quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Quão bom deve ser o homem para entrar no céu?


 Mateus 5:17-20

Quão bom deve ser o homem para entrar no céu? Ninguém é tão depravado ao ponto de pensar que os maus irão para o céu. Reconhecemos instintivamente que o céu está reservado para os bons. A pergunta não é, pois: Os maus vão para o céu? e, sim: Quão bons devem ser os bons para entrar no céu?

Com essa pergunta defrontou-se nosso Senhor quando falava à multidão reunida para ouvi-lo:

"Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas: não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: Até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus" (Mateus 5:17-20).

Jesus Cristo foi apresentado à nação de Israel como seu Messias, Salvador e Rei. João Batista apresentou-o como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, o Salvador. Também anunciou que o reino dos céus estava próximo. Jesus era o Soberano. Quando alguém se candidata a um cargo, desejando ganhar o favor daqueles sobre os quais espera ter autoridade, faz toda sorte de promessas. Na época de eleições há um dilúvio de promessas; as pessoas geralmente votam no candidato que faz as promessas mais eloqüentes. Mas Jesus, ao apresentar-se como Rei, não procurou que os homens o recebessem como tal mediante grandiosas promessas, nem prometendo-lhes um caminho fácil. Pelo contrário, ele inverteu o costume universal dos que desejam eleger-se. Em vez de facilitar as coisas, ele as dificultou, quando disse: "Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas: não vim para revogar, vim para cumprir." Cristo não exigiu menos do que a lei; exigiu tudo quanto a lei requeria.

Tiago, que entendia a lei com muita clareza, fez uma declaração resumida do que ela exigia: "Pois, qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos" (Tiago 2:10). A lei exigia obediência absoluta, perfeita. Se alguém guardava toda a lei, mas violava um ponto mínimo, aos olhos da lei ele era culpado, e merecia ser sentenciado. A lei demandava perfeição absoluta.

Os judeus, ao se dirigirem ao Senhor Jesus, a fim de ouvirem as suas palavras, já tinham conhecimento das exigências da lei. Condenados e convictos à luz de tais exigências, buscavam uma via de escape. Esperavam que Jesus pusesse a lei de lado, bem como a santidade e a perfeição que ela requeria; esperavam que ele apresentasse um substitutivo, um acesso mais fácil à presença de Deus.

Tivesse Jesus posto de lado aquilo que eles não podiam realizar e lhes oferecido um acesso mais fácil à presença de Deus, de bom grado o teriam aceito. Porém nosso Senhor disse: "Não vim para revogar nada do que a lei exige. Vim para exigir que a lei seja cumprida em todos os seus aspectos." E disse mais: 'Até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra."

O Senhor estava usando uma figura muito conhecida da língua hebraica ou aramaica. A menor letra do alfabeto hebraico, feita com um só golpe da pena, era o yod, ou o jota. Assim, nem uma letra de uma palavra deixará de ser cumprida. Para tornar a expressão mais vivida, nosso Senhor disse: "Nem um til jamais passará da lei." Duas letras do alfabeto hebraico são idênticas na forma, exceto que uma delas tem uma projeção minúscula usada na formação da letra. Em vez de a letra começar na linha perpendicular, ela começa ligeiramente para a esquerda, cruzando a linha perpendicular. Essa projeção minúscula chama-se til. Portanto, nosso Senhor disse, não somente que nenhuma letra da lei ficará sem ser cumprida, mas também que nem mesmo uma parte quase imperceptível de uma letra ficará sem cumprimento. Essas exigências são dele.

Voltemos ao Antigo Testamento e vejamos o caráter fundamental da lei, o seu propósito. "Então Josué disse ao povo: Não podereis servir ao Senhor, porquanto é Deus santo, Deus zeloso, que não perdoará a vossa transgressão nem os vossos pecados" (Josué 24:19). Ana orou: "Não há santo como o Senhor" (1 Samuel 2:2). Levítico 21:8 diz: "Portanto o consagrarás, porque oferece o pão do teu Deus. Ele [o sacerdote] vos será santo, pois eu, o Senhor que vos santifico, sou santo." O clamor dos anjos em Isaías 6:3: "Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos", é revelado aos homens através da lei.

Todos os seres angélicos contemplam a santidade de Deus-, mas os homens caídos, pecaminosos, devido à sua cegueira e separação, não podem contemplá-la sem que ela os consuma. Portanto, Deus revelou sua santidade refletindo-a num espelho. A lei foi esse espelho que protegia os homens de serem consumidos pelo brilho da glória divina. Mediante a revelação da lei, a humanidade saberia que Deus é santo. O pecado é pecado, não meramente porque causa dano à sociedade, ou a um de seus membros, ou ao que o comete. O pecado é pecado porque não se assemelha à santidade de Deus. Paulo define-o em Romanos 3:23: "Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus", isto é, da glória de sua santidade. Tudo quanto não se assemelha à santidade de Deus é pecado. Visto que os homens vêem apenas o reflexo da glória divina e têm somente um reflexo de sua santidade, fez-se necessário que Deus lhes dissesse qual deveria ser a sua conduta. De modo que a lei revelou não somente a santidade divina mas também as exigências de um Deus santo aos que desejam andar em comunhão com ele.

O farisaísmo era um sistema inteligente criado para burlar as exigências da santidade de Deus e as demandas da lei. Os fariseus tinham a lei nas mãos. Conheciam a santidade divina ali revelada. Conheciam as exigências divinas tocantes à conduta dos justos, mas admitiam não poder atingir esse padrão. Portanto, imaginaram um sistema que, em essência, burlava as exigência da lei, possibilitando aos homens atingir um conjunto de padrões substitutivos. Diziam os fariseus que se alguém vivesse segundo a interpretação que eles davam à lei, seria aceitável a Deus.

Os fariseus haviam codificado as Escrituras em 365 mandamentos negativos e 250 positivos, e ensinavam que aqueles que observassem esses mandamentos, seriam aceitáveis aos olhos de Deus. Todavia, todos esses mandamentos relacionavam-se com a conduta exterior. A preocupação deles era com os atos externos. Interpretavam a lei de Deus para aplicá-la somente aos atos exteriores e nunca aos pensamentos que os geravam. Diziam ser errado assassinar, mas nada diziam sobre o ódio que produz o homicídio. Diziam ser errado cometer adultério, mas nada sobre a luxúria que causa o adultério. Diziam ser errado furtar, mas nada diziam sobre a cobiça que leva o homem ao furto. Enquanto a pessoa não fosse apanhada em algum delito, ela seria justa aos olhos dos fariseus.

Tal sistema deixa muito a desejar quanto às exigências da santidade divina. A nação gemia sob a tradição dos fariseus e não se julgava à altura nem mesmo da interpretação que eles davam à lei. O povo buscava alguém que o livrasse do peso do sistema farisaico. Apegando-se às palavras de Cristo, esperavam que ele os livrasse da responsabilidade de estarem à altura das tradições farisaicas e das invioláveis demandas da lei, e assim Deus os aceitasse como eram.

Jesus mostrou que o sistema dos fariseus é contrário à Palavra de Deus. E deu um exemplo específico: "Pois Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe, e: Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe, seja punido de morte. Vós, porém, dizeis: Se um homem disser a seu pai ou a sua mãe: Aquilo que poderias aproveitar de mim é Corbã, isto é, oferta para o Senhor, então o dispensais de fazer qualquer coisa em favor de seu pai ou de sua mãe, invalidando a palavra de Deus pela vossa própria tradição que vós mesmos transmitistes; e fazeis muitas outras coisas semelhantes" (vv. 10-13). Segundo a lei de Moisés, quando o pai ou a mãe envelhecia e adoecia, não podendo prover para seu próprio sustento, cabia aos filhos a responsabilidade de sustentá-los. Era uma responsabilidade de origem divina. O sustento dos pais custava dinheiro. Os fariseus, amantes do dinheiro, não desejavam contribuir para o sustento dos pais segundo suas necessidades, como exigia a lei; daí que o farisaísmo inventou um meio de burlar a lei.

Reunidas aqui para ouvir a palavra do Senhor estavam pessoas que admitiam sua culpa, sua impureza aos olhos de Deus; confessavam sua incapacidade de corresponder aos padrões de santidade divina, mas buscavam uma saída fácil, na esperança de que Cristo lhes oferecesse tal saída. Cristo disse-lhes que a justiça dos fariseus nunca os conduziria à presença de Deus. De acordo com o padrão de bondade do mundo, teríamos de admitir que os fariseus eram homens bons, de boa conduta, morais, retos, religiosos. Mas Cristo disse: "Se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus."

Até que ponto alguém precisa ser bom para ser aceito? "Nem um i ou um til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra." Nosso Senhor estava dizendo que para ser aceito no céu é preciso ser tão bom como a santidade de Deus revelada na lei. O homem precisa ser bom como Deus, para ir para o céu.

Permanecemos culpados e condenados perante Deus, a menos que guardemos toda a lei. Mas, pela graça divina, mediante a morte de Jesus Cristo, foi provida a justiça para os pecadores. Foi derramado sangue para lavar a mancha do pecado. A justiça comunicada faz o homem tão justo quanto Jesus Cristo, de modo que um Deus santo pode olhar para aquele que permanece em Cristo, e dizer: "Esse me é aceitável." Agradáveis a si no Amado. Não há, no evangelho, expressão maior do que essa. Um Deus santo e justo nos fez agradáveis para estarmos em sua presença.

Os fariseus, reconhecendo a necessidade de justiça, buscaram provê-la por meio das obras. Falharam. Cristo rejeitou-os, bem como à sua justiça. Só lhes restava uma alternativa: receber a justiça do Senhor. Hoje os homens se defrontam com as mesmas alternativas. Ou providenciam justiça por si mesmos, o que ninguém está em condições de fazer, ou recebem-na como um dom do Senhor Jesus Cristo. Quão trágico é cair no caminho dos fariseus quando temos ao nosso dispor o caminho da vida!

J. Dwight Pentecost - O Sermão da Montanha


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