistível. Por outro lado, os wesleyanos-arminianos têm a evidência lexical em seu favor para ensinar que a “graça ou amor de Deus, a fonte de nossa salvação, é LIVRE EM TODOS, e LIVRE PARA TODOS.” Vamos, no poder do Espírito de Deus, poderosamente proclamar esta verdade bíblica em nossas igrejas hoje.


Graça: Gratuita, mas Cara

Graça: Gratuita, mas Cara

John Mark Hicks


Dietrich Bonhoeffer foi um importante teólogo alemão que protestou contra a igreja do estado na Alemanha porque o Nazismo veio a controlar suas decisões e ideologia. Como resultado, e com muitos outros, ele fundou a Igreja Confessante na Alemanha. Bonfoeffer foi impedido de ensinar nas Universidades, proibido de falar ou escrever ao público, e finalmente preso. Ele foi executado no campo de concentração em Flossenburg em 9 de abril de 1945 com a idade de trinta e nove anos, dias antes dos aliados liberarem o campo.

Bonfoeffer pagou um preço altíssimo por sua fé. Ela lhe custou sua profissão, sua liberdade e finalmente sua vida. A graça de Deus, como ele a concebia, era cara. Não era barata.

Em 1937, Bonhoeffer pôde publicar um pequeno livro sobre o Sermão do Monte (Mt 5-7) intitulado The Cost of Discipleship (O Preço do Discipulado). A polêmica implícita deste livro era que a igreja do estado tinha aceito uma graça barata. Ela tinha se entregado à cultura secular ao invés de transformá-la. Tinha aceito o “igrejismo” no lugar do verdadeiro discipulado. Nas palavras de Bonhoeffer, “Graça barata é a pregação do perdão sem a exigência do arrependimento, do batismo sem a disciplina da Igreja, da Comunhão sem a confissão, da absolvição sem a contrição” (p. 42).

A graça custou a Deus a vida de seu Filho. Ela também é custosa para nós. Ela exige nossa obediência numa vida de discipulado. Este é um discipulado que envolve o mundo com sal e luz. É um discipulado que vive no mundo para serviço e ministério aos outros. É um discipulado que nos convoca a seguir Cristo pelo mundo para servir ao mundo (Jo 17.15-18). É uma graça cara.

A graça é o amor imerecido de Deus. É favor concedido quando a ira é devida. Mas a concessão dessa graça nos convoca a um caro discipulado no mundo. A graça não custa barato. Custou a Deus, e custa a nós nossas próprias vidas em abnegação. “Se alguém quer vir após mim,” Jesus disse, “negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz” (Lc 9.23). A graça exige nosso serviço para toda a vida – exige um preço de nós. Enquanto pregamos a majestade e glória da graça em Ross Road, também proclamamos o custo dessa graça em nossas vidas.

Resposta Calvinista - John Stott

Predestinação: Cinco Afirmações Incontestáveis

por John Stott

Comentário Sobre Romanos 8:28-30

“Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito. Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, também chamou, também justificou; aos que justificou também glorificou” (Romanos 8:28-30). Nestes dois versículos Paulo esclarece o que quis dizer no versículo 28 ao referir-se ao “propósito” de Deus, segundo o qual ele nos chamou e age para que tudo contribua para o nosso bem. Ele analisa o “bem” segundo os parâmetros de Deus, bem como o seu propósito de salvação, através de cinco estágios, desde que a idéia surgiu em sua mente até a consumação do seu plano na glória vindoura. Segundo o apóstolo, esses estágios são: presciência, predestinação, chamado, justificação e glorificação. Primeiro há uma referência a aqueles que Deus de antemão conheceu. Essa alusão a “conhecer de antemão”, isto é, saber de alguma coisa antes que ela aconteça, tem levado muitos comentaristas, tanto antigos como contemporâneos, a concluir que Deus prevê quem irá crer e que essa presciência seria a base para a predestinação. Mas isso não pode estar certo, pelo menos por duas razões. A primeira é que neste sentido Deus conhece todo mundo e todas as coisas de antemão, ao passo que Paulo está se referindo a um grupo específico. Segundo, se Deus predestina as pessoas porque elas haverão de crer, então a salvação depende de seus próprios méritos e não da misericórdia divina; Paulo, no entanto, coloca toda a sua ênfase na livre iniciativa da graça de Deus. Assim, outros comentaristas nos fazem lembrar que no hebraico o verbo “conhecer” expressa muito mais do que mera cognição intelectual; ele denota um relacionamento pessoal de cuidado e afeição.

Segundo, aqueles que [Deus] de antemão conheceu, ou que amou de antemão, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos(29). O verbo predestinou é uma tradução de proorizõ que significa “decidiu de antemão” (BAGD), como se vê em Atos.4:28 (“Fizeram o que o teu poder e tua vontade haviam decidido de antemão que acontecesse”). É, pois, evidente que o processo de tornar-se um cristão implica uma decisão; antes de ser nossa, porém, tem de ser uma decisão de Deus. Com isso não estamos negando o fato de que nós “nos decidimos por Cristo”, e isso livremente; o que estamos afirmando é que, se o fizemos, é só porque, antes disso, ele já havia “decidido por nós”.

O Dr. J. I. Packer, em sua excelente obra O Evangelismo e a Soberania de Deus, aponta que, mesmo que neguem isso, a verdade é que os cristãos crêem na soberania de Deus na salvação. “Dois fatos demonstram isso”, ele escreve. “Em primeiro lugar, o crente agradece a Deus pela sua conversão. Ora, por que o crente age assim? Porque sabe em seu coração que Deus foi inteiramente responsável por ela. O crente não se salvou a si mesmo; Deus o salvou. (…) Há um segundo modo pelo qual o crente reconhece que Deus é soberano na salvação. O crente ora pela conversão de outros... roga a Deus para que opere neles tudo quanto for necessário para a salvação deles”. Assim os nossos agradecimentos e a nossa intercessão provam que nós cremos na soberania divina. “Quando estamos de pé podemos apresentar argumentos sobre a questão; mas, postados de joelhos, todos concordamos implicitamente”.Não obstante, ele lançou luz sobre o nosso problema de tal maneira a contradizer as principais objeções que são levantadas e a mostrar que a predestinação gera conseqüências bem diferentes do que se costuma supor. 

Vejamos cinco exemplos: 1. Dizem que a predestinação gera arrogância, uma vez que (alega-se) os eleitos de Deus se gloriam de sua condição privilegiada. Mas o que acontece é justamente o contrário: a predestinação exclui a arrogância, pois afinal, não dá para entender como Deus pode se compadecer de pecadores indignos como eles! Humilhados diante da cruz, eles só querem gastar o resto de suas vidas “para o louvor da sua gloriosa graça” e passar a eternidade adorando o Cordeiro que foi morto.

2. Dizem que a predestinação produz incerteza e que cria nas pessoas uma ansiedade neurótica quanto a serem ou não predestinadas e salvas. Mas não é bem assim. Quando se trata de incrédulos, eles nem se preocupam com a sua salvação – até que, e a não ser que, o Espírito Santo os convença do pecado, como um prelúdio para a sua conversão. Mas, se são crentes, mesmo que estejam passando por um período de dúvida, eles sabem que no final a sua única certeza consiste na eterna vontade predestinadora de Deus. Não há nada que proporcione mais segurança e conforto do que isso.

3. Dizem que a predestinação leva à apatia. Afinal, se a salvação depende inteiramente de Deus e não de nós, argumentam, então toda responsabilidade humana diante de Deus perde a razão de ser. Uma vez mais, isso não é verdade. A Escritura, ao enfatizar a soberania de Deus, deixa muito claro que isso não diminui em nada a nossa responsabilidade. Pelo contrário, as duas estão lado a lado em uma antinomia, que é uma aparente contradição entre duas verdades. Diferentemente de um paradoxo, uma antinomia “não é deliberadamente produzida; ela nos é imposta pelos próprios fatos... Nós não a inventamos e não conseguimos explicá-la. Não há como nos livrar dela, a não ser que falsifiquemos os próprios fatos que nos levaram a ela”. Um bom exemplo se encontra no ensino de Jesus quando declarou que “ninguém pode vir a mim, se o Pai... não o atrair” e que “vocês não querem vir a mim para terem vida”. Por que as pessoas não vão a Jesus? Será porque não podem? Ou é porque não querem? A única resposta compatível com o próprio ensino de Jesus é: “Pelas duas razões, embora não consigamos conciliá-las”.

4. Dizem que a predestinação produz complacência e gera antinomianos. Afinal, se Deus nos predestinou para a salvação eterna, por que não podemos viver como nos agrada, sem restrições morais, e desafiar a lei divina? Paulo já respondeu esta questão no capítulo 6. Aqueles que Deus escolheu e chamou, ele os uniu com Cristo em sua morte e ressurreição. E agora, mortos para o pecado, eles renasceram para viver para Deus. Paulo escreve também em outro lugar que “Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença”. Ou melhor, ele nos predestinou para sermos conformes à imagem de seu Filho (29).

5. Dizem que a predestinação deixa as pessoas bitoladas, pois os eleitos de Deus passam a viver voltados apenas para si mesmos. Mas o que acontece é o contrário. Deus chamou um único homem, Abraão, e sua família apenas, não para que somente eles fossem abençoados, mas para que através deles todas as famílias da terra pudessem ser abençoadas. Semelhantemente, a razão pela qual Deus escolheu seu Servo, a figura simbólica de Isaías que vemos cumprida parcialmente em Israel, mas especialmente em Cristo e em seu povo, não foi apenas para glorificar Israel, mas para trazer luz e justiça às nações. Na verdade estas promessas serviram de grande estímulo para Paulo (como deveriam ser também para nós) quando ele, num ato de grande ousadia, decidiu ampliar sua visão evangelística para alcançar os gentios. Assim, Deus fez de nós seu “povo exclusivo”, não para nos tornarmos seus favoritos, mas para que fôssemos suas testemunhas, “para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. Portanto, a doutrina da predestinação divina promove humildade, não arrogância; segurança e não apreensão; responsabilidade e não apatia; santidade e não complacência; e missão, não privilégio.


Fonte: STOTT, John. A Mensagem de Romanos. Trad. Silêda e Marcos D S Steuernagel. 1ed. São Paulo: ABU Ed., 2000. 528p.; pp. 300-306.

http://www.monergismo.com/textos/predestinacao/predestinacaostott.htm

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Versículos Arminianos





Jo 15.1-2, 6 – “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira. Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem.”

1Tm 1.18-19: “Pelejes a boa peleja, conservando a fé, e uma boa consciência, a qual alguns havendo rejeitado, naufragando no tocante à fé.”

Hb 6.4-6: “Porque é impossível que os que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus, e os poderes do mundo vindouro, e depois caíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; visto que, quanto a eles, estão crucificando de novo o Filho de Deus, e o expondo ao vitupério.”

Hb 10.26-29: “Porque se voluntariamente continuarmos no pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma expectação terrível de juízo, e um ardor de fogo que há de devorar os adversários. Havendo alguém rejeitado a lei de Moisés, morre sem misericórdia, pela palavra de duas ou três testemunhas; de quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue do pacto, com que foi santificado, e ultrajar ao Espírito da graça?”

“Aquele, pois, que pensa estar em pé, olhe não caia.” 1Co 10.12.

"O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se" (2Pe 3:9).

"o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade." 1 Timóteo 2.4

Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! 16 Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca. 17 Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu;” (Ap 3:15-16 ACF)

Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos. 

Hebreus 2:9

Amei a Jacó, e Odiei a Esaú (Rm 9.13)

Amei a Jacó, e Odiei a Esaú (Rm 9.13)

F. B. Meyer



O apóstolo está tratando aqui, não de indívíduos como tais, mas de povos e nações. Por exemplo, Isaque representa toda a raça judaica – a semente de Abraão (v. 7). Ele está tratando da questão, por que foi que Deus escolheu Israel e rejeitou Edom, escolheu Jacó e rejeitou Esaú, e ele mostra que a decisão última de seus destinos repousa sobre o propósito de Deus, de acordo com a eleição. Um foi eleito para ser um canal de imensa bênção para o mundo, enquanto que o outro foi rejeitado.


Mas devemos sempre associar o pré-conhecimento divino à escolha divina. “Os que dantes conheceu também os predestinou.” Devemos considerar Jacó e Esaú, não como personalidades individuais meramente, mas como fundadores de nações. Pois o propósito de Deus na formação do povo eleito, Jacó, o metódico e sagaz, era mais adequado do que Esaú, o autônomo, o itinerante, o garoto de ímpeto e entusiasmo. E, além disso, havia tendências e habilidades religiosas nele das quais Esaú não deu nenhum sinal ou traço. Isto não resolve todo o mistério, talvez, mas somente o arremessa um degrau ou dois mais para trás. Mas, ele deve ser considerado. Como uma vela, ele lança um fino raio de luz no abismo escuro. De qualquer forma, não é certo que a escolha de Deus pousou sobre aquele que era mais adequado para servir o propósito divino?

Pode ser que Deus está querendo executar Seu propósito através de você. Presta atenção. O vapor de um guisado saboroso ainda corre pelo ar desértico, e atrai o apetite de nossas naturezas, e somos fortemente tentados a abrir mão do invisível e do eterno em troca da satisfação de um instante. Cuide para que por um pedaço de carne você não venda seu direito de primogenitura.

Fonte: Our Daily Homily, Vol. 5, p. 126

Tradução: Paulo Cesar Antunes