segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Seguindo a Deus de perto


Livro - À procura de Deus
A. W. Tozer 


A doutrina da justificação pela fé — uma verdade bíblica, e uma benção que nos liberta do legalismo estéril e de um inútil esforço próprio — em nosso tempo tem-se degenerado bastante, e muitos lhe dão uma interpretação que acaba se constituindo um obstáculo para que o homem chegue a um conhecimento verdadeiro de Deus. O milagre do novo nascimento esta sendo entendido como um processo mecânico e sem vida. Parece que o exercício da fé já não abala a estrutura moral do homem, nem modifica a sua velha natureza. É como se ele pudesse aceitar a Cristo sem que, em seu coração, surgisse um genuíno amor pelo Salvador. Contudo, o homem que não tem fome nem sede de Deus pode estar salvo? No entanto, e exatamente nesse sentido que ele é orientado: conformar-se com uma transformação apenas superficial.

Os cientistas modernos perderam Deus de vista, em meio às maravilhas da criação; nós, os crentes, corremos o perigo de perdermos Deus de vista em meio as maravilhas da sua Palavra. Andamos quase inteiramente esquecidos de que Deus é uma pessoa, e que, por isso devemos cultivar nossa comunhão com Ele como cultivamos nosso companheirismo com qualquer outra pessoa. É parte inerente de nossa personalidade conhecer outras personalidades, mas ninguém pode chegar a um conhecimento pleno de outrem através de um encontro apenas. Somente após uma prolongada e afetuosa convivência é que dois seres podem avaliar mutuamente sua capacidade total.

Todo contato social entre os seres humanos consiste de um re conhecimento de uma personalidade para com outra, e varia desde um esbarrão casual entre dois homens, ate a comunhão mais intima de que e capaz a alma humana. O sentimento religioso consiste, em sua essência, numa reação favorável das personalidades criadas, para com a Personalidade Criadora, Deus. "E a vida eterna e esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste."

Deus e uma pessoa, e nas profundezas de sua poderosa natureza ele pensa, deseja, tem gozo, sente, ama, quer e sofre, como qualquer outra pessoa. Em seu relacionamento conosco, ele se mantém fiel a esse padrão de comporta-mento da personalidade. Ele se comunica conosco por meio de nossa mente, vontade e emoções. O cerne da mensagem do Novo Testamento e a comunhão entre Deus e a alma remida, manifestada em um livre e constante intercambio de amor e pensamento.

Nós somos em miniatura, (excetuando os nossos pecados) aquilo que Deus e em forma infinita. Tendo sido feitos a sua imagem, temos dentro de nos a capacidade de conhecê-lo. Enquanto em pecado, falta-nos tão-somente o poder. Mas, a partir do momento em que o Espírito nos revivifica, dando-nos uma vida regenerada, todo o nosso ser passa a gozar de afinidade com Deus, mostrando-se exultante e grato. Isso é este nascer do Espírito sem o qual não podemos ver o reino de Deus. Entretanto, isso não e o fim, mas apenas o começo, pois e a partir dai que o nosso coração inicia o glorioso caminho da busca, que consiste em penetrar nas infinitas riquezas de Deus. Posso dizer que começamos neste ponto, mas digo também que homem nenhum já chegou ao final dessa exploração, pois os mistérios da Trindade são tão grandes e insondáveis, que não tem limite nem fim.

Encontrar-se com o Senhor, e mesmo assim continuar a buscá-lo, e o paradoxo da alma que ama a Deus. E um sentimento desconhecido daqueles que se satisfazem com pouco, mas comprovado na experiência de alguns filhos de Deus que tem o coração abrasado.

Se examinarmos a vida de grandes homens e mulheres de Deus, do passado, logo sentiremos o calor com que buscavam ao Senhor. Choravam por ele, oravam, lutavam e buscavam-no dia e noite, a tempo e fora de tempo, e, ao encontrá-lo, a comunhão parecia mais doce, apos a longa busca. Moises usou o fato de que conhecia a Deus como argumento para conhecê-lo ainda melhor. "Agora, pois, se achei graça aos teus olhos, rogo-te que me facas saber neste momento o teu caminho, para que eu te conheça, e ache graça aos teus olhos" (Ex 33.13). E, partindo dai, fez um pedido ainda mais ousado: "Rogo-te que me mostres a tua gloria" (Ex 33.18). Deus ficou verdadeiramente alegre com essa demonstração de ardor, e, no dia seguinte, chamou Moises ao monte, e ali, em solene cortejo, fez toda a sua gloria passar diante dele.

A vida de Davi foi uma continua ânsia espiritual. Em todos os seus salmos ecoa o clamor de uma alma anelante, seguido pelo brado de regozijo daquele que é atendido. Paulo confessou que a mola-mestra de sua vida era o seu intenso desejo de conhecer a Cristo mais e mais. "Para o conhecer. . ." (Fp 3.10), era o objetivo de seu viver, e para alcançar isso, sacrificou todas as outras coisas. "Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus meu Senhor: por amor do qual, perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo" (Fp 3.8).

É uma tragédia que, nesta época de trevas, deixemos só para os pastores e líderes a busca de uma comunhão mais intima com Deus. Agora, tudo se resume num ato inicial de "aceitar" a Cristo (a propósito, esta palavra não e encontrada na Bíblia), e dai por diante não se espera que o convertido almeje qualquer outra revelação de Deus para a sua alma. Estamos sendo confundidos por uma lógica espúria que argumento que, se já encontramos o Senhor, não temos mais necessidade de buscá-lo. Esse conceito nos e apresentado como sendo o mais ortodoxo, e muitos não aceitariam a hipótese de que um crente instruído na Palavra pudesse crer de outra forma. Assim sendo, todas as palavras de testemunho da Igreja que significam adoração, busca e louvor, são friamente postas de lado. A doutrina que fala de uma experiência do coração, aceita pelo grande contingente dos santos que possuíam o bom perfume de Cristo, hoje e substituída por uma interpretação superficial das Escrituras, que sem dúvida soaria como muito estranha para Agostinho, Rutherford ou Brainerd.

Em meio a toda essa frieza existem ainda alguns — alegro-me em reconhecer — que jamais se contentarão com essa lógica superficial. Talvez até reconheçam a forca do argumento, mas depois saem em lagrimas a procura de algum lugar isolado, a fim de orarem: "Ó Deus, mostra-me a tua gloria." Querem provar, ver com os olhos do íntimo, quão maravilhoso Deus é.

Uma vida crista estagnada e infrutífera é resultado da ausência de uma sede maior de comunhão com Deus. A complacência é inimigo mortal do crescimento cristão. Se não existir um desejo profundo de comunhão, não haverá manifestação de Cristo para o seu povo. Ele espera que o procuremos. Infelizmente, no caso de muitos crentes, é em vão que essa espera se prolonga.

Na realidade, o que precisamos é de Deus mesmo. O hábito condenável de buscar "a Deus e . . . " é o que nos impede de encontrar ao Senhor na plenitude de sua revelação. E no conetivo "e" que reside toda a nossa dificuldade. Se omitíssemos esse "e", em breve acharíamos o Senhor, e nele encontraríamos aquilo por que intimamente sempre anelamos.

Não precisamos temer que, se visarmos tão-somente a comunhão com Deus, estejamos limitando nossa vida ou inibindo os impulsos naturais do coração. O oposto é que é verdade. Convém-nos perfeitamente fazer de Deus o nosso tudo, concentrando-nos nele, e sacrificando tudo por causa dele.

6 comentários:

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  2. Nossa, muito bom o texto!
    Brigada, vcs sao benção mesmo de longe... hehe
    Amo vcs!

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  3. Esse livro é mto bom !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Talvez um dos melhores que ja li...simples e profundo!!! Vale a pena nao só ler o texto como o livro todo !!!!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Encontro em alguns jovens da igreja mas , pricipalmente em Vcs; Daniel , Junior e Vanessa , exatamente o que esse texto diz:

    "Em meio a toda essa frieza existem ainda alguns — alegro-me em reconhecer — que jamais se contentarão com essa lógica superficial. Talvez até reconheçam a forca do argumento, mas depois saem em lagrimas a procura de algum lugar isolado, a fim de orarem: "Ó Deus, mostra-me a tua gloria." Querem provar, ver com os olhos do íntimo, quão maravilhoso Deus é."

    Vocês são a luz que iluminaram a escuração que me perseguia , busco me motivar em Deus todos os dias , e me inspirar em vcs .
    Que Deus use cada dia mais vocês , e mais que isso , que vendo o esforço de vcs, Deus revele os mistérios de sua divindade através de uma intimade profunda . E que isso recaia sobre mim para que eu possa servi-los assim como me for proposto desde o meu nascimento.

    Bjosss Amo vocês .

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