sábado, 20 de outubro de 2012

Período Macabeu



Período Macabeu
O nome desse período está associado a Judas Macabeu, líder dos Macabeus. No entanto, o nome da família, segundo o historiador Flávio Josefo, era Hasmon, do qual deriva o nome “hasmoniano” ou “asmoniano”. Hasmon ou Chasmon foi bisavô de Matatias, pai de Judas Macabeu.

Esse período abrange 104 anos (167-63 a.C.). É caracterizado por lutas, perseguições, sacrifícios e, por último, por um longo período de independência e paz.

O surgimento desse período foi motivado pela nefasta dominação síria (Período Grego), sob o reinado de Antíoco IV, o Epífanes.

Causas remotas

O governo da Judeia, aos poucos, foi se fortalecendo nas mãos do sumo sacerdote. Isso levou o sumo sacerdócio judaico a um declínio espiritual, pois deixou de ser um poder espiritual e divino para tornar-se uma força política. Em consequência disso, a posição de “sumo sacerdote” começou a ser disputada. Nem o que a Lei de Moisés dizia a respeito nem a questão genealógica eram levados em conta. O poder temporal era a única coisa que realmente importava naquele momento.

Enquanto a dinastia ptolomaica dominava a Judeia, a selêucida não perdera jamais a esperança de um dia possuir a Terra Santa. De um lado a dinastia ptolomaica exercia influência sobre os judeus; de outro, os selêucidas procuravam, com promessas e dinheiro, ganhar-lhes a simpatia. Em resultado dessa disputa, surgiram dois partidos predominantes na Judeia: o judeu (representado por Onias III) e o grego (representado por Simão e Jason).

Com o advento de Antíoco Epífanes, o partido grego triunfa na Judeia, o que causou certo descontentamento ao partido da maioria, o judeu.

Quando Antíoco IV estava no apogeu de seu reinado, Onias III, do partido da Judeia, era sumo sacerdote em Jerusalém. Acusado de crimes pelo rei da Celesíria e por Simão, figura destacada no partido grego da Judeia, Onias III foi a Antioquia e se defendeu perante Epífanes das acusações.

O partido grego da Judeia também contava com Josué, irmão de Onias III. Josué era helenista convicto; até seu nome foi helenizado para Jason. Ajudou a acusar o próprio irmão. O partido grego pagou considerável soma de dinheiro e Jason se tornou o sumo sacerdote; Onias foi destituído. A principal preocupação de Jason foi helenizar a Palestina. Ele construiu ginásios, onde crianças e jovens praticavam os exercícios gregos. Ele também quase acabou com a circuncisão. Enviou representantes aos jogos de Hércules, com presentes aos deuses pagãos.

Três anos mais tarde, Jason enviou Menelau a Antioquia com o tributo para Antíoco. Avistando-se com o rei sírio, Menelau lisonjeou-lhe a vaidade e conseguiu o sumo sacerdócio. Regressou a Jerusalém feroz como um leão. Jason refugiou-se entre os amonitas. Não conseguindo levantar o dinheiro que prometera a Antíoco, Menelau fora chamado a Antioquia. Antes de ir, vendeu aos sírios alguns vasos do templo de Jerusalém, cuidando com isso subornar Andrônico, o que governava em Antioquia na ausência de Epífanes. Onias III estava em Antioquia nesse tempo e acusou Menelau de sacrilégio. Onias refugiou-se na gruta sagrada de Dafnes. Andrônico tirou-o do santuário e barbaramente o matou. Antíoco, movido de compaixão pela pureza de caráter de Onias, ordenou que matassem Andrônico e Menelau, que conseguiram fugir.

Causas recentes

Enquanto os judeus disputavam o sumo sacerdócio, Antíoco Epífanes ganhava terreno e se preparava para escravizar o povo do Senhor.

Cleópatra, irmã de Epífanes, é assassinada no Egito. O orgulhoso rei sírio prepara seus exércitos para enfrentar Ptolomeu VI em sucessivas batalhas. Depois de duas ou três batalhas, o embaixador romano Pompílio Laenas ordenou energicamente a Antíoco que cessasse o ataque ao Egito e entregou-lhe um decreto do Senado intimando-o a desistir desse intento. Temendo os romanos, Antíoco desistiu de seus planos, mas guardou seu ódio a fim de vingar-se mais tarde nos pequeninos e fracos judeus.

Na Síria e na Judeia passou a circular um boato de que Antíoco havia morrido na segunda batalha contra o Egito. Foi motivo de alegria principalmente para os judeus. Andrônico e Menelau, odiados pelos judeus, valeram-se desse boato e perseguiram os habitantes de Jerusalém.

Jason entrou em Jerusalém com mil homens. Menelau refugiou-se na cidadela. Jason praticou toda a sorte de crueldade contra os judeus. Fugiu depois para o Egito e chegou até Esparta, morrendo finalmente em terra estrangeira.

Antíoco, ao ouvir as notícias desses acontecimentos, pensou tratar-se de uma rebelião na Judeia. Supõe-se que Menelau tenha exercido influencia sobre os ânimos do rei para combater os judeus. Com esse plano, Menelau se livraria de seus inimigos. Antíoco, como relâmpago, parte para Jerusalém. Ataca-a, toma-a por assalto. Mata velhos, jovens, mulheres, crianças, num total superior a 40 mil pessoas. No seu desespero, ainda reúne milhares de judeus e os leva ao cativeiro.

Não satisfeito com seus crimes e suas atrocidades, entra no templo de Jerusalém, profana-o. Manda matar um porco sobre o altar. A carne do animal é assada e os judeus, sob lanças e espadas, obrigados a comerem. Os excrementos do suíno, com seu sangue, numa espécie de caldo, foram borrifados por todo o templo.

Ele ainda despojou o templo de seus vasos e outros utensílios de ouro destinados ao serviço sagrado. Calcula--se em 1.800 talentos o tesouro que Antíoco levou de Jerusalém para Antioquia.

Deixou Filipe, natural da Frígia, como governador da Judeia. Ele era cruel, violento e selvagem. (A sorte de Samaria foi a mesma: o templo de Gerizim também foi profanado. Andrônico, o traidor, governou Samaria).

Os judeus permaneceram 2 longos anos nessa humilhação, nesse estado de escravidão, desprezo e abandono.

Dois anos após dessas atrocidades, Antíoco recrudesce a perseguição contra os judeus. Apolônio, o tradicional inimigo dos judeus, é enviado por Antíoco à Judeia, à frente de 22 mil homens. Entrou em Jerusalém, parece-nos numa terça-feira, e esperou o sábado, quando os judeus nada faziam. Fingiu-se amigo do povo e propalou que sua missão era de paz. No entanto, seus homens tinham ordens terminantes de matar todos os judeus, principalmente os do sexo masculino.

O sábado almejado chegou. Os judeus procuraram seus lugares de adoração e entregaram-se ao exercício de seu culto. Descansaram finalmente, conforme o preceito da Lei de Moisés. Aproveitando a fraqueza dos judeus e conhecendo-lhes a fidelidade à Lei do Senhor, Apolônio e seus soldados lançaram-se sobre os indefesos judeus e os chacinaram. A matança foi monstruosa. O sangue correu aos jorros. Espanto e calamidade foram vistos na desolada cidade, que foi saqueada. O instinto feroz de Apolônio foi mais longe ainda: ele incendiou Jerusalém. Suas fortalezas foram destruídas. Apolônio fortificou-se no monte Sião e dominou a cidade, incluindo o templo.

Satisfeito com a crueldade de Apolônio, Antíoco decretou a uniformidade do culto em todos os termos de seus domínios. Foi golpe duro demais para os tradicionais judeus. Só havia duas opções: submeter-se à ordem ou morrer.

O responsável pelo cumprimento do grande edito, em Samaria e Judeia, foi Ateneu, um “Saulo” do paganismo. Antíoco, sendo apaixonado helenista, impôs o paganismo grego a ferro e fogo em seus domínios. (Percebe-se, portanto, que o helenismo era também intolerante.) Os samaritanos aceitaram passivamente as proposições do cruel Antíoco. Ateneu transformou o templo de Gerizim num templo dedicado a Zeus Xenius. O templo de Jerusalém seria dedicado a Zeus Olímpico. Willian Smith descreveu de forma bem expressiva a profanação do templo de Jerusalém:
Os pátios foram profanados com as mais licenciosas orgias; o altar foi coberto de abomináveis ofertas, a velha idolatria de Baal foi restaurada no seu obsceno aspecto, tal como fora levada à Grécia: as fálicas bacanais de Dionísio. Os exemplares do livro da Lei foram destruídos ou profanados com pinturas pagãs e obscenas. A prática dos ritos judaicos e a negativa de sacrifícios aos deuses gregos foram castigadas com a pena de morte.2

Conta-se que duas pobres mulheres só por terem circuncidado seus filhinhos foram presas e conduzidas com seus filhos por toda a cidade e, por fim, impiedosamente atiradas do muro.

Alguns que se refugiaram nas covas para guardar o sábado foram queimados por Filipe.

A prova mais dura e cruel a que se podia submeter um judeu era fazê-lo comer carne de porco. Eleazar, chefe escriba, nonagenário, foi obrigado a comer carne de porco, mas não quis comer. Meteram-lhe à força na boca, ele a cuspiu toda. Voluntariamente entregou-se ao martírio. Diante da obstinação do velho, os carrascos redobraram as crueldades. Quando expirava, pronunciou estas palavras de fé: “Está manifesto ao Senhor, aquele que tem o santo conhecimento, que podendo livrar-me da morte, suporto as agudíssimas dores do meu corpo golpeado, porém na alma, estou muito contente por sofrer estas coisas, só porque temo o Senhor”.

Conta-se também que uma mãe e sete filhos recusaram a comer carne de porco. Por esse crime foram levados à presença do rei, que os mandou espancar a todos. Entregaram-se ao martírio confiantes no Senhor.

Se fôssemos narrar todos os crimes de Antíoco, teríamos assunto para milhares de páginas. Muitos judeus se acomodaram às circunstâncias, voltaram suas costas a Deus e inclinaram-se ao culto pagão; no entanto, na sua maioria, os judeus permaneceram fiéis ao Senhor; foram ao sacrifício, ao martírio, mas sempre com sua fé brilhando mais.

É lamentável ouvir palavras preconceituosas como estas do historiador romano Públio Cornélio Tácito:
Durante o domínio sírio, medo e persa, os judeus foram os mais abjetos dos súditos. Depois de terem os macedônios alcançado a supremacia do Oriente, o rei Antíoco esforçou-se por tirar-lhes a superstição e introduzir os costumes gregos, entretanto, a guerra com os partos impediu-lhe reformasse esse repulsivo povo.

Diante desse tétrico quadro, nessas circunstâncias, nessa escravidão, que deveriam fazer os judeus? Defender-se. Foi exatamente o que fizeram.


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