segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Os Milagres Seguem o Arado


Por A. W. Tozer - "O melhor de A. W. Tozer"

 

"Arai o campo virgem; porque é tempo de buscar ao Senhor, até que ele venha e chova a justiça sobre vós". Os 10: 12

Vemos aqui dois tipos de solo: o solo duro ou virgem e aquele que foi amaciado pelo arado.

O solo duro é convencido, complacente, protegido dos golpes do arado e da agitação pela grade. Um campo assim, abandonado ano após ano, acaba tornando-se a habitação do corvo e do gaio. Se tivesse inteligência, poderia ter em alta conta a sua reputação; possui estabilidade; a natureza adotou-o; pode ser tomado como certo que continuará sempre o mesmo,' enquanto os campos que o rodeiam mudam de marrom para verde e de verde para marrom de novo. Seguro e tranqüilo, ele se espalha preguiçosamente ao sol, um verdadeiro retrato da satisfação sonolenta. Mas o preço que paga pela sua tranqüilidade é terrível: pois ele não vê o milagre do crescimento; não sente os movimentos da vida em crescendo nem aprecia os prodígios da semente brotando ou a beleza do grão que amadurece. Jamais pode conhecer fruto porque teme o arado e a grade.

Em oposição direta a isto, o campo cultivado entregou-se à aventura de viver. A cerca protetora abriu-se para dar entrada ao arado, e este veio como todos eles vêm, prático, cruel, apressado. A paz foi quebrada pelos gritos do fazendeiro e o ruído das máquinas. O campo sentiu o labor da mudança; foi perturbado, revolvido, ferido e quebrado, mas suas recompensas valem o sofrimento a que se submeteu. A semente manifesta à luz do dia seu milagre de vida, curiosa, explorando o mundo à sua volta. Em todo o campo a mão de Deus está operando no serviço da criação, velho como o tempo e sempre renovado. Novas coisas nascem, crescem, amadurecem e realizam a grande profecia latente no grão quando foi colocado no solo. Os prodígios da natureza seguem o arado. Há também duas espécies de vida: a dura e a arada. Para obter exemplos de uma vida endurecida não precisamos ir longe. Existem muitas ao nosso redor.


O homem de vida endurecida está contente consigo mesmo e com o fruto que produziu no passado. Não quer que o incomodem. Sorri com superioridade quando ouve falar de reavivamentos, jejuns, auto-análises, e todas as tarefas ligadas à produção de frutos e à angústia do crescimento. O espírito de aventura morreu nele. É estável, "fiel", sempre em seu lugar costumeiro (como o velho campo), conservador e uma espécie de marco na pequena igreja. Mas é estéril. A maldição de uma vida assim é o fato de ser fixa, tanto em tamanho como em conteúdo. Ser tomou o lugar de tornar-se. O pior que pode ser dito de tal indivíduo é que é o que irá ser. Ele encerrou-se entre quatro paredes e, através desse mesmo ato, deixou Deus do lado de fora e também o milagre.

A vida arada é aquela que, no ato do arrependimento, derrubou as cercas protetoras e enviou o arado da confissão à alma. O estímulo do Espírito, a pressão das circunstâncias e a angústia por uma vida sem frutos, combinaram-se para humilhar o coração. Uma vida assim abaixou as suas defesas, e abandonou a segurança da morte pelo perigo da vida. O descontentamento, a ansiedade, a contrição, a obediência corajosa à vontade de Deus: feriram e quebraram o solo até que esteja novamente preparado para a sementeira. E, como sempre, o fruto segue o arado. A vida e o crescimento começam à medida que Deus faz "chover justiça". Uma pessoa assim pode testemunhar: "E a mão do Senhor estava sobre mim."

Em correspondência a esses dois tipos de vida, a história religiosa mostra duas fases, a dinâmica e a estática. Os períodos dinâmicos foram aqueles tempos heróicos em que o povo de Deus atendia ao chamado do Senhor e saía para levar ousadamente seu testemunho ao mundo. Eles trocaram a segurança da inação pelos riscos do progresso inspirado por Deus. O poder de Deus seguia-se invariavelmente a tais atos. O milagre de Deus acompanhava seu povo aonde quer que ele fosse; parava quando seu povo parava.

Os períodos estáticos foram aqueles em que o povo de Deus se cansava de lutar e buscava uma vida de paz e segurança. Eles então se ocupavam tentando conservar os bens obtidos naqueles tempos mais ousados em que o poder de Deus se movia entre o povo.

A história bíblica está repleta de exemplos. Abraão "partiu" em sua grande aventura de fé, e Deus o acompanhou. Revelações, teofanias, a dádiva da Palestina, alianças e promessas de ricas bênçãos foram o resultado. Israel seguiu então para o Egito, e os prodígios cessaram durante quatrocentos anos. No final desse período, Moisés ouviu o chamado de Deus e adiantou-se para enfrentar o opressor. Uma torrente de poder acompanhou esse desafio e Israel logo se pôs em marcha. Enquanto ousou marchar, Deus enviou seus milagres a fim de abrir-lhe o caminho. Toda vez que a nação parava como um campo endurecido, Ele retirava a sua bênção e aguardava que se levantasse de novo e pedisse pelo seu poder.

Este é um esboço rápido mas justo da história de Israel e da Igreja. Enquanto "saíam e pregavam em toda parte", o Senhor operava junto a eles. . . confirmando a palavra por meio de sinais". Mas quando se retiravam para monastérios ou brincavam de edificar lindas catedrais, o auxílio de Deus era sustado até que um Lutero ou um Wesley se levantasse para desafiar novamente o inferno. Deus derramava então invariavelmente o seu poder como fizera antes.

Em toda denominação, sociedade missionária, igreja local ou cristão individual, vemos esta lei em operação. Deus opera quando seus filhos vivem ousadamente. Ele se interrompe quando não há mais necessidade de sua ajuda. No momento em que buscamos proteção fora de Deus, nós a encontramos em prejuízo próprio. No momento em que construímos uma parede de segurança feita de doações, leis secundárias, prestígio, múltiplos agentes para a delegação de nossos deveres, a paralisia se introduz imediatamente, uma paralisia que só pode terminar em morte.

O poder de Deus só vem atendendo ao apelo do arado Ele só é liberado na igreja quando ela estiver fazendo algo que necessite do mesmo. Com a palavra "fazendo" não quero indicar simples atividade. Já existe excesso de "movimento" nela, mas com tocas essas atividades ela cuida para manter intocado o campo endurecido. Ela toma precauções para confirmar sua movimentação, dentre dos limites da completa segurança. Essa a razão pela qual é estéril, não dá fruto. Está segura, mas amadurecida.

Olhe à sua volta e veja os milagres de poder que estão tendo lugar, veja onde eles se realizam. Não é no seminário onde cada pensamento é preparado para o aluno, sendo recebido sem esforço e de segunda mão; não é na instituição religiosa onde a tradição e o hábito tornaram a fé desnecessária; não é na velha igreja onde placas memoriais são colocadas sobre os móveis, prestando um testemunho silencioso quanto a glória que já se foi. Onde a fé destemida está lutando para avançar contra toda e qualquer oposição, Deus invariavelmente se encontra junto a ela, enviando "ajuda do santuário".

Na sociedade missionária a que pertenci durante muitos anos, notei que o poder de Deus sempre pairou sobre as nossas fronteiras. Milagres acompanharam nossos avanços e cessaram quando e onde permitimos que a complacência se introduzisse e deixamos de avançar. O credo do poder não pode salvar um movimento da esterilidade. É preciso que haja também o trabalho do poder.

Estou porém mais preocupado com o efeito desta verdade na igreja local e no indivíduo. Olhe para aquela igreja onde a abundância de fruto era antes a coisa regular e esperada, mas agora ele é pouco ou nenhum, e o poder de Deus parece estar em suspenso. Qual o problema? Deus não mudou, nem o seu propósito para essa igreja modificou-se de forma alguma. Nada disso, foi a igreja que mudou.

Uma auto-análise breve revelará que tanto ele como seus membros endureceram. Ela viveu e trabalhou, mas aceitou agora um estilo de vida mais fácil. Contenta-se com realizar seu programa sem demasiado esforço, com dinheiro suficiente para pagar suas contas e um número de membros bastante grande para assegurar seu futuro. Os membros esperam dela agora segurança em vez de orientação na batalha entre o bem e o mal. Ela se tornou uma escola em lugar de um acampamento. Seus membros são estudantes e não soldados. Eles estudam as experiências de outros cm lugar de buscar novas experiências por si mesmos.

O único caminho para o poder em tal igreja é sair do esconderijo e mais uma vez tomar o caminho cheio de perigos da obediência. A sua segurança é o seu maior inimigo. A igreja que teme o arado escreve o seu próprio epitáfio: a igreja que usa o arado anda pelo caminho do reavivamento.

Um comentário:

  1. Não crescer hj é um dos maiores problemas da Igreja.É o meu maior problema. O cristão que não cresce e nao dá frutos adoece e morre. Crescer dói em todos os sentidos...que possamos refletir e deixar o arado de Deus passar sempre por nossas vidas para que não cehguemos ao ponto de ser um solo tão duro e insensível a voz e à presença de Deus

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