segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Benefícios de falar em Línguas: Sensibilidade Espiritual


Por Luciano Subirá


"SENSIBILIDADE ESPIRITUAL"



   Orar em línguas é um verdadeiro exercício espiritual. Quanto mais praticamos, mais sensibilidade adquirimos quanto ao nosso próprio espírito, uma vez que a oração em línguas é o nosso espírito orando. Como está escrito: "Porque se eu orar em língua, o meu espírito ora..." (I Co.14:14).

   Precisamos compreender mais acerca do papel do nosso próprio espírito dentro da vida cristã. Em razão disto, antes de falar sobre o lado prático de como as línguas geram esta sensibilidade interior, quero estabelecer alguns conceitos sobre o espírito humano e sua importância.

ESPÍRITO, ALMA, E CORPO

   O homem foi criado por Deus como um ser tripartido. Nossa constituição é esta: espírito, alma e corpo. As Escrituras, ao mencionarem estas três partes distintas, referem-se a elas como se tratando do nosso ser inteiro, da nossa plenitude.

   "E o próprio Deus de paz vos santifique completamente; e o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" I Tessalonicenses 5:23.

   Atente para o termo "completamente". Para o escritor a santificação completa é a conservação irrepreensível das três partes. Mas as Escrituras fazem clara distinção entre espírito e alma; de fato, ambos compõem aquilo que chamamos de "homem interior" (II Co.4:16), mas são distintos entre si; há um versículo que traz mais luz acerca desta diferença, e convém observá-lo:

   "Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração". Hebreus 4:12.

   Nosso texto diz que a Palavra penetra até a DIVISÃO de alma e espírito; logo, há divisão entre um e outro; não são a mesma coisa. Contudo, apesar desta divisão, parece-nos que os dois estão bem próximos, juntos. Tanto, que só a Palavra de Deus, como espada afiada que é, pode separa-los. Na prática diária da vida cristã, a maioria dos crentes sabe muito bem quão difícil é separar o que é alma do que é espírito, mas que são distintos, são! Isto é inegável.

   Na Bíblia lemos que o novo-nascimento é o nascer do espírito (Jo.3:6). Isto é algo que se dá instantaneamente. Contudo, escrevendo à pessoas que já haviam experimentado a salvação de Deus em seu espírito (TG.1:18 e I Pe.1:3), Tiago e Pedro falaram da "salvação da alma" como algo que acontece posteriormente ao novo-nascimento do espírito (Tg.1:21 e I Pe.1:19). Portanto, assim como a salvação da alma acontece como um processo de restauração pela Palavra de Deus, a regeneração do espírito acontece instantaneamente na ocasião do novo-nascimento. Se o espírito e a alma fossem uma coisa só, certamente não haveria esta distinção na forma como a redenção de Cristo alcança cada um.

SANTUÁRIO DE DEUS

   Somos santuário de Deus, como diz o Novo Testamento: "Não sabeis vós que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?" (I Co.3:16).

   No passado, Deus ordenou que lhe construíssem um santuário com detalhes que Ele mesmo havia dado, e sob a direção de Moisés, o povo de Israel o fez. Mais tarde, Davi o restaurou e introduziu nele o ministério de louvor; e na geração seguinte, seu filho Salomão construiu um magnífico templo em lugar da tenda do tabernáculo. Mas quando o povo israelita foi levado em cativeiro para a Babilônia, o templo foi demolido e queimado, e somente depois de regresso da nação nos dias de Esdras e Neemias é que foi reconstruído.

   Nas quatro vezes, seguiu-se a direção inicial que o Senhor havia dado a Moisés, e a Casa do Senhor sempre teve três ambientes distintos onde os sacerdotes serviam: o Santo dos Santos, o Lugar Santo, e o Átrio Exterior. Logo, podemos dizer que o santuário sempre foi tripartido.

   No Novo Testamento vemos uma nova ênfase quanto ao santuário de Deus, e ela já não tem mais nada a ver com os templos construídos. Na sua última pregação, Estevão declarou: "Mas o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens..." (At.7:48), e antes de tornar-se o primeiro mártir da Igreja, depositou esta mensagem no coração de seu perseguidor, que mais tarde viria a escrever que o santuário de Deus somos nós!

   A Igreja em seu início compreendia isto. Quando Jesus bradou na cruz "está consumado!", o véu do templo se rasgou de alto a baixo. A partir deste momento a presença de Deus deixou de estar restrita ao templo e o Pai veio fazer morada em nós, os nascidos de novo.

   E como santuário de Deus, também somos tripartidos, à semelhança dos santuários do Velho Testamento que eram figura do santuário da Nova Aliança em Jesus. Cada uma das três partes do santuário corresponde às nossas três partes: espírito, alma e corpo.

   Olhando o tabernáculo pelo lado de fora, via-se apenas duas partes: a coberta e a descoberta, sendo que a parte coberta era a tenda da revelação e a parte descoberta o átrio exterior. Mas ao entrar na tenda, percebia-se que havia dois ambientes totalmente distintos e separados por um véu: o Santo Lugar e o Santo dos Santos (Hb.9:1-3).

   Ou seja, olhando apenas de modo superficial, parecia um só ambiente, mas num exame cuidadoso apareciam os dois ambientes. De forma semelhante, ao olhar superficialmente o santuário de Deus hoje (que somos nós), pode-se ver apenas duas partes: o homem interior e o homem exterior. Mas um exame das Escrituras (e no nosso próprio íntimo) revelará que a "tenda" do homem interior se subdivide em outras duas partes, separadas apenas por um véu. O homem interior é composto de espírito e alma!

   O espírito corresponde ao Santo dos Santos, o lugar mais íntimo, onde se encontrava a presença de Deus e também onde Ele falava. A alma corresponde ao Lugar Santo, e o corpo ao Pátio, ou Átrio Exterior.

   A importância de examinarmos estas figuras é compreender que assim como o Santo dos Santos era o lugar mais importante do tabernáculo, assim também o nosso espírito é hoje o lugar "mais importante" do santuário que somos nós! Precisamos tomar consciência do valor do nosso espírito na vida cristã.

O LUGAR ONDE DEUS FALA

   Naquela ocasião em que Deus falou com Moisés mandando-o construir a arca, disse que o propiciatório deveria ser feito com vários detalhes que Ele mesmo deu. E então afirmou: "ali virei a ti e falarei contigo"(Ex.25:22). Era, portanto, no Santo dos Santos, lugar da arca, que Deus falava.

   E hoje, na Nova Aliança?

   O Senhor continua falando no lugar mais íntimo do santuário, onde está sua santa presença, e este lugar em nós que corresponde ao Santo dos Santos é o nosso espírito. Paulo mencionou isto ao escrever aos irmãos de Roma:

   "Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus". Romanos 8:14.

   O Espírito Santo nos guia... Como? Dois versículos depois já encontramos a resposta:

   "O Espírito mesmo testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus". Romanos 8:16.

   A direção do Espírito vem através de um TESTIFICAR (testemunhar) no nosso próprio espírito; este é o lugar onde Deus fala.

   "O Espírito do homem é a lâmpada do Senhor, a qual esquadrinha todo o mais íntimo do coração". Provérbios 20:27.

   O Pai Celeste tem uma lâmpada em nós: nosso espírito. Contudo, muitos de nós, por não desenvolvermos a sensibilidade de nosso próprio espírito, ficamos sem ouvir a voz de Deus. Muitas vezes Deus quer falar conosco através de um testemunho interior, mas nem sequer percebemos que Ele está querendo nos dirigir.

   É claro que o Senhor fala de muitas maneiras, inclusive espetaculares, como sonhos, visões, profecia, e outras, mas a forma comum de falar conosco é mediante o testemunho de nosso próprio espírito.

ATÉ COM JESUS

   Ao se fazer homem, o Senhor Jesus esvaziou-se de sua glória (Fl.2:5-8), bem como de alguns atributos da divindade. O Mestre não estava em vários lugares ao mesmo tempo, pois era limitado pelo corpo; portanto, mesmo como Deus, viveu na terra sem lançar mão da onipresença.

   Também viveu sem fazer uso da onipotência, pois precisou do poder do Espírito para fazer a obra que fez. E ele também limitou-se a crescer em sabedoria e quando revelava segredos e pensamentos dos corações dos homens, precisava ouvir o Espírito Santo, pois não se movia na onisciência mas sim na dependência do Espírito.

   Jesus viveu como um homem cheio do Espírito Santo, e é por isso que podemos imitá-lo; se ele tivesse andado nesta terra como Deus (entenda-se: usando tais atributos da divindade), jamais poderia dizer que faríamos as mesmas obras que fez e até maiores! Mas ele dependia do Espírito Santo... e sabe onde o Espírito falava com ele? No mesmo lugar que fala conosco: em nosso espírito. Veja o relato do evangelho:

   "Mas Jesus logo percebeu em seu espírito que eles assim arrazoavam dentro de si, e perguntou-lhes: Por que arrozais desse modo em vossos corações?" Marcos 2:8.

   Os fariseus estavam apenas pensando, e o Espírito Santo transmitiu uma informação ao espírito de Jesus (como homem) do que aqueles homens cogitavam em seu íntimo, pois é exatamente assim que Deus fala com o homem.

   Temos em Jesus o exemplo perfeito de uma vida no Espírito; se com ele Deus falava assim, não espere nada diferente; algo distinto desta forma de Deus falar pode nos ocorrer ocasionalmente, mas o dia-a-dia será marcado pelo testemunho do Senhor em nosso espírito.

   Nas vezes em que uso o termo "o Espírito Santo fala", não me refiro a uma voz audível. Às vezes Ele fala assim, mas na maioria das ocasiões é apenas um testificar interior. Por exemplo, como podemos saber que somos filhos de Deus? A Bíblia diz que é o Espírito Santo que testifica, testemunha com nosso espírito que de fato o somos. E como se dá esta testificação? Simplesmente sabemos que somos filhos; algo em nós o diz. É uma certeza no coração e não na mente; não se trata de ser convencido pela razão, mas de ter uma convicção interior.

   Considere uma outra área de atuação do Espírito Santo, que é trazer a revelação da Palavra de Deus a cada um de nós. Como Ele faz isto? As Escrituras respondem:

   "Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente". I Coríntios 2:14.

   Gosto da versão da Bíblia de Jerusalém, que em lugar da expressão "homem natural" traduz "homem psíquico". Ou seja, o homem não pode compreender as coisas de Deus com seu psique, pois elas se discernem com o espírito; é no nosso próprio espírito que o Espírito Santo ensina as coisas espirituais, e não na nossa mente (I Co.2:15). Percebemos mais uma vez, portanto, qual é o lugar onde Deus fala, seja por um testificar ou por revelação da Palavra: o nosso espírito.

EXERCITANDO O ESPÍRITO

   Muitos de nós já aprendemos que é possível exercitar o corpo e até a alma (mente). Assim como exercitamos o corpo com ginástica, nossa mente também é exercitada mediante a prática da leitura, cálculo, jogos, etc. Mas e o espírito? Pode ser exercitado?

   Ora, se corpo e alma se exercitam, porque não o espírito? Certamente que sim!

   Nossa dificuldade em ouvir Deus começa na insensibilidade do nosso espírito. E a razão de nosso espírito permanecer insensível deve-se ao fato de o usarmos muito pouco. Mas à medida em que praticamos a oração em línguas, uma nova sensibilidade surgirá. Nas minhas experiências no sentido de ouvir Deus, percebo que houve crescimento à medida em que o tempo que eu gastava orando em línguas também crescia.

   Quando você está orando em línguas, é seu espírito falando e não sua mente. E o que acontece, se por exemplo você ora duas horas ininterruptas na linguagem do Espírito? Seu espírito terá duas horas de exercício, de atividade intensa e você estará mais consciente dele.

   O que acontece conosco se não exercitarmos o corpo? Nossos músculos certamente atrofiarão se não houver exercício físico algum. Recordo-me de certa ocasião na minha adolescência, em que caí de bicicleta e trinquei a rótula do joelho esquerdo; foi necessário passar mais de um mês com a perna imobilizada, e ao fim deste período quando o gesso foi tirado, a perna não dobrava. Levei um bom tempo exercitando-me aos poucos para poder recuperar o movimento e liberdade necessária para voltar às atividades físicas. Isto é atrofia.

   Com nosso homem espiritual não é diferente; também existe atrofia espiritual. Assim como a diferença entre o físico de um atleta em constante preparo é gritante em relação ao de alguém que veio a conhecer a atrofia, também no reino espiritual há "atletas espirituais" em constante exercício e gozando de boa forma, e há aqueles atrofiados que nunca ouvem o Senhor em nada.

   Sei que para muitos é estranho quando falamos sobre ouvir Deus em nosso espírito, uma vez que, na prática, não possuem nenhum referencial do que é isto. Mas nunca exercitaram seu espírito e de repente querem ser atletas espirituais! Isto é muito difícil, pois a sensibilidade é algo que se adquire gradualmente; a atrofia só será removida mediante fisioterapia; lenta e progressivamente.

   Às vezes, alguns irmãos me perguntam como consigo memorizar versículos e textos bíblicos, como se fosse necessário aprender alguma fórmula; mas a verdade é que eu não me esforço para isto. Sempre investi na leitura, de modo que tenho facilidade para memorizar o que leio, devido ao contínuo exercício nesta área.

   Há pessoas que tem grande habilidade com números e cálculos; outros, com certos jogos e raciocínios. Mas o fato é que com tempo e prática cada um exercita sua mente naquilo em que se dedica. Com isso quero exemplificar que com nosso espírito não é diferente; podemos torná-lo mais sensível e consciente através da prática do falar em línguas.

   A leitura e meditação na Palavra também tem o seu lugar no fortalecimento do espírito, pois é o alimento espiritual indispensável para a boa saúde e vigor. Contudo, um atleta não adquire um bom físico apenas se alimentando e tomando vitaminas; é necessário combinar isto ao exercício. Semelhantemente, devemos nos alimentar (MUITO) na Palavra, mas também exercitar nosso espírito.

REFRIGÉRIO ESPIRITUAL

   Quando estamos falando em línguas, nosso espírito está em plena atividade, e além de se exercitar, está também sendo ministrado por Deus, o que ajuda-o a tornar-se mais consciente de Deus e seu agir. Há momentos em que provaremos de grande refrigério espiritual, o que nos fará compreender melhor o que é o nosso próprio espírito.

   Aos 13 anos de idade, no ano de 1957, Thomas Wilkins subia um monte com um primo seu no Parque da Sequoia, no Estado da Califórnia, nos Estados Unidos. Em certo momento, escorregou e veio a cair em certa planta, conhecida naquele lugar como "Iucca".

   Sentiu quando as pontas espinhosas das folhas espetaram em um dos seus joelhos, vindo a perder imediatamente o uso da perna; logo, dores terríveis começaram a envolve-lo, mas como estivesse mais próximo do topo, julgou mais prudente terminar de subir do que tentar descer.

   Chegando ao topo, encostou-se em uma pedra, tendo diante de si uma pirambeira; percebeu que as dores aumentaram e parecia que todo o corpo sentia espetadas que iam intensificando-se mais e mais, até que o estômago e a visão começaram a girar enquanto seus olhos se escureciam aos poucos. Neste instante tentou pedir ajuda ao primo, mas nem sequer conseguia falar pois o corpo afetado pelo veneno da planta encontrava-se totalmente paralisado.

   Decidiu então orar a Deus, clamando pela intervenção divina, mas apesar de não ter perdido a consciência e nem a memória, sua mente encontrava-se impossibilitada até mesmo de articular pensamentos, como se algo a paralisasse e confundisse.

   Ocorreu-lhe então, que a Bíblia diz que ao orarmos em línguas, o espírito é que ora enquanto a mente fica infrutífera, e assim apelou para o uso da linguagem sobrenatural de oração do Espírito Santo, começando a orar interiormente em línguas. E conserva viva na memória ainda hoje, a lembrança de que naquele momento chegou a emocionar-se ao perceber que as línguas fluíam desimpedidamente de seu espírito enquanto a mente nem sequer conseguia funcionar..

   Enquanto orava desta maneira, ouviu uma voz que lhe mandava caminhar; tomar o passo. A princípio relutou e continuou a orar, pois achava que não conseguiria dar o passo justamente com a perna ferida; foi então que tudo escureceu completamente e ele notou que estava prestes a cair Naquela hora a voz falou-lhe segunda vez para que tomasse o passo, e ele obedeceu a ordem recebida. Apesar da paralisia sua perna respondeu ao seu comando e ele caminhou até próximo do primo, onde deitou-se e permaneceu orando em línguas.

   Logo, uma sensação de refrigério começou em todo seu corpo que até então parecia arder em febre. Este refrigério vinha do topo da cabeça em direção aos pés, como uma linha que ia descendo. Quando começou, a mente voltou ao normal; ao passar pelos olhos, a visão foi restaurada; quando passou pela boca, a voz retornou deixando sua oração audível, e à medida que descia, o corpo ia sendo curado; tendo chegado aos pés, encontrava-se totalmente são e pode descer do monte sem precisar de ajuda. Glória a Deus!

   Após ter concluído seu relato, perguntei a este amoroso pastor o que esta experiência significava para ele, e sua resposta não poderia ser outra, a não ser citar o profeta:

   "Na verdade por lábios estranhos e por outra língua falará o Senhor a este povo; ao qual disse: Este é o descanso, daí descanso ao cansado; e este é o refrigério; mas não quiseram ouvir." Isaías 28:11,12.

   Lendo este texto de Isaías sozinho, não aplicaríamos o falar em línguas a ele, mas ao observar que Paulo o cita no Novo Testamento em referência às línguas, temos que reconhece-lo como diretamente ligado ao assunto. E a afirmação do profeta é que há um descanso e um refrigério para o cansado. Israel não experimentou esta promessa no nível em que a podemos desfrutar hoje, pois não havia a manifestação do falar em línguas naquela época. Esta é uma profecia de dupla-referência que se cumpre hoje na vida da Igreja (o Israel espiritual) em um nível mais profundo.

   Todos temos que admitir que há momentos em que nos cansamos e precisamos de socorro. Quando se trata de cansaço físico, uma boa dose de repouso é o remédio certo; mas há um outro tipo de cansaço, ao qual Jesus se referiu como sendo o "cansaço de alma" (Mt.11:29), e para este tipo não há repouso que chegue, é necessário um outro remédio, o refrigério que vem de Deus.

   Lembre-se que o Espírito Santo é o Ajudador, o Consolador. E a idéia implícita no título que ele possui, é a de que PRECISAMOS DA SUA AJUDA! Não só no sentido de realizarmos em sociedade a obra de Deus, mas também - e principalmente - nos momentos onde encontramo-nos fracos, abatidos e impotentes. Sou grato a Deus pelas muitas vezes em que tenho provado este refrigério! Naquelas ocasiões em que sinto o mesmo impulso que Elias teve de ir e esconder-se numa caverna, sei que é necessário gastar tempo falando em línguas, permitindo assim que o Espírito Santo traga o seu descanso.

O DESGASTE DA BATALHA

   Super-herói espiritual não existe, pois todos nos cansamos; temos limites. Embora inicialmente apresentemos relativa dificuldade para aceitar, o tempo e a experiência nos mostram que isto é um fato, e ocorrerá a cada um de nós aquele momento de desgaste, principalmente após as batalhas e ministrações a outras pessoas. Mesmo ministrando no Espírito, nos cansamos. Não sentimos enquanto estamos sob a unção, mas quando ela se vai; é aí que percebemos o quão limitados somos!

   Há um exemplo na Bíblia que se enquadra perfeitamente neste contexto, o de Sansão. Observe o que ocorreu com ele numa ocasião em que experimentou poderosa manifestação de Deus:

   "Quando ele chegou a Leí, os filisteus lhe saíram ao encontro, jubilando. Então o Espírito do Senhor se apossou dele, e as cordas que lhe ligavam os braços se tornaram como fios de linho que estão queimados do fogo, e as suas amarraduras se desfizeram das suas mãos.

   E achou uma queixada fresca de jumenta e, estendendo a mão, tomou-a e com ela matou mil homens. Disse Sansão: Com a queixada de um jumento, montões e mais montões! Sim, com a queixada de um jumento matei mil homens.

   E acabando ele de falar, lançou da sua mão a queixada, e chamou-se aquele lugar Ramá-Leí." Juizes 15:14-17.

   É importante lembrar que Sansão não possuía nenhuma força descomunal, a não ser quando o Espírito de Deus se apossava dele; salvo estas ocasiões, era um homem normal. E depois de ter sido usado assim pelo Senhor, a unção se retirou dele, mas deixou um saldo de grande desgaste. Ou seja, a força não era dele, mas o corpo sim; e quando a força se foi, ficou o cansaço.

   Muitas vezes experimentamos isto; depois de vencermos o inimigo externo, descobrimos que não podemos lidar com a nossa própria limitação! Foi o que ocorreu com o juiz israelita:

   "Depois, como tivesse grande sede, clamou ao Senhor, e disse: Pela mão do teu servo tu deste este grande livramento; e agora morrerei eu de sede, e cairei nas mãos destes incircuncisos? Então o Senhor abriu a fonte que está em Leí, e dela saiu água; e Sansão, tendo bebido, recobrou alento, e reviveu; pelo que a fonte ficou sendo chamada En-Hacore, a qual está em Leí até o dia de hoje." Juizes 15:18,19.

   O corpo de Sansão quase sucumbiu, pois o esforço de matar (e empilhar) mil homens foi grande! A Bíblia diz que o desgaste foi tamanho que ele quase morreu de sede. Mas aprendemos uma tremenda lição com este ocorrido.

   Existem dois níveis de unção: a externa e a interna.

   A unção externa é aquela onde o Espírito Santo vem SOBRE nós e nos leva a fazer algo para Deus. Jesus disse: "O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para..." e então segue-se uma lista das coisas que esta unção sobre ele o levaria a fazer para Deus (Lc.4:18).

   A unção interna é aquela onde o Espírito Santo flui EM (dentro) nós, e Deus é que faz algo por nós. João escreveu em sua epístola acerca da unção que recebemos do Santo, que FICA EM NÓS e nos ensina todas as coisas (I Jo.2:27).

   Em suma: com um tipo de unção fazemos algo para Deus, com outro Deus é que faz para nós... Sansão descobriu que experimentar somente a unção externa, e vencer o inimigo, não é suficiente. Pois para vencer o desgaste resultante da batalha (a sede que quase o matou), é preciso uma fonte; e isto fala da unção interior que refrigera.

A FONTE DO QUE CLAMA

   A fonte que Deus abriu ganhou um nome: En-Hacore. Significa: "a fonte do que clama". Pois foi em oração que Sansão a alcançou. Semelhantemente, cada um de nós também precisa desta fonte que só se experimenta mediante oração, refrigerando-nos e dando-nos descanso quando encontramo-nos cansados da batalha.

   Uma das figuras do Espírito Santo na Bíblia, é a de uma fonte:

   "Ora, no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim e beba.

   Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva.

   Ora, isto ele disse a respeito do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito ainda não fora dado, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado." João 7:37-39.

   Somos convidados por Jesus a beber de uma fonte que sacia a nossa sede. Esta fonte é o bendito Espírito Santo; e observe o detalhe: "flui do nosso interior". Não é nada mais nada menos que a unção interior.

   Deus abriu aquela fonte em Leí porque Sansão orou; e abrirá em nossas vidas quando orarmos. Mas se orarmos EM LÍNGUAS, não só experimentaremos o mesmo que Sansão, encontrando alento e refrigério, mas também nos enquadraremos na profecia de Isaías que relaciona o falar em línguas com o descanso e refrigério.

   E mais: Jesus falou sobre um saciar da sede bebendo de um rio que jorra do íntimo de cada um de nós. A Bíblia diz que a água flui de nosso interior; e eu pergunto: por onde jorra? Por nossos lábios, quando falamos em línguas!

   A linguagem sobrenatural de oração do Espírito Santo é a única coisa em nossa vida cristã, que é do Espírito Santo, flui por nossas bocas, sacia-nos a sede!

   Exercite pacientemente seu espírito, dia após dia, mediante o falar em línguas e as mudanças se manifestarão, e somado a elas, sempre que necessário, também o refrigério espiritual.



Extraído do Livro "Falar em Línguas: A Linguagem sobrenatural da oração"

4 comentários:

  1. Que irado este texto! Jesus, sendo Deus não se movia na onisciência mas na dependência! E quantas vezes nós achamos que sabemos de tudo...
    Parabéns Daniel!

    ResponderExcluir